São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Em 10 anos, frota de motos poluirá mais que a de carros

Programa antipoluição prevê metas mais leves para motocicletas do que para automóveis

A partir de janeiro de 2009, motores de motos terão padrões de emissão de poluentes que os de carros adotaram em 1997


RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo após a redução dos níveis de emissão de poluentes prevista para 2009 pelo Ministério do Meio Ambiente, motores de motos continuarão poluindo muito mais que os de carros. A partir de 1º de janeiro, a última etapa do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) deixará os motores das motos com padrões que os carros adotaram em 1997.
Mantido o ritmo atual de crescimento da frota de veículos, em dez anos a de motos ultrapassará a de carros em emissões das principais substâncias poluentes na região metropolitana de São Paulo.
A projeção, feita pela consultoria EnvironMentality, especializada em tecnologias não-poluentes, considerou a manutenção do ritmo de crescimento e de renovação da frota da capital dos últimos 50 anos.
O estudo aponta que, a partir de 2018, motos devem superar carros nas emissões de material particulado (semelhante à fumaça do cigarro), que causa inflamação pulmonar, bronquite e doenças de coração.
No caso do monóxido de carbono (CO), que agrava alergias, e dos hidrocarbonetos (HC), que têm efeito cancerígeno (aldeídos) e agravam o efeito estufa (metano), as motos já superam os carros atualmente. E a diferença tende a crescer.
Desde 1997, os padrões para os automóveis já sofreram duas reduções. Para as motos, porém, não há nova etapa prevista após 2009. "As mudanças até agora não resolveram. O estudo é um alerta para um problema futuro, que irá acontecer se nada mais for feito", diz o consultor Gabriel Branco, coordenador da EnvironMentality.
Criado em 1986, o Proconve só fixou metas para motos a partir de 2003, 14 anos após os primeiros limites para carros.
"Antes disso, o percentual de motos era insignificante, não havia necessidade", argumenta a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn.
Para o pesquisador da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva, a alta procura pela moto é "filha" de dois processos: "a falência do transporte coletivo e a "lentificação" do trânsito" nos últimos anos.
"A moto passou a ser a grande alternativa para se andar em uma cidade congestionada. Aí passou a contar", diz Saldiva.
A meta para 2009 reduz em mais da metade a tolerância para emissões de CO e em um terço as de HC para motos populares novas (de até 150 cc; 79% do mercado). Hoje, uma moto emite até sete vezes mais HC que um automóvel.
A partir de janeiro, mesmo com a redução, cada moto produzirá até 16 vezes mais HC na comparação com os veículos de quatro rodas, cuja redução será ainda mais radical. A tolerância ao CO, hoje quase três vezes maior para motos, se iguala à adotada pelos carros em 1997.


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