São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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Sindicato diz que pressa pode ser causa

Especialistas afirmam que ritmo acelerado das obras na linha 4 do metrô pode ter causado afundamento em Pinheiros

O diretor do Instituto de Engenharia diz ser difícil evitar problema como o de quarta-feira, uma vez que o terreno é "muito arenoso"

LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REDAÇÃO

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Diretores do Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo) ouvidos pela Folha afirmaram que a pressa em terminar a obra da linha 4 do metrô pode ter sido uma das causas do afundamento na rua dos Pinheiros, anteontem.
O engenheiro Balmes Vega Garcia, que além de ser diretor do Seesp é também do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo), disse que as obras do metrô estão indo em um ritmo muito acelerado e que isto pode estar relacionado com as eleições.
"Quanto maiores os controles [cuidados com segurança], os valores aumentam, mas ninguém quer pagar mais", afirmou Garcia. "E precisa entregar até tal dia, então, o governo do Estado começa a pressionar a construtora. Tem eleição vindo", completou o diretor.
Além disso, Garcia afirmou que, se a nova linha fosse construída em um nível mais profundo, o risco de acidente na superfície seria menor. "As vibrações da obra chegariam mais fracas em cima, evitando os buracos. Mas sai mais caro."
"Acho que uma das causas é a pressa em terminar a obra", disse outro diretor do Seesp e do Crea-SP Luiz Antonio Salata. "O Consórcio Via Amarela só visa o lucro, e a gente sabe que obra a toque de caixa sai mais barata", disse.
O presidente do Crea-SP, José Tadeu da Silva, afirmou que a obra deveria ser feita com dois tatuzões, e não só com um, como é atualmente. "Com um tatuzão não faz? Faz, só que a velocidade da obra vai ser menor. E para fazer nessa velocidade com que a obra está sendo feita, seria melhor duas máquinas. Além de ser complicado [devido ao solo arenoso], vão ter de caminhar muito mais devagar [com só um tatuzão]."
"Há um cronograma. Às vezes, [o consórcio] pode querer acelerar a obra e acaba não observando determinados cuidados que ela requer", disse Silva.

Dificuldade
O diretor do Instituto de Engenharia, Roberto Kochen, afirmou ser difícil evitar um problema como o da rua dos Pinheiros, uma vez que o terreno do local é "muito arenoso".
"O tatuzão é uma das máquinas mais modernas no mundo. Mas é difícil evitar uma coisa como essa", explicou.
Sobre a possibilidade de se fazer a obra mais profunda, para encontrar um solo mais estável, Kochen diz que a mudança aumentaria muito o preço da obra. "Além disso, poderia diminuir a segurança quando a estação estivesse em funcionamento. Se houver um incêndio, por exemplo, demora mais para retirar todo mundo."
Já Emiliano Stanislau Affonso, engenheiro do Metrô, disse que o afundamento é comum. "É normal ter pequenos deslizes em obras grandes assim", disse. "Não foi nem a primeira vez nem vai ser a última."

Outro lado
O Consórcio Via Amarela não quis comentar as declarações dos especialistas. A Secretaria de Transportes Metropolitanos da gestão Serra negou que haja pressão para acelerar a obra e declarou que os trabalhos estão dentro do prazo.


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