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EXCLUSÃO DIGITAL
Entre os brasileiros que têm o equipamento, 79,77% são brancos, 15,32% são pardos e 2,42%, negros
No Brasil, apenas 12,5% têm computador
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O acesso a computadores reflete
as desigualdades econômicas e
sociais do Brasil, de acordo com o
"Mapa da Exclusão Digital", divulgado ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Apenas
12,46% dos brasileiros têm computador em casa. O percentual
dos que estão conectados à internet é ainda menor: 8,31%.
O estudo, baseado em dados de
2001, revela ainda uma situação
de "apartheid digital": para cada
negro/pardo com acesso à informatização existem 3,5 brancos na
mesma situação.
Entre os pardos, 4,06% possuem computador em casa. No
caso dos negros, esse percentual é
de 3,97%. Para os brancos, o índice chega a 15,14%. No Brasil, os
pardos representam 38,45% da
população, de acordo com o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os negros são 6,21% dos brasileiros. Os brancos, 53,74%.
A partir dos dados do estudo, é
possível traçar o seguinte perfil de
quem tem computador: branco,
morador de uma grande cidade
do Sudeste, com idade entre 40 e
50 anos, renda superior à media
da população e com mais de 12
anos de estudo formal.
"A chance de um branco ter
acesso a computador é muito
maior. Considerando condições
iguais de renda e anos de estudo
-ou seja, pessoas que são iguais
em tudo, menos na raça-, a possibilidade de um branco ter acesso à internet é 167% maior", afirmou Marcelo Neri, do Centro de
Políticas Sociais da FGV.
Essa diferença, segundo Neri,
justifica criar "programas de inclusão digital específicos" voltados para afrodescendentes.
Entre todos os que têm computador, 79,77% são brancos,
15,32% são pardos e 2,42%, negros. A taxa de inclusão dos índios é um pouco menor do que a
dos negros: 3,72%. No extremo
oposto estão os amarelos (orientais): 41,66% deles possuem computador em suas casas.
Política estrutural
Citando o exemplo do Fome Zero, Neri defende uma campanha
de doação de recursos para projetos de disseminação da informática. É um tipo de política social estrutural, diz, que deixa "raízes" na
vida dos beneficiados. "Não é só
ensinar a pescar, mas também financiar a compra da vara [o computador]", afirmou, sugerindo a
criação de linhas de microcrédito
para a aquisição de terminais.
Segundo Rodrigo Baggio, diretor do CDI (Comitê para Democratização da Informática), programas de inclusão digital devem
ser destinados a jovens "em situação de risco social" -desempregados e alvos do recrutamento de
grupos criminosos- das periferias dos centros urbanos.
Nesses locais, que já contam
com infra-estrutura como a luz
elétrica, existe uma carência de
profissionais de informática, afirma Neri. Ele defende a doação de
computadores, já que o seu preço
de revenda é baixo. A cada 18 meses o produto perde aproximadamente 50% do seu valor por causa
da renovação tecnológica.
Apesar de parcela pequena da
população ter acesso ao computador, o "Mapa da Exclusão Digital"
mostrou que, a cada quatro meses, cerca de 1 milhão de pessoas
entram no grupo dos "incluídos".
Por isso, embora não haja dados
oficiais para este ano, a FGV estima que os "informatizados" passaram de 17,3 milhões, em 2000,
para 26,7 milhões, em março deste ano -ou 15,43% da população.
Restariam ainda 149,4 milhões de
brasileiros excluídos.
A pesquisa utilizou dados da
Pnad (Pesquisa Nacional de
Amostras de Domicílio) de 2001 e
do Censo de 2000 -os primeiros
levantamentos em que o IBGE
pesquisou o acesso a computadores e à internet.
O mapa -uma iniciativa conjunta do CDI, da FGV, da empresa de informática Sun Microsystems e da Usaid (agência internacional de desenvolvimento dos
EUA)- mostrou também que as
mulheres têm um grau de inclusão pouco maior do que os homens -12,65% contra 12,26%.
"As mulheres deveriam ter taxas de acesso muito maiores porque têm atributos, como educação, superiores aos dos homens. É
uma brecha digital", diz Neri.
Quanto maior a escolaridade,
maior é o acesso ao computador.
Na faixa de 1 a 4 anos de estudo,
por exemplo, a taxa de inclusão é
de 4,84%. Já entre os que estudaram mais de 12 anos, é de 58,92%.
A escolaridade média dos incluídos é de 8,72 anos -quase o dobro da dos excluídos.
A renda média de quem tem
computador é de R$ 1.677, quase
quatro vez maior do que a dos excluídos, que é de R$ 452. O rendimento médio apurado pela Pnad
de 2001 era de R$ 569.
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