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Contra o aborto, igreja usa réplica de feto durante missa
Foram confeccionados 600 bonecos, distribuídos nas 264 paróquias do Rio de Janeiro; ofensiva inclui também vídeos
Depois de exibição de
imagens de aborto, jovens
passaram mal; igreja afirma
querer reforçar a defesa da
vida desde a concepção
MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nova ofensiva contra o
aborto, a Igreja Católica do Rio
passou a usar fetos de resina e
vídeos durante missas e palestras. Jovens chegaram a passar
mal, com náuseas e vômitos,
após assistir às imagens com
cenas de aborto, "chocantes".
Em paróquias do Rio, como a
Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, zona sul, uma almofada
com a escultura de um feto é levada até o altar nas missas dominicais e é mostrada entre os
freqüentadores. Na igreja Santa Margarida, na Lagoa, o "feto"
está dentro de um vidro com
gel, como se tivesse na placenta, exposto no altar.
Foram confeccionados 600
bonecos em forma de feto para
serem distribuídos nas 264 paróquias da cidade e usados nas
missas de domingo durante a
Quaresma. A utilização do
"símbolo" não é obrigatória,
mas muitas paróquias aderiram à proposta, segundo dom
Antônio Augusto Dias Duarte,
bispo-auxiliar do Rio.
A orientação da arquidiocese, disse, foi para que o símbolo
ficasse bem visível. Algumas
igrejas aderiram e o mantêm no
altar durante a semana. O combate ao aborto é tema da campanha da fraternidade deste
ano da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O
lema é "Escolhe, pois, a vida".
Ainda mais polêmica é a exibição de quatro vídeos com cenas reais de fetos sendo retirados de mulheres. Neles, médicos descrevem como é feito o
procedimento. Segundo o bispo, ele tem feito uma palestra
por dia sobre o tema. De acordo
com o público, é ele quem escolhe um dos vídeos disponíveis.
Em Ipanema, por exemplo,
uma trilha sonora dramática
acompanhava uma das imagens mais chocantes: um feto
sendo arrancado pela cabeça.
Depois da reunião, jovens
saíram passando mal e ficaram
calados por meia hora. Algumas meninas saíram chorando,
contou o publicitário Carlos
Lins, 26. "É chocante, mas se
faz necessário para conscientizar, para as pessoas terem noção do que é o aborto. É como
se fosse a cena de alguém sendo
morto. A diferença é que é um
ser totalmente indefeso."
O bispo afirmou que o vídeo
não foi o mais forte. Para ele, é
importante que os adolescentes assistam a "uma cena que se
tenta apagar". Segundo ele, os
vídeos são feitos por ONGs a favor da vida, com imagens das
próprias clínicas de aborto.
Defesa da vida
A utilização de símbolos pela
CNBB é recorrente, diz o bispo.
Em 2007, por exemplo, foram
usados mapas e produtos da
Amazônia para tratar do tema
"Fraternidade e Amazônia".
A intenção dos bonecos, diz,
é reforçar a defesa da vida desde a concepção. A mesma tese
foi defendida no julgamento da
ação direta de inconstitucionalidade pelo STF (Supremo Tribunal Federal) contra uso de
embriões em pesquisas, na semana passada.
Desde 10 de fevereiro, quando a campanha começou, nas
nove missas na igreja de Ipanema todos os domingos, a réplica
de um feto de 12 semanas faz
parte da procissão do ofertório.
Com a hóstia e o vinho, a escultura é levada até o altar.
Depois que o dízimo é recolhido, o "feto" fica no centro do
altar, visível, até o final da missa. Pouca gente repara na cena,
mesmo após o padre dizer: "Este feto representa a luta pela vida. A vida desde o princípio".
Na missa dos jovens, às
19h30, há mais gente informada sobre o feto de resina. "A
figura simboliza o nosso
compromisso quaresmal de
defender a vida em todos os
instantes", diz o padre Jorge
Luiz Pereira da Silva, conhecido como padre Jorjão, evangelizador de jovens.
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