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No Morro do Índio, taxa foi de 208 assassinatos para 100 mil, contra 44 para 100 mil da cidade
Mortes violentas superam as de São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontado como um dos locais
prioritários pelo plano de ação do
Jardim Ângela, o bairro Morro do
Índio registrou taxa de 208 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2002. Esse número é cinco
vezes o da cidade de São Paulo,
onde a proporção foi de 44 para
cada 100 mil. Em Cali (Colômbia),
uma das cidades mais violentas
do mundo, foram assassinados 91
em cada grupo de 100 mil.
As estruturas viária e de moradia revelam a interdependência
perversa entre a organização do
espaço e a violência. Como afirma
o próprio estudo, "o morro é uma
espécie de "fortaleza" de difícil e
reduzido acesso viário, facilmente
controlável pelo crime".
Segundo policiais da região, a
presença do tráfico combinada
com a habitação precária contribuem para a banalização da violência. Uma briga por causa de lixo colocado na porta de um vizinho, por exemplo, já resultou em
assassinato. Para os policiais, essa
cultura da violência "incentiva"
os crimes passionais, motivados
por desentendimentos fúteis.
Toda a região atendida pela delegacia que cuida também do
Morro do Índio tem de dez a 15
homicídios por mês, de acordo
com a polícia. Desses, 70% ocorrem por desentendimentos entre
bandidos, 20% em razão de crimes "passionais" e 10% por violência contra moradores. A estatística é da própria delegacia.
Rua Tijuape
A principal rua, a Tijuape, tem
pouco mais de um quilômetro,
mas sete moradores foram assassinados em 2002.
Além de expor a criminalidade,
essa estatística é indicadora de
outro problema apontado pelo
estudo: a falta de integração viária. Da rua Tijuape sobem escadões para barracos cujo acesso se
dá somente por esses degraus. Então, o endereço de todas essas
moradias, na prática, é o dessa via.
Ao todo, houve 21 homicídios
no Morro do Índio em 2002, em
uma área em que vivem cerca de
10 mil pessoas. No ano anterior,
foram 19 assassinatos.
A reportagem da Folha ouviu
dezenas de moradores da rua Tijuape. Todos apontaram pontos
em que, há poucos meses ou anos,
presenciaram assassinatos -de
manhã, à tarde, à noite.
Dono de um bar e morador da
região há 25 anos, quando as casas eram poucas, Jovino, 68, conta
que um de seus cinco filhos foi assassinado poucos anos atrás,
quando voltava do trabalho. Segundo ele, "estava com a marmita
na mão". Mas ele não gosta de entrar em detalhes. "Se abrir a boca,
eles [traficantes] fecham."
A dez metros de seu bar, dois
mecânicos trabalham para consertar a roda de um Fusca. Eles
também não revelam seus nomes,
mas dizem que até pouco tempo
atrás ali funcionava outro bar. Segundo um deles, fechou depois
que um frequentador foi morto.
O casal Odair, 59, e Eunice da
Silva, 50, afirma que o bairro melhorou. "Antes era todo final de
semana, agora é mais calmo", fala
Odair, que está aposentado. De
acordo com seu relato, antes havia dias em que não conseguia
sair de casa para ir trabalhar porque os criminosos fechavam a
rua, a única saída do bairro.
A Tijuape começa na estrada do
M'Boi Mirim e vai até o alto do
Morro do Índio, um exemplo do
esquema "espinha de peixe" definido pelo estudo. Apesar da proximidade dessa estrada, o local
também é distante para a polícia.
A delegacia que cuida da área fica
na outra via estrutural da região, a
estrada de Itapecerica, que forma
um "V" com a M'Boi Mirim. Chegar por dentro, pelos becos e vielas, é quase impossível.
(PDL)
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