São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Bustos de escritores somem do Arouche

Estátuas de membros da Academia Paulista de Letras têm sido furtadas e vandalizadas no largo do centro de SP

Instituição quer levar as estátuas restantes para seu salão e restaurá-las, porém ainda aguarda prefeitura autorizar

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO

No largo do Arouche, bem no meio da praça, bustos sem placa, placas sem busto e pedestais sem bustos nem placas são a ruína do que foi um dia o Jardim dos Escritores, um conjunto de peças de bronze que retratavam membros da Academia Paulista de Letras, ali instalada.
De três anos para cá, as obras têm sido furtadas ou sofrido vandalismo. Hoje, dos tantos que havia -não se sabe a conta- só existem cinco bustos ou traços do que ainda restam deles.
A série de furtos deu início a uma disputa com a prefeitura. De um lado, a academia quer levar as estátuas restantes para o salão e restaurá-las. Do outro, Secretaria da Cultura não quis liberá-las porque são bens públicos e não poderiam ficar fechados numa instituição privada.
Dos que ainda estão ali, o único inteiro -ainda assim sem os óculos- é o do acadêmico José Pedro Leite Cordeiro. O busto do parnasiano Vicente de Carvalho, o poeta do mar, está sem a placa. E a placa de José Augusto Cesar Salgado, secretário da canonização do beato José de Anchieta, está sem o busto.
"Esse aqui nem sabemos quem é, não tem nem busto, nem placa", diz José Renato Nalini, presidente da academia. Os furtos dos bustos foram o assunto do chá da tarde de ontem dos acadêmicos.
"Os ladrões estão furtando para fundir. Ninguém leva uma peça dessas para colocar na sala de casa e ficar contemplando", diz a acadêmica Lygia Fagundes Telles. Os furtos acontecem em meio à degradação do largo.
Além do torso dos escritores, tampos de ferro fundido dos bueiros e pedaços de postes feitos desse material têm sido levados. A solução foi colocar blocos de concreto.
Até o mercado de flores, que funcionava 24 horas por dia, passou a fechar às 23h.
O abandono afastou a clientela; sem o movimento caíram as vendas; com o esvaziamento começou o vandalismo e, com a depredação, os floristas fecham cedo. Depois de terem vidros quebrados, fios, telefones, ferramentas e até plantas furtadas, as floriculturas fecharam a parte de trás, voltada para a praça, com grades. "Havia uma cabeça oca.
Era bem aqui [ele mostra], a maior de todas. Fizeram outra e levaram de novo", diz o florista Edson Rosendo Silva. Entre um furto de cá e uma reposição de lá, o busto de um escritor foi colocado sobre a placa de outro. A confusão só foi descoberta pela família, que desfez a troca.
O vandalismo das peças é acompanhado por uma base 24 horas da Polícia Militar instalada na praça. A PM diz que os furtos ocorreram antes da presença dos policiais, deslocados há três anos.
"O problema do centro não é a vitalidade, no Arouche há muita vida. O Minhocão contribui muito para essa degradação, enquanto ele estiver lá, o centro será uma passagem", diz Valter Caldana, diretor da faculdade de urbanismo do Mackenzie.
A prefeitura disse que, em agosto, se manifestou favoravelmente e que providencia a papelada jurídica para que a instituição seja notificada da transferência dos bustos.

FOLHA.com
Veja fotos do Arouche
folha.com.br/ct796399


Próximo Texto: Degradação vem da desigualdade, diz pesquisador
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.