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CIDADE SEM LEI
Reportagem da Folha passou uma tarde na região em que guarda foi flagrado ajudando criança a usar cola
Meninos se drogam e roubam no centro
FERNANDO DONASCI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
São 11h de terça-feira quando
um grupo de garotos se reúne na
ladeira da Memória, no centro de
São Paulo, para cheirar cola de sapateiro. Depois, visivelmente alterados, descem em direção à avenida Nove de Julho, onde o trânsito está lento. Os carros param. Em
segundos, quatro jovens, simulando possuir armas com as mãos
sob as blusas, cercam um Palio e
roubam a parte da frente do som.
Naquele dia, no período entre
12h e 18h, o roubo e outras três
tentativas de assalto foram flagrados pela Folha na região.
Depois de assaltar o Palio, o grupo atravessou a avenida e seguiu,
comemorando. Em minutos, os
garotos voltaram à ladeira. Já sem
o som, alguns sobem usando cola.
"O medo de assaltos aqui é
constante. A gente não pode parar
um minuto para ver um monumento da cidade, com medo de
acontecer alguma coisa", disse
uma moradora da região, que
preferiu não se identificar.
Os assaltos são admitidos por
alguns dos garotos. "Ninguém
respeita a gente aqui. A gente acaba não respeitando também. Sem
ter onde morar, sem ter o que comer, acaba roubando. Uma parte
é para poder comer. A outra, usa
para pegar mais cola, mesmo",
disse um garoto de 17 anos.
Estimativa da prefeitura mostra
que a região da Sé, no centro, é a
que mais possui crianças e adolescentes de rua. No total, são 380 na
área. Na seqüência, estão Pinheiros e Vila Madalena, com 167, e
Vila Mariana e Moema, com 133.
A cidade de São Paulo tem 1.030
crianças e adolescentes de rua.
Segundo a Secretaria da Segurança, o distrito da Sé registrou,
em 2005, 3.689 roubos, ficando
em segundo no ranking da cidade. Em 2001, o distrito ficou em
terceiro lugar, com 2.532 casos. O
aumento de 46% no período foi o
quinto maior de São Paulo.
Ainda na terça, por volta das
17h, o trânsito voltou a ficar lento.
Os usuários de cola cercaram outro carro. Dessa vez, o objeto visado foi um celular. Pedestres também foram vítimas. Duas mulheres, em menos de dez minutos,
sofreram tentativas de roubo.
Solução
Max Dante, da Fundação Projeto Travessia, afirma que o delito é
uma das estratégias que os jovens
de rua usam para sobreviver,
muitas vezes orientados por adultos. Segundo ele, a repressão policial não é a solução. "O problema
precisa ser resolvido socialmente.
Há carência de atendimento de
caráter educativo."
Para o secretário da Assistência
e Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, esses garotos têm dois
destinos. "Um é a Febem. O outro, que é o que me cabe e que eu
acho melhor, são os centros de referência, onde serão acompanhados por psicólogos e assistentes
sociais." Segundo ele, a prefeitura
atende cerca de 50 crianças e adolescentes de rua usuários de droga
por dia no centro.
Colaborou AFRA BALAZINA, da Reportagem Local
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