São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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DANUZA LEÃO

Da série esse Brasil tão grande e amado


Por que razão não se olha mais para a natureza, por que damos tanto valor ao que vemos nos outros países

TENHO ANDADO pelo Brasil, e a cada viagem mais me surpreendo com o que vejo. Há umas semanas estive em Mossoró, Rio Grande do Norte, três horas de avião e mais três de carro.
Mossoró fica na região do semi-árido, que eu conhecia só pela televisão; quando chega a seca, nem uma folha verde, o gado morrendo com sede, e pelo caminho cactos, muitos cactos, parecendo uma paisagem do deserto do México.
A cidade é pequena, e à noite fui dar uma volta e saber da região. Além de ser especialista em literatura de cordel, Mossoró tem petróleo. É a primeira produtora de petróleo em terra do Brasil.
Tudo começou em 1979, quando estava sendo construído um hotel que seria o maior parque aquático do país. Com o hotel pronto, as bombas passaram a noite trabalhando para encher as piscinas pela primeira vez; pela manhã, quando foram ver, as piscinas estavam cheias de... petróleo. Não era bem a idéia original, outros poços foram perfurados, cada vez encontravam mais petróleo, até que de um deles jorrou água quente, quase fervendo. Resultado: cada uma das 11 piscinas tem água numa temperatura (a mais quente com 50C), e antes de dormir as pessoas costumam ir nadar, escolhendo qual a temperatura mais adequada a seu gosto.
Além disso, as águas são repousantes e garantem um sono de anjo a quem se banha nelas antes de dormir. Por terem a forma parecida com um cavalo, as bombas são chamadas de "cavalo de petróleo"; você passa por uma pracinha pequena, daquelas de interior, e vê quatro cavalos trabalhando dia e noite, bombeando petróleo. E também pode ver cavalos em pleno funcionamento em alguns quintais de casas, em pleno centro da cidade. No total, Mossoró tem 3.500 poços funcionando -não é incrível?
Outro Brasil: estive também em Foz do Iguaçu, e fui ver, claro, as cataratas. Lamentavelmente, com a seca, elas estavam com menos de 50% do seu volume normal, mas nem por isso eu -e os estrangeiros, a maioria japoneses, que vieram do outro lado do mundo para ver nossas maravilhas- deixamos de nos extasiar, tendo de quebra os quatis passeando, sem a menor cerimônia, entre nossas pernas. Mas o mais deslumbrante foi ver -não no céu, mas baixinho, entre as quedas-d'água- dois arco-íris. Dois arco-íris rodeados de água; nem que eu viva 200 anos, nunca vou me esquecer dessa imagem. Aí me perguntaram, muito naturalmente, se eu queria almoçar na Argentina ou no Paraguai.
Como é do conhecimento geral, ali é uma tríplice fronteira, mas que é engraçado, isso é.
E fiquei pensando em uma porção de coisas; por que razão não se olha mais para a natureza, por que razão damos tanto valor ao que vemos nos outros países, por que tanta gente prefere ir a Miami do que a Foz, por que a razão de tanta coisa.
Aí lembrei dos alemães, americanos, suecos e japoneses que cruzam o mundo para ver nossas belezas, e que a vida é assim mesmo, que -nós e eles- valorizamos sempre o que está mais longe, o que é mais inacessível, e que assim sempre será.
Nosso país é lindo e surpreendente; tão surpreendente que d. Marisa confunde o 7 de setembro com a Copa e se veste de verde-amarelo para ver a parada, e o Brasil vai comprar um submarino por 1 bilhão de euros.
@ - danuza.leao@uol.com.br


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