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CORRIDA DE OBSTÁCULO
Cego desde os 13 anos, Mizael Conrado afirma que é preciso mudar a mentalidade das novas gerações
Para atleta, exclusão esconde preconceito
DA REPORTAGEM LOCAL
Os músculos ajudam a superar
as barreiras físicas da cidade. Mas
nem os atletas paraolímpicos escapam dos obstáculos invisíveis
do preconceito.
O nadador Joon Sok Seo já perdeu a conta das vezes em que viu
pessoas sem nenhuma deficiência
usando vagas especiais de estacionamento em shoppings. "Eu não
deixo barato e compro briga. É
um abuso. O fulano desrespeita o
uso da vaga
porque não foi
educado com a
consciência de
que eu preciso
usar", reclama.
Já Mizael Conrado critica o
que chama de
política assistencialista.
"Não queremos ônibus de
graça, mas sim
veículos adaptados. Precisamos de empregos qualificados,
mas para isso é necessário que as
escolas possam nos receber com
uma atenção especial para que tenhamos boa capacitação e possamos disputar o mercado de trabalho em condições de igualdade",
diz o atleta, que sentiu na pele as
dificuldades para ingressar na
carreira que escolheu.
Aprovado no vestibular de direito em uma faculdade privada,
logo no primeiro dia de aula percebeu que a escola não oferecia
nenhuma adaptação para cegos.
"Não tive apoio dos professores
nem dos colegas de classe. A minha sorte foi que consegui transferência rapidamente."
Na nova escola, Mizael tem material impresso em braile e acesso
facilitado por rampas e elevadores, o que lhe dá as mesmas oportunidades dos outros alunos. É o
que se chama "inclusão social".
Mas para ir aos estádios acompanhar jogos do seu time, o São Paulo, ainda enfrenta a segregação,
pois é constantemente obrigado a
ficar na área reservada a deficientes. "Gosto mesmo é de ficar com
a galera, na arquibancada. Mesmo sem ver o campo, curto a vibração e o barulho da torcida."
Mizael acredita que nunca vai
existir uma sociedade totalmente
despida de preconceitos. "Sempre
haverá, seja contra negros, cegos
ou gordos. Mas
o que move
minha luta é
que a exclusão
pode diminuir,
e muito. Basta
mudarmos a
mentalidade
das novas gerações com
educação inclusiva", diz.
Cego desde
os 13 anos em
decorrência de
cataratas e de
um descolamento de retina, o garoto que queria ser jogador de futebol ostenta na parede de casa
uma cascata de medalhas, entre
elas a de melhor do mundo de futebol de 5 para cegos, em 1998.
Agora, sonha com as Paraolimpíadas de Pequim, em 2008.
O nadador Joon tem adotado
uma estratégia de risco desde que
voltou de Atenas. Querendo
maior mobilidade para andar pela cidade, tem deixado a cadeira
de rodas em casa e sai às ruas com
sua bengala, ainda que num andar desbalanceado. "Se São Paulo
fosse como a vila olímpica, usaria
mais a cadeira. Mas prefiro sofrer
tombos com a bengala para ter
mais independência", diz, na esperança de que a medalha ajude a
derrubar preconceitos. "A paraolimpíada é uma vitrine do potencial humano."
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