São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Dois são encontrados mortos em prisão

Os homens foram presos havia cerca de duas semanas sob a acusação de extorsão e tinham sinais de morte por asfixia

Governo do Estado afirma que abriu apuração, porém não comenta mortes; OAB diz que vai acompanhar o caso para evitar "omissão"

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

RAQUEL ILIANO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO Dois presos foram encontrados mortos em suas celas no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Ribeirão Preto (314 km de São Paulo) na manhã de ontem, supostamente por asfixia. Os dois chegaram a ser levados a um pronto-socorro, mas já chegaram mortos.
A Folha apurou que os dois detentos -Josias Guimarães Alves e Sidnei Pereira de Faria, que não tiveram suas idades reveladas- foram presos acusados de extorsão havia cerca de duas semanas e tinham inimigos no CDP, tanto que a direção da unidade chegou a cogitar a possibilidade de isolá-los.
Segundo o gerente da UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) do bairro Castelo Branco, Vanderlei Mega Palocci, Alves apresentava características de morte por enforcamento e Faria tinha um saco plástico na faringe, mas nenhum tinha sinais externos de violência.
A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária informou apenas que abriu procedimento de apuração interna para "constatar em quais circunstâncias se deu a ocorrência" e que notificou a polícia sobre as duas mortes.
Roberto Abud, legista que realizou as necropsias, afirmou que a hipótese mais provável é a de morte por intoxicação exógena, nome técnico para overdose. "Nos dois casos houve primeiro uma falha no coração, que levou ao encharcamento de sangue no pulmão. Os dois presos sofreram asfixia indireta causada pela secreção pulmonar, o que os levou à morte."
Segundo Abud, amostras das vísceras dos corpos passarão por exame toxicológico. "Só depois do resultado é que poderemos dizer [as causas das mortes] com mais certeza." Abud informou também que os dois presos tinham nos bolsos das bermudas embrulhos de plástico contendo um pó branco, com características de cocaína. "O pó também foi encaminhado para exame", disse Abud.
As mortes serão analisadas por Luiz Augusto Freire Teotônio, corregedor dos presídios de Ribeirão, com acompanhamento da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). "Vamos acompanhar com o objetivo de que não haja omissão de nenhuma das autoridades", afirmou a advogada Ana Paula Vargas de Mello, presidente da comissão em Ribeirão Preto.
Segundo ela, cabe ao Estado manter a segurança dos presos. "De qualquer forma, o Estado é obrigado a manter a integridade física de seus tutelados." O CDP de Ribeirão Preto é um dos mais superlotados do Estado -tem cerca de 1.100 presos, mas sua capacidade é para 453.


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