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ANÁLISE
Copo do ensino médio está vazando
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A explicação para a crise do
ensino médio, desta vez, não
poderá recair sobre os suspeitos habituais: pobres que, uma
vez incluídos, puxam as médias
para baixo por causa de seu nível socioeconômico.
Desde 2003, tanto o censo do
MEC quanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios,
do IBGE, indicam que as matrículas neste segmento estão estáveis -com viés de baixa- entre 8 e 9 milhões de alunos.
A estabilidade seria boa notícia caso estivéssemos próximos
da universalização do ensino
entre jovens. Mas, nos últimos
cinco anos com dados disponíveis, o percentual de brasileiros
entre 15 e 17 anos fora da escola
estacionou no inaceitável patamar de 18%.
Usa-se muito o batido clichê
do copo meio cheio e meio vazio na análise de quase todos os
indicadores brasileiros.
De fato, ver apenas o copo
meio vazio é injusto com um
país que, como o Unicef destaca
em seu relatório, tem avanços a
mostrar, especialmente no ensino fundamental. Mas olhar só
o copo meio cheio seria um
exercício tolo de otimismo,
pois ainda há muito a fazer.
Mais importante, no caso da
educação brasileira, é olhar o
movimento e sua intensidade.
É por isso que o ensino médio
preocupa. Neste segmento, o
Ideb (índice de qualidade do
MEC) não avançou, paramos
de incluir os mais pobres e a reprovação aumentou. É como se
o copo, em vez de encher, estivesse vazando.
E pioramos justamente num
dos mais vergonhosos indicadores educacionais do país: as
taxas de reprovação. No caso,
não cabe perder tempo com o
falso dilema entre aprovar automaticamente quem não
aprendeu ou reprovar como
punição.
Em primeiro lugar, há farta
evidência de que a repetência
não melhora o desempenho.
Além disso, trata-se de uma
discussão restrita ao ensino
fundamental, pois são poucas
as escolas com ciclos no ensino
médio.
Por último, para quem ainda
insiste em defender a reprovação como política educacional,
uma visita à página de estatísticas da Unesco mostrará que, de
um conjunto de mais de 150
países comparados na educação secundária, apenas oito
apresentam taxas de repetência superiores à brasileira.
Com todo o respeito a nações
como Togo, Congo, Burundi ou
Níger, qualquer indicador educacional que nos aproxime desses países é evidência incontestável de que algo está realmente muito errado.
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