São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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SAÚDE

Para surgir reação, organismo deve entrar em contato mais de uma vez com substância; testes não são seguros

Uso de antibiótico pode causar alergia

MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

ALESSANDRA BALLES
DA REDAÇÃO

Uma unha encravada fez com que o publicitário Luiz Quesada, 48, descobrisse que é alérgico a benzetacil, um dos antibióticos mais comuns. Ele já havia tomado o medicamento outras vezes, mas sem apresentar reação.
"O médico me perguntou se eu era alérgico, e eu disse que não. Por isso fiquei surpreso quando os sintomas começaram", disse Quesada. O publicitário apresentou inchaço no local da injeção e coceira pelo corpo todo.
"Tive que sofrer para descobrir que era alérgico. Como é que a gente pode se prevenir?" De acordo com o médico alergologista Martti Anton Antila, não é possível. "Qualquer tipo de alergia precisa que o organismo entre em contato mais de uma vez com o elemento alergênico para se manifestar", afirma Antila, que é presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia.
"A alergia nunca acontece no primeiro contato, e a primeira reação é imprevisível."

Efeito colateral
A psicóloga Sônia Touro, 50, passou por uma experiência semelhante à de Quesada no ano passado. Para combater uma infecção urinária, o médico prescreveu um antibiótico. Após utilizá-lo, ela teve febre e ficou com o corpo vermelho e empipocado. Depois de uma semana, com a piora, a psicóloga procurou o hospital. "O médico diagnosticou reação alérgica ao antibiótico e receitou uma injeção de antialérgico. Já no dia seguinte eu estava bem."
De acordo com o médico infectologista Sergio Wey, do Hospital Israelita Albert Einstein, que atendeu Sônia Touro, a reação alérgica é, na verdade, um efeito colateral previsto nas bulas dos antibióticos. "Quando identificamos uma reação, o procedimento é suspender o medicamento imediatamente e alertar a pessoa para que nunca mais faça uso dele."
O infectologista ressalta ainda que os testes para detectar alergia não são 100% seguros e, por isso, na maioria dos casos, não são requisitados pelos médicos. "Se o resultado do exame for negativo e a pessoa ingerir novamente o medicamento, causando uma segunda reação, essa pode ter conseqüências muito mais graves."
Em uma primeira reação a antibióticos, segundo Wey, os sintomas mais comuns são coceira, vermelhidão e inchaço. Já numa segunda manifestação, a alergia pode causar febre, convulsão e, em casos extremos, até a morte.
Apesar de serem exceção, os sintomas mais graves também podem aparecer já em uma primeira reação alérgica.
Justamente por medo de uma segunda reação alérgica, a estudante universitária Tayla Monteiro, 19, adotou o uso de bilhetes na bolsa e no material escolar avisando sobre a alergia.
A estudante descobriu o problema quando tinha cinco anos de idade, ao tomar um antibiótico para combater uma crise de bronquite. Ela ficou com os olhos vermelhos e inchados. Desde então, Tayla Monteiro só faz uso de medicamentos homeopáticos.

Utilização
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não possui uma política específica para o uso de antibióticos. Segundo o órgão, como as bulas têm de especificar as indicações de uso, os efeitos colaterais e a dosagem, a agência só verifica os casos em que há reações não previstas pelo fabricante. Nessas ocorrências, o médico tem de notificar a Anvisa.
Apresentar reação alérgica a um determinado antibiótico não significa que a pessoa não poderá mais fazer uso desse tipo de medicamento. Os antibióticos são divididos em diversas classes (penicilina, sulfa, quinolona, eritromicina, entre outras). Ser alérgico a uma dessas classes não implica ter alergia a todas elas.


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