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OPINIÃO
Impunidade que mata
RICARDO VIVEIROS
O verbete "ética" tem a seguinte
definição: "Estudo dos juízos de
apreciação referentes à conduta
humana suscetível de qualificação, do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto". A ética, a moral e todos os
costumes têm parâmetros análogos à cultura de cada sociedade ou
era. São referenciais expressos no
conjunto das leis. Para cumprir
seu papel, as leis devem ser sempre
atualizadas à luz das transformações históricas e ter respaldo da estrutura policial e da Justiça.
Bom exemplo da necessidade de
atualização é o novo código de
trânsito, um inegável avanço. Péssimo exemplo de falta de respaldo
ao cumprimento do código é a
morosidade da Justiça, além da
precariedade do aparato policial.
Há tristes histórias que, depois
de ser manchetes dos jornais, passam simplesmente a engrossar as
estatísticas. Para os que perderam
pessoas queridas, porém, fica a
amarga sensação de abandono numa sociedade que resgata uma primitiva lei, a do mais forte.
São Paulo, 23 de junho de 1996.
Um desses motoristas que a Justiça "protege" com o benefício do
"crime culposo" (quando se pressupõe que não houve intenção)
avança um farol vermelho, a mais
de 100 km/h, numa noite chuvosa,
entrando com seu carro e a irresponsabilidade do "crime doloso"
no cruzamento da rua São Caetano com a av. da Cantareira. Atinge
o carro de uma família. Morrem o
pai, Ricardo Viveiros Filho, e a filha de 6 meses, Mariana.
São Paulo, 26 de fevereiro de
1998. A delegacia de polícia onde
foi registrada a ocorrência nem
ouviu as testemunhas. O motorista infrator continua dirigindo.
São Paulo, 20 de fevereiro de
1998. A sra. Ednah Moore cruza,
em alta velocidade, o farol vermelho na confluência das avenidas
São João e Ipiranga. Mata uma senhora, fere o filho de 10 anos e arrasta por quase um quilômetro a
jovem Ana Paula, que fica gravemente ferida. Cruza mais um semáforo vermelho e só pára ao colidir com um ônibus. Paga fiança de
R$ 800 e é libertada.
Apesar do código, histórias com
o mesmo final infeliz continuarão
transformando veículos em armas
letais. Urge aprofundar a discussão jurídica, com rápida alteração
do Código Penal, reordenando os
conceitos de dolo e culpa nos crimes de trânsito. Cabe dotar a polícia de adequada infra-estrutura,
contingentes e equipamentos, para evitar a demora dos inquéritos e
do envio dos casos à Justiça.
Somente assim os motoristas
sem princípios de ética, moral e
respeito à vida seriam reprimidos
em seus impulsos violentos. A impunidade no trânsito continua
ceifando vidas! Enquanto isso, o
novo código... Ora, o código...
Ricardo Viveiros, 47, é jornalista e escritor
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