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Jovem trabalha sem concluir ensino médio
Segundo o IBGE, 63% dos brasileiros na faixa de 18 a 24 anos que entram no mercado não terminaram o antigo 2º grau
No ritmo atual, apesar
dos avanços registrados desde 1998, só daqui a 30 anos o Brasil alcançará o patamar de hoje do Chile
ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar dos avanços nos últimos dez anos, quase dois terços
dos jovens de 18 a 24 anos no
país começam a trabalhar sem
ter concluído o ensino médio.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem
pelo IBGE, o percentual de brasileiros nessa faixa que haviam,
pelo menos, concluído o nível
médio foi de 37% em 2008.
Olhando para trás, o avanço
foi significativo, pois a taxa, que
estava em 18% em 1998, dobrou
em dez anos. Apesar da melhoria, o Brasil ainda está distante
do padrão de países desenvolvidos, tendo avançado em ritmo
menor que algumas nações.
Para o economista Fernando
Veloso, do Ibmec/RJ, a meta de
ter 100% dos jovens com ensino médio completo está longe
de ser atingida até por nações
ricas. No ritmo atual, só em 30
anos o país atingirá, diz, o nível
atual de escolaridade e acesso
ao ensino médio do Chile.
Veloso afirma que o Brasil
poderia ter objetivos mais realistas, inspirados em países de
perfil parecido, como no caso
chileno, onde, segundo a OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 64% da população de 25
a 34 anos tem nível médio completo. O Brasil, trabalhando
com esse mesmo recorte de
idade, tem 26 pontos a menos.
"Todos os países têm melhorado. A questão é ver a velocidade. Os dados da OCDE mostram que, comparando duas gerações num mesmo país, nosso
progresso ainda é menor, por
exemplo, que o de Coreia, Irlanda, Chile, Grécia e Portugal", afirma Veloso.
Para Célio da Cunha, consultor da Unesco (órgão da ONU
para educação, ciência e cultura) no Brasil, os dados do IBGE
ressaltam a urgência de ampliar até o ensino médio a obrigatoriedade da frequência à escola. Hoje, a Constituição determina que a matrícula é obrigatória só no fundamental.
"A Irlanda, há 20 anos, tomou a decisão de universalizar
o ensino médio. Com o processo de globalização, as exigências de qualificação são cada
vez maiores. O Brasil deve se
esforçar para também estabelecer como mínimo o nível médio", declara Cunha.
Desigualdades
Outros dados relativos à educação na pesquisa do IBGE seguem a mesma tendência de
melhoria, mas ainda num patamar distante do ideal.
Na faixa etária de 15 a 17
anos, em que o jovem deveria
estar cursando o ensino médio
se não houvesse atraso em sua
trajetória escola, 51% estavam
no nível adequado para sua idade. Em 1998, a taxa era de 30%.
Nesse indicador, como em
outros, a desigualdade é significativa. Considerando apenas
jovens de 15 a 17 anos que estavam entre os 20% mais pobres
da população, a proporção de
frequência ao ensino médio era
de 31%. Já entre os 20% mais
ricos, a proporção dos jovens
no nível médio chegou a 78%.
A pesquisa aponta que 8%
das crianças de nove anos de
idade ainda não haviam sido alfabetizadas. No Nordeste, a
proporção chegava a 16%.
Profissionalizante
Alvo de investimentos ainda
tímidos, o ensino profissionalizante é capaz de aumentar em
até 37,4% o rendimento médios dos jovens que o cursaram.
Considerando apenas os brasileiros com ao menos ensino
médio completo, a renda média
de quem fez esse tipo de curso
era de R$ 934 em 2008. Para os
demais, estava em R$ 680.
Para Ana Lúcia Sabóia, gerente da Síntese de Indicadores
Sociais, os dados mostram o
impacto positivo do ensino
profissionalizante, ainda pouco
difundido no país. "Sem dúvida,
ele facilita também o ingresso
no mercado de trabalho", diz.
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