|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmara autoriza videoconferência para preso
Posto em pauta por pressão de José Serra após STF declarar lei paulista inconstitucional, projeto vai para sanção do presidente Lula
Sala de videoconferência terá de ser fiscalizada pelo juiz responsável pelo caso, pela Ordem dos Advogados e pelo Ministério Público
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados
aprovou ontem, em votação
simbólica, projeto que autoriza
a videoconferência em interrogatórios de presos. A proposta,
colocada na pauta por pressão
do governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), e já aprovada no Senado, segue para sanção do presidente Lula.
Pelo texto, a videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real será
usada em caráter excepcional,
quando o juiz, em decisão fundamentada, entender que a
medida seja necessária para
prevenir risco à segurança pública; o réu estiver com dificuldades de locomoção; para impedir a influência do réu no
ânimo da testemunha; ou houver gravíssima questão de ordem pública.
As partes terão de ser intimadas com dez dias de antecedência. Segundo o projeto, o preso
poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, os atos da audiência única de instrução e do julgamento e terá acesso a telefone para falar com seu defensor
no presídio e o advogado na sala
de audiência do fórum.
Além disso, a sala da videoconferência terá que ser fiscalizada pelo juiz da causa, pelo
Ministério Público e pela OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil). O sistema também poderá
ser usado para outros atos processuais, como acareação, reconhecimento de pessoas e coisas
ou inquirição de testemunha.
O texto final aprovado ontem
a toque de caixa pelos deputados foi fruto de pressão de Serra após o STF (Supremo Tribunal Federal) declarar inconstitucional em outubro deste ano
uma lei paulista, de 2005, sobre
o uso de videoconferência em
interrogatórios. O secretário de
Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, chegou a ligar
para o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), que tinha
se manifestado contra a votação do projeto, para convencê-lo da importância do texto.
"Fui contra a votação açodada, mas agora concordo com o
texto, de usar a videoconferência em caso excepcional. Imagina o deslocamento do Fernandinho Beira-Mar? Além de ser
oneroso, a cidade pára. O atual
sistema expõe o bandido como
se ele fosse personalidade."
No julgamento do STF no final de outubro, a Corte disse
que, pela Constituição, questões processuais devem ser tratadas apenas por lei federal, como a aprovada pela Câmara ontem. Na ocasião, o Supremo
mandou soltar Danilo Ricardo
Torczynnowski, que havia sido
condenado a sete anos de prisão por roubo, anulando o processo desde a fase de interrogatório. Torczynnowski, que foi
interrogado por videoconferência, alegou que a lei em
questão só poderia ter sido tratada pelo Congresso.
Em outros Estados a prática
também é prevista em leis locais e em resoluções do Judiciário, mas elas não foram julgadas pelo STF. O projeto aprovado ontem é de Aloizio Mercadante (PT-SP).
Texto Anterior: Foco: FAB "moderniza" normas e permite rabo-de-cavalo e trança para mulheres Próximo Texto: Policiais federais planejam hoje uma paralisação de 24 horas Índice
|