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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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HOSPITAIS

Medida barra flexibilização da regra que exige percentual de atendimento ao SUS em troca de isenção de impostos

Revogado decreto que beneficia filantrópicos

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revogou decreto assinado no apagar das luzes do governo FHC, para beneficiar hospitais filantrópicos. A decisão foi publicada ontem no "Diário Oficial" da União. Contraria o interesse de mais de uma centena de hospitais, entre eles o Sírio Libanês e o Albert Einstein, ambos de São Paulo.
O decreto revogado é o de número 4.481. Fora editado por Fernando Henrique Cardoso em 22 de novembro. A equipe de transição de Lula não havia sido consultada a respeito.
Hospitais filantrópicos não pagam impostos. Em troca, precisam reservar 60% de seus atendimentos para a clientela pobre do SUS (Sistema Único de Saúde). Entidades como o Einstein e o Sírio não atingem o percentual.
O Sírio teve o certificado filantrópico cassado. O Einstein manteve o seu, mas um recurso do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pede que ele seja revogado. O decreto que Lula tornou sem efeito flexibilizava as regras da filantropia, beneficiando os hospitais.
Classificados como "estratégicas", organizações como o Sírio e o Einstein haviam sido liberadas da regra dos 60% de SUS.
O percentual passara a variar de 20% a 30%. Calculados não mais sobre a totalidade dos procedimentos, mas sobre uma cartela de atendimentos de "alta complexidade" -transplantes de órgãos e tratamentos oncológicos, por exemplo.
O decreto concedia a hospitais filantrópicos que não atendiam pelo SUS, caso do Sírio Libanês, o prazo de um ano para se ajustar às novas regras. Com a revogação, volta a vigorar a norma anterior. Ou seja, para fazer jus à isenção de tributos, os hospitais precisarão se abrir à clientela pobre.

Privilégio
Na exposição de motivos que encaminhou ao Palácio do Planalto, o ministro da Saúde, Humberto Costa, anotou que o decreto de FHC estabelecia "tratamento privilegiado a alguns hospitais privados". Seu secretário de Atenção à Saúde, Jorge Sola, oferece outro argumento que levou à revogação.
"Em vez de ampliar o atendimento pelo SUS, o decreto levaria a uma redução de oferta. Hospitais que respeitavam a regra dos 60% estavam sendo estimulados a reduzir esse percentual", disse. Entre os hospitais que se enquadram na regra dos 60% está a paulistana Beneficência Portuguesa, dirigida pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantin).
O médico Raul Cutait, dirigente do Sírio Libanês, era ferrenho defensor da manutenção do decreto de FHC. Achava que, primeiro, era preciso dar tempo para a aplicação das novas regras. Só então se poderia avaliar a sua eficácia. Cláudio Lottenberg, presidente do Einstein, também era favorável à manutenção do decreto.


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