São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Artistas refazem painel apagado por engano

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é exatamente um estúdio. Sentados no canteiro que separa a alça de acesso da avenida 23 de Maio, sob um calor seco de 33C, osgemeos seguram um calhamaço de folhas rabiscadas e gritam para os outros grafiteiros, entre as buzinas dos carros engarrafados. Só assim os traços de spray vão surgindo nos 680 m2 de muro azul, com Nina Pandolfo e Francisco Rodrigues, o Nunca, a subir e descer nos guindastes.
Eles tentam trazer de volta, desde segunda, um pouco do colorido que havia ali antes do "cinza da prefeitura". "Por engano", a firma contratada para deixar a "cidade limpa" cobriu, em julho, um painel feito pelos quatro grafiteiros em 2002. "Foi um desrespeito com a cidade, que já é cinza, apagarem o mural e pintarem, mais uma vez, de cinza", desabafa Otávio Pandolfo, um d'osgemeos.
Quem passa pela via concorda. "Obrigado por ter feito isso de novo, é da hora", diz um motorista com um aceno, desacelerando o carro e atrapalhando o trânsito já carregado, até que uma buzinada o faz andar. É São Paulo -a cidade que o quarteto tentará ali retratar.
Nina, com seu boné e calças jeans cobertas de tinta, quer fazer as pessoas verem. "Muita gente só lembrou do mural quando apagou. Isso é ver e não ver", diz. Com a ponta do dedo azul, ela indica os carros parados. "Esses segundos que as pessoas param aqui já servem para ver e pensar a arte."
E ela traz um pedaço de tinta velha que "estufou" do muro, com no mínimo oito camadas coloridas -cada uma, uma pintura diferente do muro; a do centro é "o cinza da prefeitura". "Hoje, quando vejo o caminhãozinho do Cidade Limpa, grito: "Não vai apagar grafite"."
E chega a marmita em papel alumínio. Todos fazem uma pausa no spray, à sombra de uma árvore raquítica, na calçada. E discutem idéias. Nunca explica os desenhos políticos que já despontam no muro, um homem de terno com uma árvore em chamas. "É para trazer um pouco reflexão às pessoas."
O muro fica pronto dia 21, segundo acerto entre artistas, prefeitura e Associação Comercial de SP (que banca a obra). Antes do Natal, os paulistanos terão um presente colorido em sua paisagem.
"O lado positivo é que terá dois lados dialogando", diz Nina, sorrindo. É que, no outro lado da avenida, jaz outro mural pintado pelos mesmos artistas, também em 2002. É a outra metade da obra antiga, que a prefeitura não pintou de cinza.


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