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Bustos de escritores somem do Arouche
Estátuas de membros da Academia Paulista de Letras têm sido furtadas e vandalizadas no largo do centro de SP
Instituição quer levar as
estátuas restantes para
seu salão e restaurá-las,
porém ainda aguarda
prefeitura autorizar
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO
No largo do Arouche, bem
no meio da praça, bustos sem
placa, placas sem busto e pedestais sem bustos nem placas são a ruína do que foi um
dia o Jardim dos Escritores,
um conjunto de peças de
bronze que retratavam membros da Academia Paulista
de Letras, ali instalada.
De três anos para cá, as
obras têm sido furtadas ou
sofrido vandalismo. Hoje,
dos tantos que havia -não se
sabe a conta- só existem
cinco bustos ou traços do que
ainda restam deles.
A série de furtos deu início
a uma disputa com a prefeitura. De um lado, a academia
quer levar as estátuas restantes para o salão e restaurá-las. Do outro, Secretaria da
Cultura não quis liberá-las
porque são bens públicos e
não poderiam ficar fechados
numa instituição privada.
Dos que ainda estão ali, o
único inteiro -ainda assim
sem os óculos- é o do acadêmico José Pedro Leite Cordeiro. O busto do parnasiano Vicente de Carvalho, o poeta do
mar, está sem a placa. E a placa de José Augusto Cesar Salgado, secretário da canonização do beato José de Anchieta, está sem o busto.
"Esse aqui nem sabemos
quem é, não tem nem busto,
nem placa", diz José Renato
Nalini, presidente da academia. Os furtos dos bustos foram o assunto do chá da tarde de ontem dos acadêmicos.
"Os ladrões estão furtando
para fundir. Ninguém leva
uma peça dessas para colocar na sala de casa e ficar
contemplando", diz a acadêmica Lygia Fagundes Telles.
Os furtos acontecem em
meio à degradação do largo.
Além do torso dos escritores,
tampos de ferro fundido dos
bueiros e pedaços de postes
feitos desse material têm sido
levados. A solução foi colocar blocos de concreto.
Até o mercado de flores,
que funcionava 24 horas por
dia, passou a fechar às 23h.
O abandono afastou a
clientela; sem o movimento
caíram as vendas; com o esvaziamento começou o vandalismo e, com a depredação, os floristas fecham cedo.
Depois de terem vidros
quebrados, fios, telefones,
ferramentas e até plantas furtadas, as floriculturas fecharam a parte de trás, voltada
para a praça, com grades.
"Havia uma cabeça oca.
Era bem aqui [ele mostra], a
maior de todas. Fizeram outra e levaram de novo", diz o
florista Edson Rosendo Silva.
Entre um furto de cá e uma
reposição de lá, o busto de
um escritor foi colocado sobre a placa de outro. A confusão só foi descoberta pela família, que desfez a troca.
O vandalismo das peças é
acompanhado por uma base
24 horas da Polícia Militar
instalada na praça. A PM diz
que os furtos ocorreram antes da presença dos policiais,
deslocados há três anos.
"O problema do centro
não é a vitalidade, no Arouche há muita vida. O Minhocão contribui muito para essa degradação, enquanto ele
estiver lá, o centro será uma
passagem", diz Valter Caldana, diretor da faculdade de
urbanismo do Mackenzie.
A prefeitura disse que, em
agosto, se manifestou favoravelmente e que providencia a
papelada jurídica para que a
instituição seja notificada da
transferência dos bustos.
FOLHA.com
Veja fotos do Arouche
folha.com.br/ct796399
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