São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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VIOLÊNCIA
Vítimas, entre elas uma criança e dois homens, teriam sido também humilhadas; corregedoria apura o caso
PMs são acusados de torturar mulheres

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Pelo menos 11 policiais militares estão sendo acusados de espancar e torturar cinco mulheres -sendo duas menores-, dois homens e uma criança de 8 anos.
Parte dos PMs é da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Não está descartada a participação de outros policiais no episódio.
A Corregedoria da Polícia Militar São Paulo informou que está apurando o caso com muito rigor, mas ressaltou que as acusações estão sendo encaradas, em princípio, com muitas ressalvas. Mesma opinião tem o Ministério Público.
As sessões de tortura e espancamento, que duraram quatro horas -das 9h às 13h-, teriam acontecido na última sexta-feira, dia em que o Brasil enfrentou a Dinamarca. O caso ocorreu em um terreno com oito casas no bairro do Morro Grande, em Pirituba (zona noroeste de São Paulo).
Nesse dia, os policiais militares, que chegaram em três carros da Rota e em uma perua Kombi, entraram nas oito casas. De posse de mandados de busca e apreensão, os policiais, boa parte à paisana, estavam atrás de drogas.
O local, onde quase todos os moradores têm algum tipo de parentesco, estava sendo investigado pelo serviço reservado da Rota havia algum tempo.
Os policiais pediram apoio aos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo, que enviou um sargento para observar as buscas. Durante a operação, que foi filmada em parte, os PMs teriam apreendido 101 papelotes de cocaína, maconha e dinheiro.
O perueiro Cláudio Luiz da Silva foi preso acusado de ser dono da droga. Ele, que é acusado de ser um grande traficante da região, está recolhido na carceragem do 45º DP, na Vila Brasilândia.
Aos três promotores do Gaeco, os policiais, inclusive o sargento que trabalha com o grupo, informaram que a ação transcorreu sem nenhum tipo de incidente.
No entanto, na segunda-feira passada, seis pessoas -cinco mulheres e um homem- foram até a Ouvidoria da Polícia e contaram uma versão diferente da história.
Segundo eles, os PMs invadiram as casas, quebrando portas e vidros. Nos termos de declaração -com endereço e números dos RGs- que assinaram na ouvidoria, as cinco mulheres afirmam que foram barbaramente espancadas, humilhadas e torturadas (veja quadro nesta página).
Uma delas, N.C.L., 28, mulher de Cláudio, disse que apanhou na frente dos cinco filhos. Um deles, W.R.L.S., 8, teria sido obrigado a abaixar a calça e a agachar três vezes. Ela afirma ainda que foi obrigada a trocar de roupa na frente de um grupo de policiais.
Outra suposta vítima, a estudante A.P.S., 13, diz que foi obrigada a ficar nua por mais de cinco minutos. Após ser espancada, teria tido sua cabeça mergulhada em um tambor de água até começar a ficar roxa. Uma outra, J.I.S., 30, diz que levou choque nas partes íntimas.
"Os relatos são gravíssimos. Enviei ofício para a Corregedoria da PM e para o Ministério Público pedindo rigor e rapidez na apuração. Se as denúncias forem comprovadas, os policiais têm que ser expulsos", declarou Benedito Domingos Mariano, ouvidor da polícia.
"Mesmo o lugar sendo um ponto de tráfico, não se justifica, em hipótese alguma, a atitude. O caso tem que ser apurado, independentemente de elas serem mulheres, mães ou filhas de traficantes."
Mariano afirmou ainda que encaminhou um ofício, com cópias dos termos de declaração das supostas vítimas, ao juiz Mauricio Lemos Porto Alves, corregedor da Polícia Judiciária que expediu os mandados de busca e apreensão.



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