São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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SP fica entre as piores no ranking do ensino

Capital paulista ficou em 21º lugar entre 26 capitais (Brasília não foi incluída) em português e em 20º em matemática

Avaliação foi feita em 2005 pelo Ministério da Educação; para especialistas, resultado é reflexo da formação deficitária dos professores

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A quarta série da rede de ensino da Prefeitura de São Paulo está entre as sete piores do país, quando comparada com a das demais capitais do Brasil. O desempenho foi avaliado no fim de 2005 pela Prova Brasil, realizada pelo Ministério da Educação, e mostra o município em 21º lugar entre 26 capitais (Brasília não foi incluída) em português e em 20º em matemática. O resultado só foi divulgado no final de junho, mas apenas com os dados específicos de cada escola. O ranking geral foi feito pela Folha.
Com média 160,42 na primeira disciplina e 166,86 na segunda, os alunos das escolas municipais não alcançaram nem a metade do total de pontos possíveis nas provas, que é de 350. Eles ainda ficaram 12 pontos abaixo da média nacional em língua portuguesa e 13 pontos abaixo em matemática.
A diferença da rede municipal de São Paulo para a de Campo Grande, primeira colocada em português, é de 31 pontos e, para Curitiba, que encabeça o ranking de matemática, é de 28. Mas, na oitava série, São Paulo ganha posições e passa para a 12ª colocação em ambas as disciplinas.
O secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, afirma não ter se surpreendido com os resultados. "Esperava por esse desempenho porque já tínhamos detectado problemas na rede. Ele é fruto de anos de gestão que confundia educação com ação social", afirma. "As escolas se tornaram pontos de distribuição de projetos sociais que vão desde uniforme até renda mínima e acabaram sobrecarregadas. O corpo docente deixou de ter como única obrigação o desenvolvimento do programa pedagógico, que deve ser o foco principal da educação."
O secretário afirma que as escolas precisam voltar o foco para o ensino e conta que já há um grupo de estudos em parceria com a Secretaria de Gestão para resolver como ficará a distribuição dos projetos sociais e, assim, liberar diretores de escola dessas obrigações. Ele ressalta, no entanto, que todos os benefícios serão mantidos.

Formação dos professores
Ana Rosa Abreu, que coordenou os Parâmetros Curriculares Nacionais e faz parte do Instituto Sangari (ONG com foco na educação básica), acredita que a sobrecarga no corpo docente influencia a má qualidade do ensino municipal em São Paulo, mas, para ela, o principal problema está na formação dos professores.
"A rede da capital é hoje uma rede desgastada. Foram feitas muitas capacitações, muitas delas com projetos excelentes, mas todas de maneira desarticulada", diz. "O professor não consegue aplicar o que aprende na sala de aula. Temos um shopping de projetos de formação sem nenhum impacto na prática."
Lisandre Maria Castelo Branco, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, concorda que o problema está na formação do professor, que, segundo ela, " não foi formado para ter uma preocupação em compreender a realidade dos alunos que o cercam nem para entender -e, assim, explicar- os motivos de ensinar determinadas matérias".
Para Lisandre, o resultado ajuda a desmontar o mito de que tudo é melhor em São Paulo. "É ilusão achar que nas grandes metrópoles estão as melhores oportunidades de trabalho, de ensino ou do que for. A vida para quem não tem dinheiro aqui é brutal."
Já a presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Maria do Pilar Lacerda, também secretária municipal de Educação de Belo Horizonte, diz que é impossível comparar as redes porque as condições do país são muito diferentes. "Temos de analisar as dificuldades de cada cidade. As avaliações servem para cada sistema refletir sobre seus erros e melhorar."

NA INTERNET - Veja o ranking completo das capitais www.folha.com.br/061883


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