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Foco
"Aberto à visitação", casarão do largo do Boticário expõe sua situação de abandono
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O largo do Boticário, uma
das mais importantes referências do Rio histórico, está
em estado de abandono. Tombado pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Cultural, a pintura e o gesso de seus casarões
estão descascando e o limo sobe pelas paredes. Pequenas
plantas nascem nas brechas
das rachaduras da fachada.
A Folha visitou o mais imponente dos casarões. Localizado no centro do largo, é um
edifício pintado de laranja e
rosa, com janelas azuis, e encontra-se "aberto à visitação"
por um homem que habita o
lugar e se diz íntimo da família proprietária do imóvel, vivendo ali "de favor". Ele recebe turistas e curiosos, pedindo contribuição ao final.
No corredor da entrada da
casa, Leandro Felipe Pedro
expõe objetos pessoais e
utensílios domésticos. "Está
tudo à venda. Se acharem caro, a gente diminui o preço."
Números raros e antigos da
revista "Interview" e outras
publicações (R$ 30 cada),
chaleiras, luminárias, xícaras,
enfeites domésticos e móveis
pequenos estão entre os artigos pertencentes aos antigos
proprietários do local, a família Bittencourt, proprietária
do antes prestigiado jornal
"Correio da Manhã", que parou de circular em 1974.
As paredes internas do edifício estão sujas e com infiltrações, além de ostentarem
molduras vazias, cujos quadros misteriosamente desapareceram. As estruturas de
madeira estão desgastadas.
O vigilante Luís Felipe Pedro, que mora com o sobrinho
Leandro no casarão, culpa o
governo pela má conservação
do prédio. "Por que eles não
conversam? A proprietária
não resolveu nada porque é
um dever deles [do governo]."
A Folha tentou entrevistar
Sylbe Bittencourt, herdeira
de quatro casarões do largo,
mas ninguém atendeu à campainha de sua casa.
Uma das casas do local já foi
ocupada ilegalmente por um
grupo de sem-teto em 2006.
Os invasores saíram no começo de 2008. Ainda assim, hoje,
mendigos espalham-se no saguão principal durante a noite
em busca de abrigo.
A crítica teatral Bárbara
Heliodora, moradora do largo
desde 1960, reclama do abandono. "Há alguns anos, caiu
um pedaço do muro que separa o largo do rio Carioca. Era
bonito, todo de pedra. Puseram tudo de cimento."
O largo do Boticário é composto por sete casas construídas no início do século 19, e
localiza-se no bairro do Cosme Velho, na zona sul do Rio.
Ali residia o sargento-mor da
colônia, Joaquim José da Silva Souto, militar reformado
que conseguira a fama de boticário por dedicar-se a preparar unguentos e xaropes.
Em 1879, o largo passou a
existir oficialmente. Eram oito as casas, sendo cinco térreas, duas assobradadas e
uma com três níveis. No fim
do século 19, essas casas haviam sido substituídas por outras de estilo indefinido e
eclético, nada mais restando
da época colonial.
FELIPE CARUSO Colaboração para a Folha, no Rio
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