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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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SEGURANÇA

Por meio de um túnel cavado de fora para dentro, 87 presos saíram da Penitenciária do Estado; 34 não foram localizados

Pelo menos 6 morrem durante fuga em SP

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Oitenta e sete detentos usaram um túnel para fugir ontem da Penitenciária do Estado, no complexo do Carandiru, na zona norte da capital paulista. Pelo menos seis presos morreram soterrados quando parte do túnel desabou, mas, segundo a Polícia Militar, esse número pode ser bem maior, pois 34 detentos não haviam sido localizados até as 23h30 de ontem.
A PM encontrou um revólver e 21 telefones celulares com os presos recapturados. A fuga teria ocorrido por volta das 13h30, durante o horário de visita.
O alarme foi dado por um morador, que viu presos saindo de uma boca-de-lobo localizada próxima ao complexo e telefonou para a PM, que estava em esquema especial ontem, prevendo rebeliões em vários presídios paulistas comandados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
Uma outra moradora, uma dona-de-casa que não quis se identificar, disse que se surpreendeu, ao ver pela janela da cozinha de sua casa, dois homens completamente sujos de barro. Segundo ela, os dois caminhavam tranquilamente. Momentos depois, houve a chegada da polícia. Os policiais conseguiram interromper a fuga e prenderam inicialmente 29 detentos que estavam nas proximidades ou saindo do túnel.
Mais tarde, outros 13 foram recapturados em uma casa na rua Jovita, 180, nas proximidades da penitenciária. A casa teria sido usada como base para a construção do túnel. Os policiais chegaram ao local por meio de denúncias de moradores da região. Eles informaram que dois suspeitos transitavam de jaleco pela rua, e os PMs passaram a vasculhar a área. Os policiais desconfiaram do entulho em frente à casa e, ao vistoriar o local, perceberam vários homens reunidos em um quarto assistindo à TV. Quando o grupo percebeu, a casa já estava cercada. Eles fugiram para a casa ao lado, mas foram presos.
Segundo o biólogo Silvio Eduardo Barbosa, 48, que não estava em sua casa no momento da invasão, os detentos arrombaram portas e quebraram e reviraram móveis. No local, foram presos 13 foragidos e um pedreiro.
Vizinhos afirmaram que nunca desconfiaram da movimentação na casa usada pelos criminosos. Apenas o pedreiro era visto, sempre trabalhando em horário comercial. Para os moradores, a casa passava por uma suposta reforma havia mais de cinco meses.
Outros três detentos foram recapturados por policiais militares horas mais tarde.
Os primeiros presos, sujos de barro, foram rendidos e reunidos até a chegada de reforço policial. Pelo menos sete detentos, no entanto, ficaram presos com o desmoronamento do túnel. PMs e bombeiros fizeram o trabalho de resgate, e um detento saiu com vida. Seis corpos foram resgatados até as 23h de ontem. Os nomes dos mortos não foram divulgados. A busca seguiria pela madrugada, segundo os bombeiros.
De acordo com o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, o túnel, de 120 metros de comprimento e 50 centímetros de diâmetro, foi feito de fora para dentro da penitenciária. Uma pessoa de fora da cadeia, segundo ele, rompeu o piso de uma oficina desativada da penitenciária e arrombou dois portões, abrindo passagem para os presos.
No momento da descoberta da fuga, houve tumulto entre funcionários da cadeia e visitantes. Um familiar de um detento foi preso depois de, segundo a secretaria, ter agredido um agente.
O secretário diz que os detentos fugitivos eram dos pavilhões 1, 2 e 3 da penitenciária. Furukawa negou o envolvimento do PCC na fuga, mas não forneceu os nomes dos foragidos. Segundo ele, a listagem ainda seria feita pela direção da penitenciária.
"O total [de fugas] deste ano é um terço dos casos registrados em 2002 [388]. São percentuais dos melhores países da Europa. Mesmo com a fuga de hoje [ontem], o Estado de São Paulo tem um sistema penitenciário seguro", afirmou o secretário da Administração Penitenciária.
As últimas grandes fugas do complexo do Carandiru ocorreram em 2001. Naquele ano, 106 presos escaparam da Casa de Detenção, hoje já desativada, e 109 conseguiram fugir da Penitenciária do Estado, segundo dados do secretário. "Não foi a primeira [fuga], é claro, é um local difícil", definiu o secretário.



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