São Paulo, quarta, 11 de março de 1998

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HABITAÇÃO
Posto especial foi criado para evitar aglomeração; CDHU encerrou inscrições ontem para moradias populares
Fila vira chamariz de programa habitacional

Leonardo Colosso/Folha Imagem
Fila de interessados em moradias populares no posto especial da CDHU em Itapecerica


RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

Um programa de moradias populares da CDHU, na zona sul de São Paulo, teve ontem a ajuda de uma eficiente garota-propaganda: uma enorme fila de interessados. Graças a ela, gente que nunca tinha ouvido falar do programa, cujo prazo de inscrição terminava ontem, teve oportunidade de concorrer às vagas.
O irônico é que a fila, ao longo de 600 metros da estrada de Itapecerica, ocorreu em um local onde foi montado um posto especial, justamente para evitar aglomerações. Criado em convênio com algumas entidades sociais da zona sul, o posto só deveria atender aos filiados a essas associações.
Mas o grande afluxo de filiados, que vinham todos juntos, trazidos pelas lideranças populares, chamou a atenção e fez correr a notícia de que havia um programa de habitações populares em curso, que distribuiria 240 apartamentos até novembro, e que o prazo de inscrições terminava ontem.
Foi o bastante para a fila crescer.
Ontem, todas as pessoas entrevistadas pela Folha na fila disseram que souberam do programa por terem visto a fila ou por meio de alguém que a havia visto anteontem, quando já havia alguma aglomeração.
"Fiquei sabendo do programa ontem, minha colega de trabalho tinha visto a fila e me contou", disse Maria José de Oliveira Silva, 29, que mora no Jardim Orion (zona sul) e paga aluguel. Ela chegou às 13h15, e foi para o fim da fila. "Quando é coisa boa, a gente nunca fica sabendo", disse Joana Galarza Alipuz, também na fila.
Engrossada pelos interessados de última hora e pelos camelôs, a fila "comeu" uma pista da estrada e acabou deixando para trás os membros das associações, que tiveram que pegar um número de senha e esperar na fila.
"Isso é um absurdo, essas pessoas nunca participaram de nada. São um lixo genético", disse João Sebastião Ferreira, presidente da Sociedade dos Amigos das Adjacências da Estrada de Itapecerica, enquanto tomava chope em um bar ao lado do posto de inscrições.
Apesar dos protestos, Ferreira ajudou a chamar atenção sobre a fila, ao soltar alguns rojões quando chegou ao local, às 9h30, com uma comitiva de 480 pessoas. "Sou classe média, tenho casa própria, mas gosto de ajudar as pessoas", disse ele, que tem uma empresa de reforma de máquinas.
Em menor grau, os problemas ocorridos ontem na estrada de Itapecerica ocorreram em outros 26 postos espalhados pela cidade de São Paulo onde o prazo de inscrições também terminou ontem. Ao todo, a CDHU vai distribuir 11.614 apartamentos, em 21 empreendimentos pela cidade.



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