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SAÚDE
Funcionária pública seleciona óvulos fecundados artificialmente para não ter filha com síndrome
Seleção de embrião evita mal hereditário
CLÁUDIA COLLUCCI
da Redação
A funcionária pública Silene Lopes, 37, portadora da Síndrome
do X-Frágil, uma doença hereditária que causa retardo mental,
conseguiu por meio de uma seleção artificial de embriões gerar
uma filha saudável. Beatriz nasceu na última quinta-feira, na maternidade São Luiz, em São Paulo.
Pelos prognósticos médicos, Silene nunca poderia ter um filho
homem normal e corria um sério
risco de gerar uma filha com deficiência mental.
As duas irmãs de Silene também são portadoras da doença e
têm dois filhos deficientes mentais. Ela descobriu a doença em
94, um ano antes de se casar. "Entrei em desespero. Pensei que
nunca teria um filho meu", diz.
O caso de Silene é o primeiro no
mundo em que a síndrome é controlada por meio de uma inseminação artificial, acompanhada de
biópsia de embriões, segundo a
US National Library Medicine,
uma biblioteca americana que registra trabalhos científicos na área
médica de todo mundo.
A seleção de embriões com a finalidade de evitar doenças genéticas é permitida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), mas gera embates éticos.
Para o padre Léo Pessini, especialista em bioética, a ciência viabilizou formas de reprodução humana que tornaram possível a
triagem humana para o descarte
dos imperfeitos.
O processo
Silene se submeteu a uma fertilização in vitro em janeiro e produziu 11 embriões. Por meio de uma
biópsia embrionária, os médicos
descartaram os embriões do sexo
masculino, que carregavam o gene da doença.
Foram implantados dois do sexo feminino, sendo que um deles
se fixou na parede do útero. O tratamento de Silene custou R$
7.000, mas, segundo a clínica, ela
só pagou 50% dos custos.
Segundo o médico Eduardo Alves da Mota, da Clínica Hungtinton de reprodução humana, na
12ª semana de gestação, foi realizada uma biópsia na placenta em
que se verificou que a menina não
era portadora do gene da doença.
Síndrome
A síndrome, descoberta em
1991, está ligada ao cromossomo
X- que determina o sexo feminino- e se manifesta quando não
há a contraposição de outro cromossomo X saudável.
Por esse motivo é mais frequente e mais grave em homens, originados pela combinação de cromossomos XY.
Pessoas com defeito nesse gene
apresentam deficiência intelectual em graus variados, segundo a
médica Antonia Paula Marques
de Farias, chefe do departamento
de genética médica da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas).
Ela afirma que essa é a principal
causa de retardo mental transmitida geneticamente.
Segundo Antônia, algumas mulheres são portadoras da doença
porque têm um pequeno defeito
no gene -a pré- mutação-, mas
não mostram sintomas da síndrome, como Silene.
Não há estatísticas sobre a
doença no Brasil. Segundo estimativas internacionais, 1 em cada
4.000 homens nasce com a síndrome.
A síndrome não tem tratamento específico. Os pacientes devem
passar por tratamentos que melhorem seu potencial, como fisioterapia e fonoaudiologia, além de
receber suporte psicológico.
O médico Antônio Henrique
Pedrosa Neto, secretário-geral do
CFM, participou da elaboração da
resolução que estabelece regras
para a fertilização artificial no
país. "A finalidade é específica para se evitar a transmissão de
doenças hereditárias", diz.
Ele afirma que o médico que
usar a seleção de embriões para
outros fins senão o terapêutico,
poderá ser punido pelo CFM. A
pena vai de advertência até a cassação do registro.
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