São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Anexo pode render R$ 43 milhões ao Masp

Pela nova proposta, oito andares seriam batizados por empresas, ao custo de R$ 4 milhões cada um, por contrato de dez anos

Restante viria da Vivo, que entraria com R$ 6 milhões, e da Nestlé, que daria R$ 5 milhões para ter exclusividade no restaurante

DA REPORTAGEM LOCAL

Estagnado por uma dívida que beira os R$ 10 milhões, o Masp passa pela maior crise financeira justamente no ano em que comemora 60 anos.
É esse cenário que o empresário e jornalista João Doria Jr. diz querer transformar em história a ser esquecida com seu plano para o museu.
O plano é baseado em um tripé de patrocínios:
1) A Vivo será uma espécie de patrocinadora master da escola. A operadora de celular já deu R$ 12 milhões para o Masp comprar o prédio ao lado do museu e deve dar mais R$ 6 milhões, segundo Doria Jr. Por conta do volume de recursos, o anexo será batizado Masp Vivo;
2) Os oito andares que serão ocupados com cursos terão um patrocinador cada um. Para batizar o andar, uma operação que os publicitários chamam de "name branding", a empresa deve desembolsar R$ 4 milhões por um contrato de dez anos, ainda de acordo com Doria Jr. "Esse valor equivale a um gasto mensal de R$ 33,3 mil. É um valor irrisório para ter o nome da empresa estampado num andar de museu", diz. Se os oito andares conseguirem um patrocinador, o Masp passa a ter em caixa mais R$ 32 milhões;
3) A Nestlé entraria com R$ 5 milhões para ter exclusividade no fornecimento de seus produtos no restaurante e no café, segundo Doria Jr. A empresa, porém, diz que não confirma nada sobre o anexo do Masp.
Se o plano de Doria Jr. der certo, e não for mais um sonho de uma noite de verão, o Masp pode adicionar até R$ 55 milhões ao caixa -são R$ 43 milhões em dinheiro novo, já que os R$ 12 milhões da Vivo foram desembolsados há dois anos.
A decisão do presidente do Masp, Julio Neves, de abandonar a idéia da torre depois de dois anos de contratempos tem relação óbvia com o adiantamento de R$ 12 milhões da Vivo. A empresa cobra uma solução do museu para a dívida.
Há duas opções: ou o Masp devolve o recurso antecipado ou encontra uma solução para o anexo. Como já tem um buraco de perto de R$ 10 milhões, Neves decidiu investir no projeto de escola para o anexo.
Doria Jr. diz que sua idéia não é nenhum ovo de Colombo. "Ela foi inspirada no que já acontece no mundo do entretenimento. Não tem o Credicard Hall, com a marca de um cartão de crédito? Esse modelo pode ser transposto para a cultura", defende. Uma vantagem do novo modelo, segundo ele, é que prescinde de renúncia fiscal -as empresas vão investir sem deixar de pagar menos impostos à Receita Federal.

Sem enfrentamento
Neves mudou também a estratégia de se relacionar com a prefeitura. Em vez de partir para o enfrentamento, como ocorreu quando a torre foi vetada, o arquiteto adotou a via diplomática.
Na reunião que teve anteontem, Neves tentou obter de José Roberto Sadek, secretário-adjunto da Secretaria de Cultura do município, e de José Eduardo Assis Lefèvre, presidente do Conpresp, órgão que cuida do patrimônio histórico, as diretrizes que deve seguir para que a escola não enfrente o mesmo destino da torre.
Não obteve uma pré-aprovação, mas saiu com uma espécie de receita de bolo do que pode fazer. Lefèvre deu a receita por meio de um paralelismo: contou que o Conpresp havia aprovado um projeto na outra esquina do Masp porque o prédio tinha cerca de 70 metros de altura, era discreto e não estabelecia uma relação de competição com o museu.
"As diretrizes que passamos para o presidente do Masp visam preservar aquela área da cidade", diz Sadek.
O tal prédio aprovado é um hotel projetado por Gian Carlo Gasperini a ser erguido no terreno que hoje é ocupado por um estacionamento. Ele segue a altura do prédio do fórum federal, do qual é vizinho, e é cerca de 23 metros mais alto do que o edifício em que o Masp quer criar um anexo.
A arquiteta Monica Junqueira de Camargo, professora da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) que fez o voto contrário à torre como conselheira do Conpresp, diz que "o correto do ponto de vista do patrimônio histórico" seria o anexo não ultrapassar as dimensões do edifício existente.
"A idéia é que o Masp não suma, mas também não precisa mimetizar o prédio de Lina Bo Bardi. Um bom arquiteto usaria a limitação das dimensões de forma fantástica", afirma a professora da USP.
Citando o arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902-1998), ela diz que "a única coisa que não combina com nada é a má arquitetura".
O presidente da seção paulista do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), Arnaldo Martino, defende que o Masp mantenha para o anexo o mecanismo pelo qual a torre seria erguida: por meio de um concurso nacional. "Seria a solução mais democrática e o melhor para a cidade", diz.


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