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EDUCAÇÃO
Governo vai rever processo de alfabetização; debate opõe linha construtivista, predominante hoje no país, e o método fônico
MEC discute a volta do "vovô viu a uva"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério da Educação
(MEC) vai revisar o processo de
alfabetização para as primeiras
séries do ensino fundamental e
abrir uma polêmica pedagógica.
O ponto mais discutido desse
debate divide educadores da linha
construtivista, predominante na
maioria das escolas públicas e privadas do país, e defensores do
método fônico, priorizado hoje
em vários países desenvolvidos.
A discussão surge no preparo
das novas Diretrizes Curriculares
Nacionais para as séries iniciais
do ensino fundamental, que ganhou um ano a mais nesta semana com a nova lei que amplia para
nove anos o tempo mínimo desse
nível de ensino. O ministro Fernando Haddad pediu à Secretaria
de Educação Básica que inicie a
discussão com educadores de várias correntes.
"Na oportunidade em que estamos mudando a estrutura e o padrão de financiamento da educação [com a aprovação do Fundeb], entendemos que seria interessante iniciar um debate sobre
alfabetização, tendo em vista os
altos índices de repetência na primeira série do ensino fundamental. O ministério não está tomando partido de nenhuma corrente,
mas, se o mundo inteiro fez esse
debate, achamos que é preciso fazê-lo no Brasil também."
A Diretrizes Curriculares Nacionais são aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação e definem o que se espera em cada
idade que uma criança aprenda
em determinada série. A partir
dessas diretrizes, o MEC produz
os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), instrumento que é
distribuído para professores de
todo o Brasil com o sentido de
orientar como trabalhar os conteúdos em sala de aula.
Os PCNs em vigor atualmente
foram elaborados na gestão do
ministro Paulo Renato Souza. Neles, é evidente a influência das teorias construtivistas, que descartam o uso de textos ou cartilhas
elaborados com o objetivo de
promover a decodificação do alfabeto e que levem a associações entre fonemas e letras. Para os construtivistas, melhor é trabalhar
com textos reais, ou seja, aqueles
que já fazem parte do universo infantil, como o de um livro.
A prioridade dada à associação
entre fonemas e letras é o principal ponto que divide defensores
do método fônico e os que adotam propostas construtivistas. No
método fônico, a ênfase está em
ensinar a criança a associar rapidamente letras e fonemas. Ou seja, a criança aprende rapidamente
que o código que representa a letra "A" é associado ao som "A".
Para isso, o método fônico lança
mão de material didático com
textos produzidos para esse fim.
"Vovô viu a uva", por exemplo,
pode ser usado para ensinar à
criança que aquele código da letra
"V" é associado a um som.
Entre os construtivistas, há correntes que variam entre os que rejeitam completamente o método
fônico e aqueles que aceitam alguns elementos da teoria. O ponto comum entre a maioria dos
construtivistas, porém, é rejeitar a
prioridade do processo fônico e,
principalmente, o uso de um material único a ser aplicado em todos os alunos. Por isso que as escolas dessa linha tendem a usar
textos já escritos por outros autores no processo de alfabetização.
Apesar da predominância das
teorias construtivistas nos atuais
parâmetros curriculares, os defensores do método fônico vêm
ganhando visibilidade após alguns países desenvolvidos terem
revisto a ênfase dada no passado
ao método global (whole language, em inglês), usado por muitos
construtivistas.
Os governos da França, Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, desaconselharam o uso exclusivo do método global. Os
EUA, por exemplo, não financiam programas de alfabetização
que descartem o método fônico.
Para os defensores do método
fônico no Brasil, essas são evidências de que o país está remando
contra a maré dos países desenvolvidos. Para boa parte dos construtivistas, no entanto, os dois
métodos podem ser combinados.
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