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Artistas refazem painel apagado por engano
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é exatamente um estúdio. Sentados no canteiro que
separa a alça de acesso da avenida 23 de Maio, sob um calor
seco de 33C, osgemeos seguram um calhamaço de folhas
rabiscadas e gritam para os outros grafiteiros, entre as buzinas dos carros engarrafados. Só
assim os traços de spray vão
surgindo nos 680 m2 de muro
azul, com Nina Pandolfo e
Francisco Rodrigues, o Nunca,
a subir e descer nos guindastes.
Eles tentam trazer de volta,
desde segunda, um pouco do
colorido que havia ali antes do
"cinza da prefeitura". "Por engano", a firma contratada para
deixar a "cidade limpa" cobriu,
em julho, um painel feito pelos
quatro grafiteiros em 2002.
"Foi um desrespeito com a cidade, que já é cinza, apagarem
o mural e pintarem, mais uma
vez, de cinza", desabafa Otávio
Pandolfo, um d'osgemeos.
Quem passa pela via concorda. "Obrigado por ter feito isso
de novo, é da hora", diz um motorista com um aceno, desacelerando o carro e atrapalhando
o trânsito já carregado, até que
uma buzinada o faz andar. É
São Paulo -a cidade que o
quarteto tentará ali retratar.
Nina, com seu boné e calças
jeans cobertas de tinta, quer fazer as pessoas verem. "Muita
gente só lembrou do mural
quando apagou. Isso é ver e não
ver", diz. Com a ponta do dedo
azul, ela indica os carros parados. "Esses segundos que as
pessoas param aqui já servem
para ver e pensar a arte."
E ela traz um pedaço de tinta
velha que "estufou" do muro,
com no mínimo oito camadas
coloridas -cada uma, uma pintura diferente do muro; a do
centro é "o cinza da prefeitura". "Hoje, quando vejo o caminhãozinho do Cidade Limpa,
grito: "Não vai apagar grafite"."
E chega a marmita em papel
alumínio. Todos fazem uma
pausa no spray, à sombra de
uma árvore raquítica, na calçada. E discutem idéias. Nunca
explica os desenhos políticos
que já despontam no muro, um
homem de terno com uma árvore em chamas. "É para trazer
um pouco reflexão às pessoas."
O muro fica pronto dia 21, segundo acerto entre artistas,
prefeitura e Associação Comercial de SP (que banca a
obra). Antes do Natal, os paulistanos terão um presente colorido em sua paisagem.
"O lado positivo é que terá
dois lados dialogando", diz Nina, sorrindo. É que, no outro lado da avenida, jaz outro mural
pintado pelos mesmos artistas,
também em 2002. É a outra
metade da obra antiga, que a
prefeitura não pintou de cinza.
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