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BARBARA GANCIA
Bem-vindo à era do impensável
Depois do 11 de Setembro
de 2001, passamos a acreditar que tudo é possível. Que qualquer tipo de atrocidade pode
acontecer de um minuto para o
outro. O que antes era inimaginável agora faz parte do cotidiano.
O seqüestro, a tortura e a morte
de crianças no primeiro dia de
aula, na Rússia, mostrou que,
mesmo tendo ciência de que tragédias cinematográficas agora
são inevitáveis, nós ainda não nos
acostumamos à nova realidade.
Nos comentários sobre o atentado em Beslan apresentados nas
mais proeminentes publicações e
em telejornais de alcance mundial, até aos mais eloqüentes faltaram palavras para pronunciar
a indignação gerada pelo ocorrido. Em meio a uma profusão de
adjetivos, fluíram descrições sobre
o que é terrorismo e tentativas de
compreender o atentado pelo viés
das crueldades perpetradas pelos
russos contra os tchetchenos.
De fato, a primeira guerra contra os russos (1994-1996) destruiu
as instituições na Tchetchênia. O
vácuo foi preenchido por milícias
islâmicas. Nas cidades ao redor de
Grozni, as milícias chegaram a
instituir a sharia, a severa lei islâmica. Na época, Osama bin Laden doou US$ 25 milhões à guerrilha. Líbano e Arábia Saudita
também patrocinaram grupos armados na região.
Para explicar o inexplicável,
tentamos entender a participação
das mulheres no atentado. Sabemos que para elas não existe a
promessa de um paraíso populado por virgens. O que, então, as
motivaria a cometer crueldades
contra crianças?
Fomos informados de que as
mulheres que participaram do
atentado contra o teatro em Moscou, em outubro de 2002, tinham
por volta de 20 anos, pertenciam
a uma geração que cresceu durante a guerra na Tchetchênia e
eram praticamente ineducadas.
Tomamos conhecimento de que
elas viveram a maior parte da vida em estado de medo permanente, ora sendo confrontadas com
esquadrões da morte, ora sofrendo estupros, mutilações, torturas.
Há testemunhos de que algumas
delas foram estupradas na frente
de pais e irmãos.
Ficamos sabendo ainda que, em
Grozni, o preço pago pelo martírio é muito inferior ao que é praticado, por exemplo, pelo Hamas.
Nenhuma compensação é dada
aos parentes dos terroristas e eles
muitas vezes concordam em ir pelos ares em troca apenas do preço
que é pago pelo explosivo.
Essas informações são de domínio público. Mas os EUA, que optaram pela via mais simples ao
demonizar Saddam Hussein, continuam de braços cruzados.
QUALQUER NOTA
Sono escasso
Está começando a parecer que
o governador Aécio Neves gosta mais de festa do que a promoter Alicinha Cavalcanti. Para alguém com aspirações presidenciais, a vida social intensa
pode apresentar problemas. A
começar pela inevitável irritabilidade que acomete os festeiros no dia seguinte.
Operação feiúra
Nos Jardins, insistem em pintar
árvores com cal. A não ser que
se queira fantasiá-las de poste, a
operação é inútil. Cal não protege contra broca e cupim.
Apertado
O túnel Max Feffer já está sendo
chamado de "tomografia".
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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