São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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BARBARA GANCIA

Bem-vindo à era do impensável

Depois do 11 de Setembro de 2001, passamos a acreditar que tudo é possível. Que qualquer tipo de atrocidade pode acontecer de um minuto para o outro. O que antes era inimaginável agora faz parte do cotidiano.
O seqüestro, a tortura e a morte de crianças no primeiro dia de aula, na Rússia, mostrou que, mesmo tendo ciência de que tragédias cinematográficas agora são inevitáveis, nós ainda não nos acostumamos à nova realidade.
Nos comentários sobre o atentado em Beslan apresentados nas mais proeminentes publicações e em telejornais de alcance mundial, até aos mais eloqüentes faltaram palavras para pronunciar a indignação gerada pelo ocorrido. Em meio a uma profusão de adjetivos, fluíram descrições sobre o que é terrorismo e tentativas de compreender o atentado pelo viés das crueldades perpetradas pelos russos contra os tchetchenos.
De fato, a primeira guerra contra os russos (1994-1996) destruiu as instituições na Tchetchênia. O vácuo foi preenchido por milícias islâmicas. Nas cidades ao redor de Grozni, as milícias chegaram a instituir a sharia, a severa lei islâmica. Na época, Osama bin Laden doou US$ 25 milhões à guerrilha. Líbano e Arábia Saudita também patrocinaram grupos armados na região.
Para explicar o inexplicável, tentamos entender a participação das mulheres no atentado. Sabemos que para elas não existe a promessa de um paraíso populado por virgens. O que, então, as motivaria a cometer crueldades contra crianças?
Fomos informados de que as mulheres que participaram do atentado contra o teatro em Moscou, em outubro de 2002, tinham por volta de 20 anos, pertenciam a uma geração que cresceu durante a guerra na Tchetchênia e eram praticamente ineducadas. Tomamos conhecimento de que elas viveram a maior parte da vida em estado de medo permanente, ora sendo confrontadas com esquadrões da morte, ora sofrendo estupros, mutilações, torturas. Há testemunhos de que algumas delas foram estupradas na frente de pais e irmãos.
Ficamos sabendo ainda que, em Grozni, o preço pago pelo martírio é muito inferior ao que é praticado, por exemplo, pelo Hamas. Nenhuma compensação é dada aos parentes dos terroristas e eles muitas vezes concordam em ir pelos ares em troca apenas do preço que é pago pelo explosivo.
Essas informações são de domínio público. Mas os EUA, que optaram pela via mais simples ao demonizar Saddam Hussein, continuam de braços cruzados.

QUALQUER NOTA

Sono escasso
Está começando a parecer que o governador Aécio Neves gosta mais de festa do que a promoter Alicinha Cavalcanti. Para alguém com aspirações presidenciais, a vida social intensa pode apresentar problemas. A começar pela inevitável irritabilidade que acomete os festeiros no dia seguinte.

Operação feiúra
Nos Jardins, insistem em pintar árvores com cal. A não ser que se queira fantasiá-las de poste, a operação é inútil. Cal não protege contra broca e cupim.

Apertado
O túnel Max Feffer já está sendo chamado de "tomografia".

E-mail - barbara@uol.com.br
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