São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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MÁFIA
De 751 notificações espontâneas sobre remédios fraudados recebidas pela OMS, 76% vieram de países em desenvolvimento
País subdesenvolvido lidera falsificação

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

De 82 a 97, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recebeu 751 notificações de remédios fraudados, das quais 76% são de países em desenvolvimento e 19% de industrializados.
A OMS considera a falsificação de medicamentos um risco à saúde pública mundial e vai publicar, até o fim do ano, um manual para ajudar seus países membros a combater a fraude.
"Essa é apenas a ponta do iceberg. A falsificação é um problema em quase todos os países membros da OMS", disse à Folha, de Genebra, o diretor da Divisão de Administração e Políticas para Medicamentos da Organização Mundial da Saúde, Idanpaan-Heikkila.
Documentos da organização apontam a ligação entre fraudes de remédios e cartéis internacionais de tráfico de entorpecentes.
Um dos documentos, ao qual a Folha teve acesso, diz que falsificação é feita tanto em indústrias de fundo de quintal, em alguns países, como em grandes consórcios internacionais, "incluindo elementos de crime organizado".
"Frequentemente, os envolvidos em fraudes de medicamentos estão também envolvidos em falsificação de produtos como bebidas alcoólicas, tabaco e perfume. Há sinais de corrupção generalizada, incluindo ameaças a políticos, oficiais e outros", diz o texto.
Apesar disso, não há motivo para pânico no Brasil, segundo Félix Rosemberg, que presidiu um workshop internacional sobre fraudes de remédios realizado pela OMS em novembro de 97 com a presença de 50 países. Ele é diretor do INCQS (Instituto Nacional de Controle da Qualidade da Saúde).
Notificações espontâneas
Heikkila explica que os países membros da organização (191) não são obrigados a notificar a detecção de falsificação de remédios.
Os 751 casos foram relatados oficialmente, mas de forma espontânea, por 28 países.
Como a OMS não fez uma pesquisa nos países para conseguir esses números, eles são, na verdade, o retrato das regiões que mais notificaram -o que não significa que sejam aquelas onde mais ocorre fraude.
Um terço dos remédios fraudados é de antibióticos. O restante é dividido entre corticóides, analgésicos e medicamentos gastrointestinais, principalmente.
"Se esses casos relatados representassem 10% dos casos de falsificação ocorridos no mundo, eu estaria feliz. O fato é que não sabemos quantos são os casos e acho que esses 751 representam menos de 10%", afirma Heikkila.
Ele diz que a fraude de remédios varia entre dois extremos, segundo o país em que ela ocorre.
"Ela ocorre de forma diferente conforme os países. Nos industrializados, a falsificação e os produtos resultantes são extremamente sofisticados. Por exemplo, o remédio fraudado chega a conter o princípio ativo. Em outros países, os produtos da falsificação acabam não tendo nenhum princípio ativo", diz o diretor.



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