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MORTE DE DENTISTA
Dois dos envolvidos no assassinato de Sant'Ana passaram a cabo e tenente mesmo sendo alvo de investigação
Sob suspeita, policiais foram promovidos
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois policiais militares suspeitos da morte do dentista Flávio
Ferreira Sant'Ana, 28, foram promovidos recentemente apesar de
já terem sido alvo de investigação
por causa de homicídios ocorridos em circunstâncias semelhantes ao caso de Sant'Ana.
O dentista, que era negro, foi
morto com dois tiros no último
dia 3, em Santana (zona norte de
SP), após ser confundido com um
ladrão. Seis PMs estão presos,
acusados de forjar a versão de que
o dentista foi morto após reagir.
Ontem, as polícias Civil e Militar foram informadas extra-oficialmente, pelo Instituto de Criminalística, que o laudo do exame
residuográfico realizado nas
mãos de Sant'Ana deu negativo.
O resultado é uma prova a mais
de que o dentista não atirou, como afirmaram os PMs.
Antes da morte de Sant'Ana, pelo menos três dos cinco PMs envolvidos na ação -o sexto teria
ameaçado a vítima do roubo para
que identificasse o dentista- já
tinham sido denunciados pela
Ouvidoria da Polícia de São Paulo. Ninguém foi afastado.
As denúncias, de 2000 a 2003,
resultaram em cinco inquéritos
policiais, que apuraram situações
muito semelhantes.
Os mortos são sempre ladrões
em fuga, que são reconhecidos
pelas suas vítimas. Os perseguidos sempre atiraram primeiro.
Em todos os casos, os PMs também acham um revólver de numeração raspada que seria de um
dos supostos criminosos.
O PM Carlos Alberto de Souza,
que comandou a equipe que
abordou Sant'Ana, era aspirante a
oficial no dia 20 de janeiro de
2003, quando participou de uma
ação que terminou na morte do
serralheiro Geraldo Meneses Souza, 22, no Jaçanã (zona norte).
O grupo de cinco PMs apurava
o assalto a um bingo. Souza, um
dos supostos ladrões, levou quatro tiros -um deles nas costas. O
caso foi denunciado à Ouvidoria,
que pediu investigação. Depois de
uma investigação inicial da polícia, o inquérito foi arquivado a
pedido do Ministério Público, que
considerou não ter provas para
denunciar o PM. Souza tornou-se
tenente.
"Para mim, isso é uma falha do
Ministério Público. Existe uma
suspeita de execução e, quando
ela existe, o promotor tem de denunciar o PM suspeito à Justiça. O
pedido de arquivamento pode ser
feito na fase da pronúncia [fase
posterior, depois dos depoimentos iniciais, quando o juiz decide
pela procedência ou não do caso]", disse o ouvidor da polícia,
Itajiba Farias Ferreira Cravo.
O policial Ricardo Arce Rivera,
outro envolvido na morte do dentista, era soldado quando, em
2000, se envolveu em dois casos
de "resistência seguida de morte"
que, segundo o ouvidor, têm muitas características semelhantes
com a morte de Sant'Ana.
Nas duas ocorrências, os dois
mortos eram ladrões de carro em
fuga. Também nos dois casos, as
vítimas reconheceram os mortos
como os criminosos que os roubaram. Os inquéritos policiais foram arquivados a pedido da Promotoria, que também considerou
não ter provas para denunciar o
PM à Justiça. Rivera foi promovido a cabe e nem sequer foi afastado, segundo a Ouvidoria.
Dos cinco inquéritos abertos a
partir de denúncias do ouvidor,
apenas dois -contra o soldado
Ivanildo Soares Cruz, outro envolvido na morte do dentista-
ainda estão em andamento. "Só
esses dois processos já seriam suficiente para afastá-lo da rua", diz
Cravo. Ele pretende reencaminhar os casos para o Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do Ministério Público.
Para o corregedor da PM, coronel Paulo Máximo, o veto a uma
promoção ou o afastamento de
um policial, mesmo alvo de IPM
(Inquérito Policial Militar) ou de
inquérito civil, é uma condenação
antecipada.
"É preciso esperar pela Justiça.
Não é só por que ele responde um
IPM que deve ser afastado", diz o
corregedor. Ele ressalta que os
PMs com prisão decretada tiveram elogios registrados em suas
fichas funcionais por serviços
prestados nos últimos anos.
O promotor Carlos Cardoso, assessor de direitos humanos da
Procuradoria Geral de Justiça,
afirma que um promotor não pode denunciar um policial sem materialidade sob pena de processar
um inocente e cometer um abuso
de autoridade.
Colaborou o "AGORA"
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