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VIOLÊNCIA
Ouvidoria das Polícias de São Paulo diz ter indícios de ação de grupo de extermínio de adolescentes na cidade
Jovem desaparece após suposta detenção em Guarulhos
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro adolescentes correm da
polícia na periferia de Guarulhos,
na Grande São Paulo. É madrugada. Tiros. Dois escapam. Um entra embaixo de uma van, vê Rodrigo Isac dos Santos, 17, ser alcançado, detido e colocado em
um carro da Polícia Militar.
A correria, os disparos e o barulho do rádio da polícia acordam a
dona-de-casa M., 43, preocupada
com o filho que estava para chegar do trabalho. A prisão ocorre
em frente à casa dela.
Por uma fresta do muro, ela vê
Rodrigo ser colocado no compartimento traseiro da Land Rover.
Há outros dois carros da PM no
bairro. Pelo rádio, o Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) cobra, por duas vezes, informações do caso. Nada.
Quando retomam contato, um
soldado diz que já estavam desistindo do patrulhamento, sem encontrar o suposto furto de fios.
Houve interferência no rádio
dos policiais quando eles estavam
no bairro. Era como se tivessem
deixado apertada a tecla do comunicador, de propósito, segundo relatório da Corregedoria, para atrapalhar a gravação dos diálogos entre as equipes.
Há um ano e três meses, Rodrigo está desaparecido. Não tinha
passagem pela Febem. Não há registro oficial de sua prisão em 19
de novembro de 2001, testemunhada pela vizinha e por um amigo. O corpo não foi encontrado.
Ao reconstruir o caso, a Folha
encontrou mais dois desaparecimentos misteriosos, que teriam
ocorrido em blitze policiais. Com
medo, parentes não levaram o
que apuraram para a delegacia.
Para o ouvidor das polícias de
São Paulo, Fermino Fecchio, esses
casos indicam uma possível ação
de grupo de extermínio em Guarulhos. "O processo é muito semelhante ao de Ribeirão Preto
[onde há investigação"", disse.
Suspeitas
O depoimento dos policiais envolvidos é contraditório sobre o
que ocorreu naquela madrugada
na Vila Isabel. Dos sete policiais
que estiveram lá, seis disseram
que não houve prisão nem tiros.
Apenas um cabo, recém-transferido, confirmou ter visto um ""vulto" dentro de um dos carros.
Em 6 de dezembro, a Justiça Militar mandou prender os policiais
-um sargento e cinco soldados-, a pedido da Corregedoria.
A versão do cabo batia com o
depoimento da dona-de-casa e do
amigo de Rodrigo, testemunhos
localizados pelo pai da vítima,
Elias Isac dos Santos, 45, um ex-segurança que se tornou ""detetive" após o sumiço do filho.
No mesmo dia da prisão, Santos
foi orientado pela PM a ir ao IML
(Instituto Médico Legal) de Suzano procurar um corpo encontrado em Itaquaquecetuba (Grande
SP). Faltava confirmar o crime.
Não o achou. Pesquisou laudos
de cadáveres de pessoas enterradas como desconhecidas. Selecionou seis e passou a buscar fotos
deles no Instituto de Criminalística. Em apenas um caso não achou
registro na delegacia.
Passou então a procurar boletins de ocorrência na delegacia de
Itaquaquecetuba. Com a ajuda de
policiais civis, localizou um registro de um corpo encontrado pela
PM na estrada do Bonsucesso, altura do 3.070 -a dez minutos de
carro de onde seu filho sumiu.
Enquanto isso, os seis PMs foram liberados por falta de provas
-não tinham sido reconhecidos
pelas testemunhas, o corpo não
foi encontrado e ninguém viu se
houve assassinato. Com medo, o
cabo que denunciara o grupo pediu transferência para o interior.
Um pé de tênis, encontrado por
Santos em 28 de dezembro de
2001 num matagal -onde a PM
achou o corpo-, deu novo rumo
ao caso. A peça foi reconhecida
pelo amigo de Rodrigo, Marcos
Nascimento Melo, 22, que havia
emprestado a ele o tênis.
A descoberta de Santos levou o
Ministério Público a pedir a exumação do corpo da estrada do
Bonsucesso, que já havia sido enterrado. O resultado do DNA, porém, divulgado em setembro passado, acabou com a pista. ""Podem ter trocado o corpo do meu
filho", afirmou, depois de saber
do resultado do DNA.
No final do ano passado, o ex-segurança conseguiu abrir outra
frente de investigação, com o
apoio do Ministério Público de
Guarulhos, que já acompanha outros crimes supostamente cometidos por policiais. Santos descobriu que o corpo do local do tênis
havia demorado sete dias para entrar no IML, após a PM o achar.
Acompanhado do promotor
Neudival Mascarenhas Filho, de
Guarulhos, o pai de Rodrigo esteve no IML de Suzano, onde constava a entrada do corpo no dia 14
de dezembro, sete dias após o registro de boletim de ocorrência na
delegacia de Itaquaquecetuba.
A Promotoria pediu a abertura
de inquérito à Delegacia Seccional
de Guarulhos. Conforme a investigação, o IML diz que cometeu
um erro de registro, que o corpo
dera entrada no mesmo dia. Os
PMs negam o crime, repetindo o
que disseram à Corregedoria.
"Só quero saber o que aconteceu com meu filho", disse Santos,
que montou em casa um escritório improvisado para pedir ajuda
a entidades de direitos humanos,
ao Judiciário e à imprensa.
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