|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mulher se iguala ao homem na felicidade
75% delas declararam ser felizes, ante 78% deles, dentro da margem de erro; em 1996, "vantagem" masculina era de 7 pontos
Tabelas da pesquisa indicam
que a felicidade cresce com
a renda, com a escolaridade
e com a idade; evangélico
pentecostal é o mais alegre
Bruno Miranda/Folha Imagem
|
Jovem dá gargalhada durante encontro com amigos na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Atenção, feministas! Enfim,
homens e mulheres igualaram-se nas taxas de felicidade -ao
menos as auto-proclamadas.
Se, há dez anos, a taxa dos homens que se diziam "felizes"
era de 69%, sete pontos percentuais a mais do que a das mulheres (62%), hoje, 75% das
brasileiras se dizem "felizes",
contra 78% no caso dos brasileiros. É uma situação de empate técnico, já que a margem de
erro para o total da amostra é
de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
"Gosto da vida, dos meus
amigos. Fazer compras também deixa a gente feliz. É uma
terapia", diz a vendedora Juliana Aparecida Teixeira, 21. "Me
considero feliz. Sou independente, trabalho e pratico esportes", diz Rosane Oliveira, 37,
engenheira química. "Sou feliz.
Vivo bons momentos, tenho
uma família, saúde, amo meu
cachorro, gosto de rir, tomar
chope", diz Letícia Bonacorso,
25, comerciante.
Emancipação feminina?
Segundo a psicóloga Rosely
Sayão, é preciso "cuidado" na
interpretação da pesquisa e das
respostas das mulheres. "Existe atualmente uma cultura que
praticamente tornou compulsório ser feliz".
Rosely cita o sem-número de
receitas da felicidade que podem ser lidas nas páginas de revistas femininas e em livros de
auto-ajuda (também com foco
no mulherio). "Parece que felicidade só depende de querer."
"E, no entanto, o que mais vejo são mulheres que trabalham
sentindo-se culpadas por não
conseguir acompanhar 100%
da vida dos filhos; ou que estão
infelizes com o corpo ou com a
idade; ou ainda mulheres que
só se sentem realizadas na condição de consumidoras", lembra Rosely. "É difícil acreditar
na sinceridade de tantas declarações de felicidade", diz ela,
que se diz "mais ou menos feliz": "Algumas vezes ao dia sou
feliz, outras não."
Entre a pesquisa de 1996 e a
de 2006, há o fenômeno da
massificação do uso das chamadas "drogas do bem-estar", entre as quais se contam antidepressivos como o Prozac.
Segundo a psiquiatra Helena
Maria Calil, da Universidade
Federal de São Paulo, que se
declara "mais ou menos feliz"
("Às vezes sou feliz, às vezes,
não"), vende-se a ilusão de que
antidepressivos como o Prozac
sejam "drogas da felicidade".
Embora usadas por homens
e mulheres, sabe-se que são as
últimas as maiores consumidoras de antidepressivos, hoje receitados tanto por médicos "de
regime" -nutrólogos e endocrinologistas, entre outros-
quanto por ginecologistas,
além, é claro, dos próprios psiquiatras. Como sintoma da explosão medicamentosa, em
2001, foram vendidos no Brasil,
16 milhões de caixas do Prozac,
34% a mais do que em 1995.
Evangélicos
Uma outra explosão aconteceu nesse período. "A explosão
do Evangelho no Brasil é certamente uma explicação para o
crescimento do índice de pessoas felizes" -neste caso, homens e mulheres. O diagnóstico é do pastor Rinaldo Luiz de
Seixas Pereira, 34, da Igreja Bola de Neve, uma dentre as centenas de denominações evangélicas existentes no país.
Entre o povo de Deus (como
gostam de ser identificados os
evangélicos pentecostais), o índice dos que se dizem "felizes"
é de 83%. São sete pontos percentuais a mais do que o índice
de "felizes" existente entre os
católicos, os evangélicos não-pentecostais ou os espíritas, cada um com 76% de "felizes". O
povo sem-religião é o com menor índice de "felizes": 67%, ou
16 pontos menos do que os
evangélicos pentecostais.
"Se Deus é por nós, quem será contra nós?", diz um adesivo
de carro muito popular entre os
evangélicos. Segundo o pastor
Rinaldo, o conceito de felicidade dos evangélicos é diferente
-"é menos materialista".
"Para nós, mais importante
do que multas de trânsito, problemas conjugais ou desemprego, é estar em contato com
Deus. Isso é a felicidade." Essa
felicidade viceja principalmente nas periferias das grandes cidades, onde 20% dos moradores já são evangélicos.
Texto Anterior: Análise: Felicidade vai-se embora Próximo Texto: Frases Índice
|