São Paulo, domingo, 11 de março de 2001

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DEPOIMENTOS

A morte do Betinho, por mais que ele detestasse a idéia, foi a morte de um líder que catalisava forças em torno do movimento. Houve um arrefecimento. Alguns se sentiram meio perdidos. Acredito que as pessoas estão voltando, estão novamente se mobilizando, procurando ações mesmo sem o líder carismático, o que é sinal de amadurecimento. Senti a morte de Betinho, mas não deixei de ajudar as ações sociais, como voluntário.
Cada pessoa tem a sua moeda. A minha é a vaidade. As pessoas me cercam de carinho pelas coisas que faço. Isso me dá uma sensação de que valho a pena. Então, sendo sincero, na verdade estou cobrando pelo meu voluntariado. É ingênua a idéia de que o trabalho voluntário é feito de graça
Lula Vieira, 54, publicitário, sócio da agência VS Comunicações

Há 12 anos, um grupo de extermínio matou dois dos meus irmãos e minha cunhada. Fiquei traumatizada e me perguntava o que eu poderia fazer para tentar evitar que isso se repetisse. Em 1993, depois de ouvir uma palestra do Betinho, ajudei a fundar comitês da Ação da Cidadania nos morros e favelas. Sei que a campanha serve para denunciar a situação de fome do povo, mas não resolve o problema.
Temos que buscar nossas próprias soluções. Aqui, fazemos um convencimento das crianças de que não há saída da miséria sem educação. Acho que o maior resultado do trabalho do comitê é essa conscientização. Não acabamos com a miséria, mas nos esforçamos para sair dela Maria de Fátima Rocha, 42, líder comunitária na Baixada Fluminense

Em 1997, no início das aulas, queríamos dar um novo sentido ao trote e resolvemos fazer algo que nos integrasse ao trabalho da Ação da Cidadania. A idéia foi convocar os calouros para que trouxessem uma cesta com três quilos de alimentos, uma peça de roupa, uma peça de roupa de cama, um brinquedo, material escolar e, opcionalmente, uma fralda.
Nunca fiz isso sozinho, sempre éramos três ou quatro, mas não sei o motivo, pegou o meu nome. Trote do Fred. Já não estou na faculdade e deixei a campanha há mais de um ano, mas a idéia continua. A reitoria da PUC recentemente aconselhou que o nome fosse mudado, por causa da referência a trote. Mudou. Agora é Festa do Fred
Frederico Runte, 24, ex-aluno de publicidade da PUC do Rio

Tenho formação universitária, dois filhos e quatro netos. Poderia ficar em casa, cuidando da família, mas acredito no trabalho voluntário para mudar a situação de miséria em que vivemos. Acredito e vejo os resultados. Comecei esse trabalho em 1993, quando o Betinho lançou a Ação da Cidadania. Hoje, nosso comitê ajuda mensalmente cerca de 5.000 pessoas, em abrigos e creches.
E não nos esquecemos de auxiliar os mais próximos. Ajudamos os funcionários terceirizados, os mais humildes e pobres. Criamos uma rede de solidariedade entre os funcionários da empresa. Quando um deles vem de casa, trazendo jornais velhos para doar, sem dúvida está sendo cidadão e solidário
Anésia Maia de Araújo, 67, funcionária aposentada da Embratel


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