São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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Oficial diz à tropa que "bandido é caixão", e carcereiros espancam detentos
Fita revela tortura e PM sugerindo matar


Jorge Araujo/Folha Imagem
Presos do 26º Distrito Policial, no Sacomã (zona sudeste de SP), mostram cápsulas que dizem ter resultado de disparos de policiais dentro da carceragem


MÁRIO MAGALHÃES
em São Paulo

Gravações feitas sigilosamente em São Paulo por presos numa delegacia e por soldados da Polícia Militar durante preleções de um oficial registram humilhação, tortura e sugestão para matar.
O comandante do 5º Batalhão de Policiamento Militar Metropolitano, tenente-coronel Edson Pimenta Bueno Filho, diz à tropa que "vagabundo é caixão".
De acordo com depoimentos de soldados à Ouvidoria da Polícia, a expressão é uma das formas de o oficial ordenar a morte de criminosos feridos em tiroteio, antes de chegarem ao hospital.
Pimenta diz que o governador Mário Covas é o "boneco" que comanda o Estado, chama o secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, de "idiota" e "hipócrita", se refere com um palavrão ao ouvidor da polícia, Benedito Mariano, e xinga a chefia da Polícia Militar.
No 26º Distrito Policial, em Sacomã (zona sudeste), os presos gravaram uma blitz ocorrida após uma tentativa de fuga.
Policiais civis xingam os detentos e os chamam de "orangotango", "macaco" e "paraíba".
O policial que comandou a operação gritou ameaças como "quero um", "vai tomar tiro", "vai tomar é bala", "tou louco pra sentar o dedo em vocês".
Depois de um barulho compatível com um golpe, berrou: "Não falei que você ia apanhar, alemão?"
A fita foi retirada do 26º Distrito Policial por parentes de presos e encaminhada ao Ministério Público pelo coordenador da Pastoral Carcerária, Armando Tambelli Júnior, e pela secretária do movimento, Daniela Cecília Silva.
O repórter recebeu de pessoas ligadas aos presos a fita cassete gravada na delegacia e de soldados do 5º BPMM as duas fitas com as preleções do tenente-coronel Pimenta.
No 26º DP, o carcereiro André Hysmael Retz Nunes decidiu se transferir, porque os presos não aceitam mais a sua presença.
No batalhão, subordinados do tenente-coronel Pimenta informam que ele entrou de licença no começo da semana passada, quando voltou a trabalhar no time de futebol da Lusa como auxiliar técnico.
Clique aqui e conheça o discurso do tenente-coronel que foi gravado.


Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local

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