São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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PMs são suspeitos de chacina em Mauá

Três foram mortos; Polícia Civil investiga suspeita de ação de grupo de extermínio que seria formado por policiais militares

Só neste ano, Ouvidoria recebeu outras sete denúncias de que policiais militares seriam autores de assassinatos na cidade

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois homens e um adolescente foram baleados e mortos na madrugada de ontem na favela do Jardim Santa Rosa, periferia de Mauá (Grande São Paulo). A Polícia Civil investiga a suspeita de terem sido assassinados por um grupo de extermínio supostamente formado por policiais militares do 30º Batalhão de Mauá. Foi a 23ª chacina do ano no Estado, totalizando 78 mortos.
Os corpos foram encontrados lado a lado embaixo de um toldo azul. Ninguém foi preso.
Só neste ano, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo recebeu outras sete denúncias de que PMs seriam os responsáveis por mortes de autoria desconhecida em Mauá.
Todas foram encaminhadas à Corregedoria da Polícia Militar, que abriu procedimento para apurá-las.
De acordo com a PM, até ontem não havia nenhuma informação sobre a participação de PMs em homicídios em Mauá.

Ponto-de-venda
De acordo com policiais civis, as vítimas estavam em um ponto-de-venda de drogas e eram usuárias de entorpecentes.
O comerciante Geraldo Bortoletto, 39, o estudante Enderson Leite Vaz, 17, e um homem sem documentos, aparentando 30 anos, foram mortos a tiros às 3h35 na travessa Nova Jersey.
Segundo a investigação policial, uma testemunha relatou ter visto dois homens não identificados e armados descerem de um carro com vidros escuros e abordarem as três vítimas; um dos agressores teria dito que ele e o colega eram "PMs".
Depois, ainda de acordo com a versão dada pela testemunha à polícia, os dois homens retiraram das vítimas as drogas que elas haviam comprado e fizeram mais de 20 disparos.
Um investigador de Mauá, que falou à Folha sob a condição de anonimato, disse que, apesar do número de tiros, peritos da Polícia Técnico-Científica do IC (Instituto de Criminalística) só acharam uma cápsula de projétil de pistola .380 mm no local. A arma que PMs usam é a .40.
Policiais civis suspeitam da possibilidade de as cápsulas terem sido retiradas da rua momentos após o crime. Eles não descartam até a hipótese da participação de outros PMs, estes fardados, que depois do crime teriam recolhido cápsulas para ocultar provas.
Segundo as denúncias feitas à Ouvidoria, policiais militares receberiam propina de traficantes de Mauá para deixá-los vender drogas. Quando os donos das bocas-de-fumo não pagam, são mortos.


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