|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Operador narra desespero no dia do acidente
"Ainda choro. Vejo o piloto tentando controlar o Boeing, mãos presas ao manche. E o desespero das pessoas", diz controlador
Funcionários ficaram meia hora em alerta até saberem do pouso do jato que atingiu vôo da Gol; quem continua na ativa tem crises de choro
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Durante a meia hora do período de "alerta" devido ao sumiço do radar do vôo 1907 da
Gol, em 29 de setembro, o controle aéreo de Brasília viveu
nervosismo e ansiedade. Só
quando chegou ao centro a notícia de que um jato havia feito
pouso de emergência na serra
do Cachimbo, relatando um
choque no ar, os 30 controladores presentes desabaram em
choro, desespero ou paralisia.
Tentavam entender como a
colisão poderia ter ocorrido, esperavam notícias sobre o paradeiro do Boeing e continuaram
trabalhando por mais de uma
hora até uma nova equipe render os dez controladores que
cuidavam do setor que monitorava a área do acidente, em que
morreram 154 pessoas.
O relato é de um controlador
presente no dia. Desde então a
Aeronáutica teria recebido 36
atestados médicos de controladores e um deles teve AVC (acidente vascular cerebral) em
pleno trabalho, dizem colegas.
As baixas e o estresse de trabalho foram os principais ingredientes para a crise dos aeroportos, quando a operação-padrão em Brasília afetou vôos
e passageiros em todo o país.
A Aeronáutica confirma que
pôs uma psicóloga de plantão
no dia da colisão e que hoje há
sete profissionais se revezando
na sala de controle. Não é divulgado o estado dos operadores,
mas há relatos de seguidas crises de choro, tremores, insônia,
perda de peso, dormência no
corpo e quatro internações.
Alguns se queixam do atendimento dado e dizem que a reação do Comando ao controle de
fluxo nos aeroportos (convocação geral, cancelamento de folga, ameaças) piorou a situação.
"Eu ainda choro, não posso
deixar a cabeça pensar", diz o
controlador, que não quis ser
identificado. "Vejo o piloto tentando controlar o Boeing, mãos
presas ao manche. E o desespero das pessoas."
No dia, houve pânico entre os
controladores ao verem o noticiário na TV da sala de repouso,
mas ainda discutiam a hipótese
de um pouso forçado como o do
vôo da Varig que, em 89, desceu
no mato, com 46 sobreviventes.
Segundo relatos, ainda sob
crença de que o Legacy seguia o
plano de vôo, teciam a tese de
que a colisão teria ocorrido na
descida de 38 mil para 36 mil
pés -prevista na rota antes de
Manaus. Na realidade, ambos
os aviões estavam a 37 mil pés.
"As mulheres foram rapidamente amparadas. Mas, logo
depois, os homens desabaram,
os que não ficaram completamente em choque, anestesiados, não querendo acreditar."
Ficaram no centro de controle
até de madrugada. Outro controlador, que não trabalhava no
dia, relata que está com estresse pós-traumático. "O problema é o medo, medo de isso
acontecer de novo. Junta isso
com a desilusão coletiva, a falta
de boas condições de trabalho."
Texto Anterior: Sistema prisional: Presos em greve de fome têm visita suspensa Próximo Texto: Imprecisão sobre localização do jato não foi notada Índice
|