São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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BARBARA GANCIA

"O" cara

Se Barack Obama e Michael Bloomberg vingarem, a esperança terá, de fato, vencido o medo

A CAMPANHA presidencial nos Estados Unidos mal começou e o caminho promete ser longo e árduo até a escolha definitiva dos candidatos que irão se enfrentar em novembro.
Mas seja quem for que os partidos resolvam nomear, a verdade é que já estamos a anos luz da sordidez das duas últimas eleições, que culminaram com vitória de George W. Bush depois de recontagem de votos em Estado (a Flórida) governado pelo irmão do presidente eleito.
Só o fato de que faltam 375 dias para que George Bush, Dick Vigarista Cheney, Karl Rove, Alberto Gonzales e o resto da cambada limpem suas gavetas em Washington e voltem para casa já traz grande alento a qualquer um que ainda acredite que a América é o produto mais bem-acabado do iluminismo europeu.
Está certo que Rudolph Giuliani mente um pouco, que Hillary Clinton mente mais ainda, que Barack Obama é inexperiente, que Mike Huckabee sabe tanto de politica externa quanto eu de física quântica ou que John Edwards corre o risco de ver a aventura presidencial ser encerrada a qualquer momento por conta de um caso extraconjugal.
Mas mesmo que Giuliani se gabe de ter acabado com o crime em Nova York (os índices de criminalidade já estavam em queda por três anos consecutivos na administração de David Dinkins) ou que Hillary nunca tenha explicado a contento sua atuação no caso Whitewater, alguém ousa dizer que uma chapa Hillary/Obama contra, digamos, McCain/Giuliani produziria uma contenda menor do que a que opôs o batráquio Bush ao insosso Kerry?
Na minha modestíssima opinião, um mundo em que craques como Nicolas Sarkozy e Gordon Brown ocupam, respectivamente, os cargos de presidente da França e primeiro-ministro da Grã-Bretanha mereceria ter um homem à altura na presidência dos Estados Unidos. Para mim (de novo, modestíssima), esse homem é Barack Obama.
O governo norte-americano é tão estruturado que anda sozinho, disso a gente está cansada de saber. Ou seja, a inexperiência de Barack Obama acaba não sendo um fator tão preponderante quanto dona Hillary quer fazer crer.
Acho que Obama é "o" cara porque é sangue novo, porque é um sujeito decente, porque é preparado, porque representa o lado positivo da globalização e do estado laico que deveria colocar de lado diferenças religiosas e étnicas (ele estudou numa madrassa e seus antepassados não foram escravos do colonizador branco) e porque seria um cala boca geral nos europeus, que costumam tachar os norte-americanos de reacionários, racistas e bitolados, mas não conseguem, eles mesmos, conviver pacificamente com muçulmanos e imigrantes do leste europeu. Depois de oito longos anos de Bush, é uma lufada de ar fresco ver um Estado predominantemente branco como Iowa dar uma vitória convincente a um sujeito chamado Barack Hussein Obama. E o nobre leitor já pensou se o atual prefeito de Nova York resolver mesmo entrar na parada? Não seria a glória chegar a novembro com Obama e Bloomberg brigando pela presidência?
Para alguns de nós, o bordão ainda causa náusea. Mas se Obama e Bloomberg vingarem, a esperança terá, de fato, vencido o medo.


barbara@uol.com.br

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