São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006

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VIOLÊNCIA

Santa Casa informou que policial ferido em conflito na rua 25 de Março chegou às 15h56 e o ambulante, às 16h36

Socorro a camelô levou 40 minutos a mais

GILMAR PENTEADO
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ferido na perna por um tiro que atingiu a veia femural, o vendedor ambulante Marcelo Marinho de Paula, 30, suspeito de ter atirado contra um guarda-civil e de ter ferido um policial, sangrou até morrer. Ele chegou morto à Santa Casa, levado pela própria Guarda Civil Metropolitana, uma hora depois de ser atingido. O policial ferido no conflito no centro de São Paulo, também socorrido pela Guarda, chegou ao mesmo hospital cerca de 40 minutos antes.
Segundo testemunhas, que não se identificaram, o camelô foi agredido por guardas-civis quando estava no chão, imobilizado. A família diz que, além de quatro perfurações de bala nas pernas, ele apresentava lesões no rosto e na nuca, inexistentes no momento em que ele entrou no carro da Guarda. O laudo da necropsia só ficará pronto em 30 dias.
O tiroteio ocorreu por volta das 15h30 de anteontem, na rua 25 de Março, uma região de comércio popular no centro de São Paulo. Segundo a polícia, Paula e outros dois camelôs, durante uma operação de apreensão de mercadorias, renderam um guarda-civil e, usando a arma dele, teriam feito um disparo que atingiu o colete à prova de balas do agente.
Logo depois, um policial civil, que passava pelo local, teria trocado tiros com Paula. O policial sofreu um ferimento no braço e o camelô foi atingido nas pernas. O policial entrou no hospital às 15h56 de anteontem, segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa -ele teve alta ontem. O horário de entrada de Paula informado pelo hospital à família do camelô foi 16h36. A assessoria confirmou que ele entrou na Santa Casa por volta das 16h30.
O hospital afirma que ele chegou morto e houve tentativa de reanimação, sem sucesso. A Secretaria da Segurança Pública tinha informado anteontem que o camelô tinha morrido no hospital, de parada cardíaca. A informação teria sido repassado à polícia pelo hospital, que nega.
Segundo atestado de óbito emitido pelo IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte foi "trauma vascular femural provocado por objeto de arma de fogo". De acordo com Celso Domene, assessor da diretoria do IML, o laudo é sigiloso. Ele explica, conforme a descrição da causa da morte, que o tiro atingiu a veia femural.
Se não for atendida rapidamente, a vítima desse tipo de ferimento sangra até morrer -perde sangue até sofrer parada cardíaca ou respiratória. Mas, segundo Domene, só uma avaliação do local do tiro e do trauma provocado poderia determinar o tempo que a vítima conseguiria sobreviver até receber atendimento médico.
Uma testemunha, que não quis se identificar, confirma que as outras vítimas -o policial e um comerciante, atingido por uma bala perdida- foram levadas para hospitais cerca de 40 minutos antes que o camelô. Paula permaneceu algemado, deitado no chão. Segundo essa testemunha, ele recebeu chutes de guardas-civis. Um grupo de agentes teria feito um cerco em volta do suspeito, evitando que ele fosse visto.
A reportagem fotográfica da Folha presenciou o momento em que, no meio da confusão, o camelô, no chão, recebeu um chute de um guarda-civil. Como havia muitos agentes na frente, a agressão não pôde ser fotografada.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, que investiga o conflito, informou que só pode se posicionar depois de receber o laudo necroscópico.
Paula, que já cumpriu pena por tráfico de drogas, será enterrado hoje, em São Miguel Paulista (zona leste). Ele tinha dois filhos -um com oito anos e outro com nove meses.


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