São Paulo, quarta, 11 de março de 1998

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Bips e celulares ajudaram na prisão

da Reportagem Local

O uso de tecnologia -bips e telefones celulares- ajudou e prejudicou a gangue da batida. Se os equipamentos eram úteis para garantir a segurança das operações, foi com o "grampo" dos bips e dos celulares que a polícia chegou até os criminosos.
Os membros da gangue se comunicavam todo o tempo. Antonio Augusto e Robson tinham celulares. A namorada do primeiro, Maria Victória, que garantia não ter participado, acompanhava todo o movimento, recebendo chamadas do líder da gangue durante a madrugada, segundo a polícia.
Quando os criminosos possivelmente estavam sendo extorquidos pela polícia em Santos, foi ela quem enviou as mensagens para Ana Paula (namorada de Robson) pedindo o dinheiro para libertá-los. Quase todo o grupo estava na praia. Só Victória e Antonio Augusto conseguiram escapar da polícia.
As idas à praia eram constantes. Praticamente todo o dinheiro que conseguiam com os assaltos ia para a boa vida: finais de semana prolongados no Guarujá e Itapecerica da Serra, restaurantes e hotéis caros e até mergulho submarino. Robson tinha um Gol turbinado. Maria Victória acabara de comprar um Escort cinza.
Em seu depoimento à polícia, Antonio Augusto revelava uma certa "revolta do proletariado". Dizia que queria sentir "o prazer de consumir, de ter o que os outros têm".
Também Robson Garcia mostrava uma certa inveja das classes sociais mais altas. Quando questionado sobre o porquê de estuprar as vítimas, ele respondeu: "Queria saber se a mulher de classe média e alta era mais cheirosa e gostosa que a mulher pobre".
Família
Apesar de abusar das mulheres que assaltavam, se sabe que pelo menos três membros da gangue possuíam companheiras. Os bips são, na maior parte das vezes, recados de amor trocados entre os diferentes casais: Tatiane e Sérgio Baiza, Robson e Ana Paula, Antonio Augusto e Victória. Mesmo as mensagens que sugerem a extorsão são carinhosas: Robson sempre começa com "Mozão" (corruptela de "amorzão").
Era também uma empreitada com apoio familiar. Robson vivia com os sogros -é a eles que recorre quando se vê às voltas com a polícia (veja quadro ao lado).
Sérgio Baiza, seu cunhado, deixou um trabalho de gráfico para se integrar à gangue. Em seu depoimento, ele conta que na hora do jantar a família costumava comentar as notícias de jornais sobre o grupo, que Maria Victória recortava e guardava cuidadosamente.
As últimas mensagens deixadas pela gangue nos bips indicam o endereço da festa de aniversário da sogra de Sérgio Baiza. O grupo vinha sendo seguido pela polícia havia um mês. Com os retratos falados em mãos, os policiais perguntaram pelos criminosos nas proximidades da lanchonete que frequentavam no Jabaquara.
Foram reconhecidos por populares, que fizeram mais: apontaram a casa onde Antonio Augusto estava morando, na mesma vizinhança. Os policiais ficaram uma semana de "campana" em frente à casa. Quando o "grampo" nos celulares e bips foi feito, a polícia já tinha certeza de quem eram os ladrões. "Faltava encontrar o momento ideal para apanhá-los todos juntos", disse o delegado Edson Soares, que estava à frente dos investigadores.
Quando viram no bip o endereço da festa, os policiais resolveram agir. Antonio Augusto foi preso quando saía do carro, com um bolo nas mãos, presente para a sogra de Sérgio. Estava com a namorada Maria Victória.
Sérgio e Robson chegavam no mesmo momento, também de carro, e foram presos na sequência. A família entrou em pânico. A namorada de Robson, Ana Paula, grávida, disse que estava passando mal.
A sogra de Sérgio chorava. Nada podia ser feito: todos foram presos, à exceção do taxista Dinho, que não havia sido convidado para a festa.



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