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BARBARA GANCIA
"O" cara
Se Barack Obama e Michael Bloomberg vingarem, a esperança terá, de fato, vencido o medo
A CAMPANHA presidencial nos
Estados Unidos mal começou
e o caminho promete ser longo e árduo até a escolha definitiva
dos candidatos que irão se enfrentar
em novembro.
Mas seja quem for que os partidos
resolvam nomear, a verdade é que já
estamos a anos luz da sordidez das
duas últimas eleições, que culminaram com vitória de George W. Bush
depois de recontagem de votos em
Estado (a Flórida) governado pelo
irmão do presidente eleito.
Só o fato de que faltam 375 dias
para que George Bush, Dick Vigarista Cheney, Karl Rove, Alberto Gonzales e o resto da cambada limpem
suas gavetas em Washington e voltem para casa já traz grande alento a
qualquer um que ainda acredite que
a América é o produto mais bem-acabado do iluminismo europeu.
Está certo que Rudolph Giuliani
mente um pouco, que Hillary Clinton mente mais ainda, que Barack
Obama é inexperiente, que Mike
Huckabee sabe tanto de politica externa quanto eu de física quântica
ou que John Edwards corre o risco
de ver a aventura presidencial ser
encerrada a qualquer momento por
conta de um caso extraconjugal.
Mas mesmo que Giuliani se gabe
de ter acabado com o crime em Nova
York (os índices de criminalidade já
estavam em queda por três anos
consecutivos na administração de
David Dinkins) ou que Hillary nunca tenha explicado a contento sua
atuação no caso Whitewater, alguém ousa dizer que uma chapa Hillary/Obama contra, digamos,
McCain/Giuliani produziria uma
contenda menor do que a que opôs o
batráquio Bush ao insosso Kerry?
Na minha modestíssima opinião,
um mundo em que craques como
Nicolas Sarkozy e Gordon Brown
ocupam, respectivamente, os cargos
de presidente da França e primeiro-ministro da Grã-Bretanha mereceria ter um homem à altura na presidência dos Estados Unidos. Para
mim (de novo, modestíssima), esse
homem é Barack Obama.
O governo norte-americano é tão
estruturado que anda sozinho, disso
a gente está cansada de saber. Ou seja, a inexperiência de Barack Obama
acaba não sendo um fator tão preponderante quanto dona Hillary
quer fazer crer.
Acho que Obama é "o" cara porque é sangue novo, porque é um sujeito decente, porque é preparado,
porque representa o lado positivo da
globalização e do estado laico que
deveria colocar de lado diferenças
religiosas e étnicas (ele estudou numa madrassa e seus antepassados
não foram escravos do colonizador
branco) e porque seria um cala boca
geral nos europeus, que costumam
tachar os norte-americanos de reacionários, racistas e bitolados, mas
não conseguem, eles mesmos, conviver pacificamente com muçulmanos e imigrantes do leste europeu.
Depois de oito longos anos de
Bush, é uma lufada de ar fresco ver
um Estado predominantemente
branco como Iowa dar uma vitória
convincente a um sujeito chamado
Barack Hussein Obama. E o nobre
leitor já pensou se o atual prefeito de
Nova York resolver mesmo entrar
na parada? Não seria a glória chegar
a novembro com Obama e Bloomberg brigando pela presidência?
Para alguns de nós, o bordão ainda
causa náusea. Mas se Obama e
Bloomberg vingarem, a esperança
terá, de fato, vencido o medo.
barbara@uol.com.br
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