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Anexo pode render R$ 43 milhões ao Masp
Pela nova proposta, oito andares seriam batizados por empresas, ao custo de R$ 4 milhões cada um, por contrato de dez anos
Restante viria da Vivo, que entraria com R$ 6 milhões, e da Nestlé, que daria
R$ 5 milhões para ter exclusividade no restaurante
DA REPORTAGEM LOCAL
Estagnado por uma dívida
que beira os R$ 10 milhões, o
Masp passa pela maior crise financeira justamente no ano em
que comemora 60 anos.
É esse cenário que o empresário e jornalista João Doria Jr.
diz querer transformar em história a ser esquecida com seu
plano para o museu.
O plano é baseado em um tripé de patrocínios:
1) A Vivo será uma espécie de
patrocinadora master da escola. A operadora de celular já deu
R$ 12 milhões para o Masp
comprar o prédio ao lado do
museu e deve dar mais R$ 6 milhões, segundo Doria Jr. Por
conta do volume de recursos, o
anexo será batizado Masp Vivo;
2) Os oito andares que serão
ocupados com cursos terão um
patrocinador cada um. Para batizar o andar, uma operação
que os publicitários chamam
de "name branding", a empresa
deve desembolsar R$ 4 milhões
por um contrato de dez anos,
ainda de acordo com Doria Jr.
"Esse valor equivale a um gasto
mensal de R$ 33,3 mil. É um valor irrisório para ter o nome da
empresa estampado num andar de museu", diz. Se os oito
andares conseguirem um patrocinador, o Masp passa a ter
em caixa mais R$ 32 milhões;
3) A Nestlé entraria com R$ 5
milhões para ter exclusividade
no fornecimento de seus produtos no restaurante e no café,
segundo Doria Jr. A empresa,
porém, diz que não confirma
nada sobre o anexo do Masp.
Se o plano de Doria Jr. der
certo, e não for mais um sonho
de uma noite de verão, o Masp
pode adicionar até R$ 55 milhões ao caixa -são R$ 43 milhões em dinheiro novo, já que
os R$ 12 milhões da Vivo foram
desembolsados há dois anos.
A decisão do presidente do
Masp, Julio Neves, de abandonar a idéia da torre depois de
dois anos de contratempos tem
relação óbvia com o adiantamento de R$ 12 milhões da Vivo. A empresa cobra uma solução do museu para a dívida.
Há duas opções: ou o Masp
devolve o recurso antecipado
ou encontra uma solução para
o anexo. Como já tem um buraco de perto de R$ 10 milhões,
Neves decidiu investir no projeto de escola para o anexo.
Doria Jr. diz que sua idéia
não é nenhum ovo de Colombo.
"Ela foi inspirada no que já
acontece no mundo do entretenimento. Não tem o Credicard
Hall, com a marca de um cartão
de crédito? Esse modelo pode
ser transposto para a cultura",
defende. Uma vantagem do novo modelo, segundo ele, é que
prescinde de renúncia fiscal
-as empresas vão investir sem
deixar de pagar menos impostos à Receita Federal.
Sem enfrentamento
Neves mudou também a estratégia de se relacionar com a
prefeitura. Em vez de partir para o enfrentamento, como
ocorreu quando a torre foi vetada, o arquiteto adotou a via diplomática.
Na reunião que teve anteontem, Neves tentou obter de José Roberto Sadek, secretário-adjunto da Secretaria de Cultura do município, e de José
Eduardo Assis Lefèvre, presidente do Conpresp, órgão que
cuida do patrimônio histórico,
as diretrizes que deve seguir
para que a escola não enfrente
o mesmo destino da torre.
Não obteve uma pré-aprovação, mas saiu com uma espécie
de receita de bolo do que pode
fazer. Lefèvre deu a receita por
meio de um paralelismo: contou que o Conpresp havia aprovado um projeto na outra esquina do Masp porque o prédio
tinha cerca de 70 metros de altura, era discreto e não estabelecia uma relação de competição com o museu.
"As diretrizes que passamos
para o presidente do Masp visam preservar aquela área da
cidade", diz Sadek.
O tal prédio aprovado é um
hotel projetado por Gian Carlo
Gasperini a ser erguido no terreno que hoje é ocupado por
um estacionamento. Ele segue
a altura do prédio do fórum federal, do qual é vizinho, e é cerca de 23 metros mais alto do
que o edifício em que o Masp
quer criar um anexo.
A arquiteta Monica Junqueira de Camargo, professora da
FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) que fez
o voto contrário à torre como
conselheira do Conpresp, diz
que "o correto do ponto de vista
do patrimônio histórico" seria
o anexo não ultrapassar as dimensões do edifício existente.
"A idéia é que o Masp não suma, mas também não precisa
mimetizar o prédio de Lina Bo
Bardi. Um bom arquiteto usaria a limitação das dimensões
de forma fantástica", afirma a
professora da USP.
Citando o arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902-1998),
ela diz que "a única coisa que
não combina com nada é a má
arquitetura".
O presidente da seção paulista do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), Arnaldo Martino, defende que o Masp mantenha para o anexo o mecanismo
pelo qual a torre seria erguida:
por meio de um concurso nacional. "Seria a solução mais
democrática e o melhor para a
cidade", diz.
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