São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006

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CIDADE SEM LEI

Reportagem da Folha passou uma tarde na região em que guarda foi flagrado ajudando criança a usar cola

Meninos se drogam e roubam no centro

FERNANDO DONASCI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

São 11h de terça-feira quando um grupo de garotos se reúne na ladeira da Memória, no centro de São Paulo, para cheirar cola de sapateiro. Depois, visivelmente alterados, descem em direção à avenida Nove de Julho, onde o trânsito está lento. Os carros param. Em segundos, quatro jovens, simulando possuir armas com as mãos sob as blusas, cercam um Palio e roubam a parte da frente do som.
Naquele dia, no período entre 12h e 18h, o roubo e outras três tentativas de assalto foram flagrados pela Folha na região.
Depois de assaltar o Palio, o grupo atravessou a avenida e seguiu, comemorando. Em minutos, os garotos voltaram à ladeira. Já sem o som, alguns sobem usando cola.
"O medo de assaltos aqui é constante. A gente não pode parar um minuto para ver um monumento da cidade, com medo de acontecer alguma coisa", disse uma moradora da região, que preferiu não se identificar.
Os assaltos são admitidos por alguns dos garotos. "Ninguém respeita a gente aqui. A gente acaba não respeitando também. Sem ter onde morar, sem ter o que comer, acaba roubando. Uma parte é para poder comer. A outra, usa para pegar mais cola, mesmo", disse um garoto de 17 anos.
Estimativa da prefeitura mostra que a região da Sé, no centro, é a que mais possui crianças e adolescentes de rua. No total, são 380 na área. Na seqüência, estão Pinheiros e Vila Madalena, com 167, e Vila Mariana e Moema, com 133. A cidade de São Paulo tem 1.030 crianças e adolescentes de rua.
Segundo a Secretaria da Segurança, o distrito da Sé registrou, em 2005, 3.689 roubos, ficando em segundo no ranking da cidade. Em 2001, o distrito ficou em terceiro lugar, com 2.532 casos. O aumento de 46% no período foi o quinto maior de São Paulo.
Ainda na terça, por volta das 17h, o trânsito voltou a ficar lento. Os usuários de cola cercaram outro carro. Dessa vez, o objeto visado foi um celular. Pedestres também foram vítimas. Duas mulheres, em menos de dez minutos, sofreram tentativas de roubo.

Solução
Max Dante, da Fundação Projeto Travessia, afirma que o delito é uma das estratégias que os jovens de rua usam para sobreviver, muitas vezes orientados por adultos. Segundo ele, a repressão policial não é a solução. "O problema precisa ser resolvido socialmente. Há carência de atendimento de caráter educativo."
Para o secretário da Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, esses garotos têm dois destinos. "Um é a Febem. O outro, que é o que me cabe e que eu acho melhor, são os centros de referência, onde serão acompanhados por psicólogos e assistentes sociais." Segundo ele, a prefeitura atende cerca de 50 crianças e adolescentes de rua usuários de droga por dia no centro.


Colaborou AFRA BALAZINA, da Reportagem Local


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