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DANUZA LEÃO
Da série esse Brasil tão grande e amado
Por que razão não se olha mais para a natureza, por que damos tanto valor ao que vemos nos outros países
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TENHO ANDADO pelo Brasil, e a
cada viagem mais me surpreendo com o que vejo.
Há umas semanas estive em Mossoró, Rio Grande do Norte, três horas de avião e mais três de carro.
Mossoró fica na região do semi-árido, que eu conhecia só pela televisão; quando chega a seca, nem uma
folha verde, o gado morrendo com
sede, e pelo caminho cactos, muitos
cactos, parecendo uma paisagem do
deserto do México.
A cidade é pequena, e à noite fui
dar uma volta e saber da região.
Além de ser especialista em literatura de cordel, Mossoró tem petróleo.
É a primeira produtora de petróleo
em terra do Brasil.
Tudo começou em 1979, quando
estava sendo construído um hotel
que seria o maior parque aquático
do país. Com o hotel pronto, as bombas passaram a noite trabalhando
para encher as piscinas pela primeira vez; pela manhã, quando foram
ver, as piscinas estavam cheias de...
petróleo. Não era bem a idéia original, outros poços foram perfurados,
cada vez encontravam mais petróleo, até que de um deles jorrou água
quente, quase fervendo. Resultado:
cada uma das 11 piscinas tem água
numa temperatura (a mais quente
com 50C), e antes de dormir as pessoas costumam ir nadar, escolhendo
qual a temperatura mais adequada a
seu gosto.
Além disso, as águas são
repousantes e garantem um sono de
anjo a quem se banha nelas antes de
dormir. Por terem a forma parecida
com um cavalo, as bombas são chamadas de "cavalo de petróleo"; você
passa por uma pracinha pequena,
daquelas de interior, e vê quatro cavalos trabalhando dia e noite, bombeando petróleo. E também pode
ver cavalos em pleno funcionamento em alguns quintais de casas, em
pleno centro da cidade. No total,
Mossoró tem 3.500 poços funcionando -não é incrível?
Outro Brasil: estive também em
Foz do Iguaçu, e fui ver, claro, as cataratas. Lamentavelmente, com a
seca, elas estavam com menos de
50% do seu volume normal, mas
nem por isso eu -e os estrangeiros,
a maioria japoneses, que vieram do
outro lado do mundo para ver nossas maravilhas- deixamos de nos
extasiar, tendo de quebra os quatis
passeando, sem a menor cerimônia,
entre nossas pernas. Mas o mais
deslumbrante foi ver -não no céu,
mas baixinho, entre as quedas-d'água- dois arco-íris. Dois arco-íris
rodeados de água; nem que eu viva
200 anos, nunca vou me esquecer
dessa imagem. Aí me perguntaram,
muito naturalmente, se eu queria almoçar na Argentina ou no Paraguai.
Como é do conhecimento geral, ali é
uma tríplice fronteira, mas que é engraçado, isso é.
E fiquei pensando em uma porção
de coisas; por que razão não se olha
mais para a natureza, por que razão
damos tanto valor ao que vemos nos
outros países, por que tanta gente
prefere ir a Miami do que a Foz, por
que a razão de tanta coisa.
Aí lembrei dos alemães, americanos, suecos e japoneses que cruzam
o mundo para ver nossas belezas, e
que a vida é assim mesmo, que -nós
e eles- valorizamos sempre o que
está mais longe, o que é mais inacessível, e que assim sempre será.
Nosso país é lindo e surpreendente; tão surpreendente que d. Marisa
confunde o 7 de setembro com a Copa e se veste de verde-amarelo para
ver a parada, e o Brasil vai comprar
um submarino por 1 bilhão de euros.
@ - danuza.leao@uol.com.br
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