São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Jovem trabalha sem concluir ensino médio

Segundo o IBGE, 63% dos brasileiros na faixa de 18 a 24 anos que entram no mercado não terminaram o antigo 2º grau

No ritmo atual, apesar dos avanços registrados desde 1998, só daqui a 30 anos o Brasil alcançará o patamar de hoje do Chile

ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar dos avanços nos últimos dez anos, quase dois terços dos jovens de 18 a 24 anos no país começam a trabalhar sem ter concluído o ensino médio.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, o percentual de brasileiros nessa faixa que haviam, pelo menos, concluído o nível médio foi de 37% em 2008.
Olhando para trás, o avanço foi significativo, pois a taxa, que estava em 18% em 1998, dobrou em dez anos. Apesar da melhoria, o Brasil ainda está distante do padrão de países desenvolvidos, tendo avançado em ritmo menor que algumas nações.
Para o economista Fernando Veloso, do Ibmec/RJ, a meta de ter 100% dos jovens com ensino médio completo está longe de ser atingida até por nações ricas. No ritmo atual, só em 30 anos o país atingirá, diz, o nível atual de escolaridade e acesso ao ensino médio do Chile.
Veloso afirma que o Brasil poderia ter objetivos mais realistas, inspirados em países de perfil parecido, como no caso chileno, onde, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 64% da população de 25 a 34 anos tem nível médio completo. O Brasil, trabalhando com esse mesmo recorte de idade, tem 26 pontos a menos.
"Todos os países têm melhorado. A questão é ver a velocidade. Os dados da OCDE mostram que, comparando duas gerações num mesmo país, nosso progresso ainda é menor, por exemplo, que o de Coreia, Irlanda, Chile, Grécia e Portugal", afirma Veloso.
Para Célio da Cunha, consultor da Unesco (órgão da ONU para educação, ciência e cultura) no Brasil, os dados do IBGE ressaltam a urgência de ampliar até o ensino médio a obrigatoriedade da frequência à escola. Hoje, a Constituição determina que a matrícula é obrigatória só no fundamental.
"A Irlanda, há 20 anos, tomou a decisão de universalizar o ensino médio. Com o processo de globalização, as exigências de qualificação são cada vez maiores. O Brasil deve se esforçar para também estabelecer como mínimo o nível médio", declara Cunha.

Desigualdades
Outros dados relativos à educação na pesquisa do IBGE seguem a mesma tendência de melhoria, mas ainda num patamar distante do ideal.
Na faixa etária de 15 a 17 anos, em que o jovem deveria estar cursando o ensino médio se não houvesse atraso em sua trajetória escola, 51% estavam no nível adequado para sua idade. Em 1998, a taxa era de 30%.
Nesse indicador, como em outros, a desigualdade é significativa. Considerando apenas jovens de 15 a 17 anos que estavam entre os 20% mais pobres da população, a proporção de frequência ao ensino médio era de 31%. Já entre os 20% mais ricos, a proporção dos jovens no nível médio chegou a 78%.
A pesquisa aponta que 8% das crianças de nove anos de idade ainda não haviam sido alfabetizadas. No Nordeste, a proporção chegava a 16%.

Profissionalizante
Alvo de investimentos ainda tímidos, o ensino profissionalizante é capaz de aumentar em até 37,4% o rendimento médios dos jovens que o cursaram.
Considerando apenas os brasileiros com ao menos ensino médio completo, a renda média de quem fez esse tipo de curso era de R$ 934 em 2008. Para os demais, estava em R$ 680.
Para Ana Lúcia Sabóia, gerente da Síntese de Indicadores Sociais, os dados mostram o impacto positivo do ensino profissionalizante, ainda pouco difundido no país. "Sem dúvida, ele facilita também o ingresso no mercado de trabalho", diz.


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