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CIDADANIA
Programa existe há oito anos em MG; participantes precisam estudar e recebem bolsa que varia de R$ 65 a R$ 138
Circo tira crianças da rua em Belo Horizonte
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Circo de Todo Mundo. É esse o
nome de um projeto que há quase
oito anos tira crianças das ruas de
Belo Horizonte oferecendo arte
circense e atividades lúdicas.
Criado pela ONG (organização
não-governamental) Projeto Recreação, com apoio do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, o circo deu frutos e recebeu apoios.
Agora, 25 crianças e adolescentes viajam pelo interior de Minas
para apresentar o primeiro espetáculo, intitulado "Na Corda
Bamba", mostrando acrobacias,
malabarismos e encenações. Todo o projeto, no entanto, tem 200
meninos e meninas de rua e da
periferia que fazem recreação e
aprendem o ofício circense.
Anteontem, na capital mineira,
o Circo de Todo Mundo apresentou parte do espetáculo, que ganhou o nome "Circulando", no
Seminário Brasileiro de Crianças
e Adolescentes Trabalhadores. O
evento termina hoje com a divulgação de um documento enfocando o trabalho infantil.
O circo é a vida dos ex-meninos
e meninas de rua que integram o
grupo principal e participam da
montagem atual do espetáculo.
Cada um recebe uma bolsa, que
varia de R$ 138 (período integral)
a R$ 65 (meio período), e estuda,
condição para continuar no circo
-quem for reprovado na escola
perde a bolsa.
O projeto é sustentado pela Caritas francesa (ligado à Igreja Católica) e pelo Instituto Telemig
Celular. São 30 profissionais, entre psicólogos, pedagogos, sociólogos e instrutores circenses.
Antes, eles catavam latinhas e
papéis nas ruas, vendiam produtos como balas e picolés, pediam
esmolas em semáforos ou viviam
no mundo da Febem. No histórico de alguns deles, constam pequenos furtos e drogas.
"Em vez de estar nas ruas mexendo com drogas, estou aqui
nesse lugar, que me ensinou muito", disse E.C.G.P., 17, um dos
acrobatas que passou pela Febem.
O projeto reintegrou também
os jovens artistas às suas famílias.
E ainda adotou a prática de unir
as crianças marginalizadas às da
comunidade onde está instalado
o galpão do projeto, no bairro do
Horto (zona leste).
Parte do grupo que integra o
projeto (20%) é formado por gente da comunidade local. Stefani
Magno, 13, que vem de uma família estruturada e cujo pai é engenheiro, há dois anos convive com
os ex-meninos e meninas de rua.
Vivem o cotidiano dos treinamentos e viajam juntos para as
exibições pelo interior.
"Me contam que o circo mostrou a eles que existe disciplina e
que estudar é bom. Eles me dizem
que não sentiam na rua o que sentem aqui: carinho e apoio. Convivendo com eles, eu também
aprendi muito e tenho carinho
por todos", disse Stefani.
Eid Ribeiro, diretor artístico,
com formação em teatro, afirma
que se impressiona com a determinação e a vontade dos garotos.
Combinando arte circense e música, ele criou o chamado "novo
circo", que mistura malabarismos
e dramaturgia. É nessa linha que o
Circo de Todo Mundo progrediu.
"As crianças, no começo, tinham dificuldades para se concentrar, eram agitadas. Essa arte e
a música ensinaram muita coisa a
eles. Crianças com reduzida coordenação motora surpreenderam
a muitos de nós", disse.
Ribeiro se refere às irmãs gêmeas Juliana e Júlia, 18, que integram o grupo principal. Filhas de
catadores de papel, as duas e outra irmã, Janete, 16, formam o
grupo de seis meninas malabaristas. Trabalham com argolas, clavas, bolas e diabolô (uma espécie
de ioiô), com ou sem fogo.
"Isso aqui é ótimo, é legal demais", disse Júlia, que, com as irmãs, catava latinhas e pedia ajuda
pelas ruas da capital mineira.
Com os artistas sendo formados, o Projeto Recreação quer
buscar intercâmbios com circos
profissionais para dar chance de
os meninos se profissionalizarem.
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