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SEGURANÇA
Por meio de um túnel cavado de fora para dentro, 87 presos saíram da Penitenciária do Estado; 34 não foram localizados
Pelo menos 6 morrem durante fuga em SP
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Oitenta e sete detentos usaram
um túnel para fugir ontem da Penitenciária do Estado, no complexo do Carandiru, na zona norte da
capital paulista. Pelo menos seis
presos morreram soterrados
quando parte do túnel desabou,
mas, segundo a Polícia Militar, esse número pode ser bem maior,
pois 34 detentos não haviam sido
localizados até as 23h30 de ontem.
A PM encontrou um revólver e
21 telefones celulares com os presos recapturados. A fuga teria
ocorrido por volta das 13h30, durante o horário de visita.
O alarme foi dado por um morador, que viu presos saindo de
uma boca-de-lobo localizada próxima ao complexo e telefonou para a PM, que estava em esquema
especial ontem, prevendo rebeliões em vários presídios paulistas
comandados pelo PCC (Primeiro
Comando da Capital).
Uma outra moradora, uma dona-de-casa que não quis se identificar, disse que se surpreendeu, ao
ver pela janela da cozinha de sua
casa, dois homens completamente sujos de barro. Segundo ela, os
dois caminhavam tranquilamente. Momentos depois, houve a
chegada da polícia. Os policiais
conseguiram interromper a fuga e
prenderam inicialmente 29 detentos que estavam nas proximidades ou saindo do túnel.
Mais tarde, outros 13 foram recapturados em uma casa na rua
Jovita, 180, nas proximidades da
penitenciária. A casa teria sido
usada como base para a construção do túnel. Os policiais chegaram ao local por meio de denúncias de moradores da região. Eles
informaram que dois suspeitos
transitavam de jaleco pela rua, e
os PMs passaram a vasculhar a
área. Os policiais desconfiaram
do entulho em frente à casa e, ao
vistoriar o local, perceberam vários homens reunidos em um
quarto assistindo à TV. Quando o
grupo percebeu, a casa já estava
cercada. Eles fugiram para a casa
ao lado, mas foram presos.
Segundo o biólogo Silvio Eduardo Barbosa, 48, que não estava em
sua casa no momento da invasão,
os detentos arrombaram portas e
quebraram e reviraram móveis.
No local, foram presos 13 foragidos e um pedreiro.
Vizinhos afirmaram que nunca
desconfiaram da movimentação
na casa usada pelos criminosos.
Apenas o pedreiro era visto, sempre trabalhando em horário comercial. Para os moradores, a casa passava por uma suposta reforma havia mais de cinco meses.
Outros três detentos foram recapturados por policiais militares
horas mais tarde.
Os primeiros presos, sujos de
barro, foram rendidos e reunidos
até a chegada de reforço policial.
Pelo menos sete detentos, no entanto, ficaram presos com o desmoronamento do túnel. PMs e
bombeiros fizeram o trabalho de
resgate, e um detento saiu com vida. Seis corpos foram resgatados
até as 23h de ontem. Os nomes
dos mortos não foram divulgados. A busca seguiria pela madrugada, segundo os bombeiros.
De acordo com o secretário da
Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, o túnel, de 120
metros de comprimento e 50 centímetros de diâmetro, foi feito de
fora para dentro da penitenciária.
Uma pessoa de fora da cadeia, segundo ele, rompeu o piso de uma
oficina desativada da penitenciária e arrombou dois portões,
abrindo passagem para os presos.
No momento da descoberta da
fuga, houve tumulto entre funcionários da cadeia e visitantes. Um
familiar de um detento foi preso
depois de, segundo a secretaria,
ter agredido um agente.
O secretário diz que os detentos
fugitivos eram dos pavilhões 1, 2 e
3 da penitenciária. Furukawa negou o envolvimento do PCC na
fuga, mas não forneceu os nomes
dos foragidos. Segundo ele, a listagem ainda seria feita pela direção da penitenciária.
"O total [de fugas] deste ano é
um terço dos casos registrados
em 2002 [388]. São percentuais
dos melhores países da Europa.
Mesmo com a fuga de hoje [ontem], o Estado de São Paulo tem
um sistema penitenciário seguro", afirmou o secretário da Administração Penitenciária.
As últimas grandes fugas do
complexo do Carandiru ocorreram em 2001. Naquele ano, 106
presos escaparam da Casa de Detenção, hoje já desativada, e 109
conseguiram fugir da Penitenciária do Estado, segundo dados do
secretário. "Não foi a primeira
[fuga], é claro, é um local difícil",
definiu o secretário.
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