São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Ecstasy é produzido em "fundo de quintal" no Rio

Droga chegou ao Brasil contrabandeada da Europa

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Contrabandeado da Europa a partir dos anos 90, o ecstasy já começou a ser produzido também em laboratórios de fundo de quintal na região Sudeste, segundo investigações policiais e relatos de jovens envolvidos com o consumo das drogas sintéticas.
Os coloridos comprimidos de ecstasy, conhecidos como "balas" ou "pastilhas", estão tomando espaço da cocaína e da maconha nos hábitos de consumo de jovens de classe média.
A afirmação é sustentada pela polícia do Rio, por especialistas da área de saúde e por freqüentadores de festas raves, que preferem atribuir o aumento de casos de morte e internações por overdose à má qualidade da droga "genérica" produzida aqui.
A titular da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), Patrícia Aguiar, coordenadora da operação que há dois dias prendeu uma quadrilha de jovens de classe média alta na zona sul do Rio, diz que comprimidos de ecstasy estão sendo fabricados no Estado.
"Há indícios de que existam laboratórios de drogas sintéticas montados em favelas. Acredito que muitos jovens busquem esses comprimidos para vender no asfalto. Está cada vez mais difícil prender [as quadrilhas] pelo fato de os traficantes estarem cada vez mais preparados e temerosos de falar ao telefone [por causa das escutas] ou traficar", disse a delegada.
Responsável pela prisão de cinco jovens de classe média, traficantes de drogas sintética, há dez dias no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste, o delegado Eduardo Freitas, da 20ª DP (Vila Isabel), aponta a existência de um laboratório caseiro de drogas sintéticas bem próximo do Rio. "Em nossa investigação, identificamos um laboratório de ecstasy e LSD que fica em uma grande cidade. Só posso dizer isso, já que estou trabalhando para fechá-lo em breve", afirmou o policial.
Segundo ele, essa "fábrica" responde por uma parcela muito pequena do abastecimento no mercado das drogas sintéticas, mas a polícia já está "muito preocupada com os rumos da produção caseira de ecstasy".

Ecstasy x cocaína
Sobre a troca da cocaína pelo ecstasy, os delegados cariocas têm explicações semelhantes para a preferência dos jovens de classe média pelas drogas sintética em relação as drogas convencionais como a maconha e cocaína.
"O jovem de classe média não acredita que ingerir e vender o comprimido seja crime. Mas é. Além disso, consumindo ecstasy, o jovem não precisa subir morros, entrar em favelas e ter contato com bandidos que portam armas. O comprimido é pequeno e fácil de ser escondido. Não deixa cheiro, não suja as mãos. Por isso as vendas das outras drogas estão em declínio entre eles", analisa Freitas.
De acordo com informações da PF (Polícia Federal), baseadas em apreensões, o ecstasy é a segunda droga mais consumida no país. De 2002 a 2005 foram apreendidos 220.062 comprimidos. Entre janeiro de 2006 a outubro de 2007 a apreensão quase se igualou: foram 196.420 comprimidos.


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