São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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ESCOLA BASE
Seis envolvidos não conseguem emprego nem receber indenização por danos morais e materiais
Acusados vivem cinco anos de traumas

MARIANA CARVALHO
do "Agora São Paulo"

Os seis acusados de abuso sexual contra crianças, no episódio que ficou conhecido como Escola Base, ainda não conseguiram reconstruir suas vidas, arrasadas pela irresponsabilidade da polícia e da imprensa.
Hoje, cinco anos depois, ninguém recebeu qualquer tipo de indenização pelos danos materiais e morais que sofreu. Os processos ainda tramitam na Justiça.
Para os envolvidos, não se trata apenas de um reparo financeiro. "Vou andar com a sentença do juiz na carteira, para mostrar para as pessoas que me reconhecem na rua que quem me acusou estava errado", diz Icushiro Shimada.
Ele é marido da diretora da Escola Base, Maria Aparecida Shimada. Em março de 94, duas mães de alunos acusaram o casal, além de professores, um perueiro e os pais de um aluno de abusar sexualmente de seus filhos.
Foi o início de um caso de polícia que ganhou as manchetes dos jornais do país e chegou a Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão.
Em dez dias, o delegado que apurava o caso prendeu os pais de um aluno e indiciou as duas donas da escola e seus maridos.
Diante da fragilidade das provas, a Justiça mandou outro delegado assumir o inquérito. As novas investigações provaram que o caso não passou de uma série de erros das mães, do delegado e da imprensa.
Paula Alvarenga, sócia e professora, está desempregada. "Nunca trabalhei com outra coisa. Como posso voltar para uma escola depois do que aconteceu?", diz.
Maurício Alvarenga, ex-marido de Paula e perueiro, foi o principal acusado no caso. Ele vendeu os negócios que tinha, abandonou a família e tudo o que pudesse lembrá-lo do episódio.
Maria Aparecida faz até hoje tratamento psicológico e vive a base de calmantes. Seu marido ainda trabalha em sua copiadora no centro da cidade e tenta saldar as dívidas que contraiu.
"Não podia deixar de pagar os funcionários e nem entregar a casa, que era alugada, toda destruída", disse. O imóvel onde funcionava a Escola Base foi depredado na época das denúncias.
Para reformar a casa e pagar os salários, Shimada precisou pegar dinheiro emprestado. Mara e Saulo Costa Nunes, pais de um aluno, não querem falar sobre o assunto. Na época, foram acusados de participar dos "abusos".
Todos processaram o Estado. As ações estão em diferentes fases. A mais adiantada é a do casal Shimada e de Maurício, que tem sentença em primeira instância.
A Justiça entendeu que houve culpa do delegado pelas acusações. O Estado foi condenado a pagar indenização.
Os envolvidos não concordaram com o valor da indenização -pouco mais de R$ 12 mil- e aguardam decisão da Justiça sobre seu recurso.

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