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MÁFIA
De 751 notificações espontâneas sobre remédios fraudados recebidas pela OMS, 76% vieram de países em desenvolvimento
País subdesenvolvido lidera falsificação
BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília
De 82 a 97, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) recebeu 751
notificações de remédios fraudados, das quais 76% são de países
em desenvolvimento e 19% de industrializados.
A OMS considera a falsificação
de medicamentos um risco à saúde pública mundial e vai publicar,
até o fim do ano, um manual para
ajudar seus países membros a
combater a fraude.
"Essa é apenas a ponta do iceberg. A falsificação é um problema
em quase todos os países membros da OMS", disse à Folha, de
Genebra, o diretor da Divisão de
Administração e Políticas para
Medicamentos da Organização
Mundial da Saúde, Idanpaan-Heikkila.
Documentos da organização
apontam a ligação entre fraudes
de remédios e cartéis internacionais de tráfico de entorpecentes.
Um dos documentos, ao qual a
Folha teve acesso, diz que falsificação é feita tanto em indústrias
de fundo de quintal, em alguns
países, como em grandes consórcios internacionais, "incluindo
elementos de crime organizado".
"Frequentemente, os envolvidos em fraudes de medicamentos
estão também envolvidos em falsificação de produtos como bebidas alcoólicas, tabaco e perfume.
Há sinais de corrupção generalizada, incluindo ameaças a políticos,
oficiais e outros", diz o texto.
Apesar disso, não há motivo para pânico no Brasil, segundo Félix
Rosemberg, que presidiu um
workshop internacional sobre
fraudes de remédios realizado pela
OMS em novembro de 97 com a
presença de 50 países. Ele é diretor
do INCQS (Instituto Nacional de
Controle da Qualidade da Saúde).
Notificações espontâneas
Heikkila explica que os países
membros da organização (191)
não são obrigados a notificar a detecção de falsificação de remédios.
Os 751 casos foram relatados oficialmente, mas de forma espontânea, por 28 países.
Como a OMS não fez uma pesquisa nos países para conseguir
esses números, eles são, na verdade, o retrato das regiões que mais
notificaram -o que não significa
que sejam aquelas onde mais
ocorre fraude.
Um terço dos remédios fraudados é de antibióticos. O restante é
dividido entre corticóides, analgésicos e medicamentos gastrointestinais, principalmente.
"Se esses casos relatados representassem 10% dos casos de falsificação ocorridos no mundo, eu estaria feliz. O fato é que não sabemos quantos são os casos e acho
que esses 751 representam menos
de 10%", afirma Heikkila.
Ele diz que a fraude de remédios
varia entre dois extremos, segundo o país em que ela ocorre.
"Ela ocorre de forma diferente
conforme os países. Nos industrializados, a falsificação e os produtos resultantes são extremamente sofisticados. Por exemplo,
o remédio fraudado chega a conter o princípio ativo. Em outros
países, os produtos da falsificação
acabam não tendo nenhum princípio ativo", diz o diretor.
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