São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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Foco

"Aberto à visitação", casarão do largo do Boticário expõe sua situação de abandono

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O largo do Boticário, uma das mais importantes referências do Rio histórico, está em estado de abandono. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, a pintura e o gesso de seus casarões estão descascando e o limo sobe pelas paredes. Pequenas plantas nascem nas brechas das rachaduras da fachada.
A Folha visitou o mais imponente dos casarões. Localizado no centro do largo, é um edifício pintado de laranja e rosa, com janelas azuis, e encontra-se "aberto à visitação" por um homem que habita o lugar e se diz íntimo da família proprietária do imóvel, vivendo ali "de favor". Ele recebe turistas e curiosos, pedindo contribuição ao final.
No corredor da entrada da casa, Leandro Felipe Pedro expõe objetos pessoais e utensílios domésticos. "Está tudo à venda. Se acharem caro, a gente diminui o preço."
Números raros e antigos da revista "Interview" e outras publicações (R$ 30 cada), chaleiras, luminárias, xícaras, enfeites domésticos e móveis pequenos estão entre os artigos pertencentes aos antigos proprietários do local, a família Bittencourt, proprietária do antes prestigiado jornal "Correio da Manhã", que parou de circular em 1974. As paredes internas do edifício estão sujas e com infiltrações, além de ostentarem molduras vazias, cujos quadros misteriosamente desapareceram. As estruturas de madeira estão desgastadas.
O vigilante Luís Felipe Pedro, que mora com o sobrinho Leandro no casarão, culpa o governo pela má conservação do prédio. "Por que eles não conversam? A proprietária não resolveu nada porque é um dever deles [do governo]." A Folha tentou entrevistar Sylbe Bittencourt, herdeira de quatro casarões do largo, mas ninguém atendeu à campainha de sua casa.
Uma das casas do local já foi ocupada ilegalmente por um grupo de sem-teto em 2006. Os invasores saíram no começo de 2008. Ainda assim, hoje, mendigos espalham-se no saguão principal durante a noite em busca de abrigo. A crítica teatral Bárbara Heliodora, moradora do largo desde 1960, reclama do abandono. "Há alguns anos, caiu um pedaço do muro que separa o largo do rio Carioca. Era bonito, todo de pedra. Puseram tudo de cimento."
O largo do Boticário é composto por sete casas construídas no início do século 19, e localiza-se no bairro do Cosme Velho, na zona sul do Rio. Ali residia o sargento-mor da colônia, Joaquim José da Silva Souto, militar reformado que conseguira a fama de boticário por dedicar-se a preparar unguentos e xaropes.
Em 1879, o largo passou a existir oficialmente. Eram oito as casas, sendo cinco térreas, duas assobradadas e uma com três níveis. No fim do século 19, essas casas haviam sido substituídas por outras de estilo indefinido e eclético, nada mais restando da época colonial.

FELIPE CARUSO Colaboração para a Folha, no Rio



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