UOL


São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

Próximo Texto | Índice

METRÓPOLE DESORDENADA

Mapa mostra que 7,2 milhões vivem nos eixos de pobreza da Grande SP

"100% fronteira, 100% nada"

EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO

Marcos Guarany, líder comunitário e professor da escolinha de futebol, mostra os montes de entulho colocados há mais de dez dias na lateral do campo. Vem a lembrança da final da Copa do Mundo do ano passado, no Japão. O capitão da seleção brasileira ergue a taça. Na sua camiseta está a frase: "100% Jardim Irene".
"Este é o campo em que o Cafu jogava quando começou aqui no Irene. Hoje está neste estado, neste lixo. Não dá para jogar", explica o professor. Melhorar o local é uma reivindicação dos moradores há anos. A situação, porém, arrasta-se mesmo depois do Mundial. "Isto aqui é 100% fronteira, 100% nada."
A área de terra batida, em que 380 crianças jogam futebol com apoio da Fundação Cafu, fica na fronteira de São Paulo com o Embu. A fundação pede a construção de um centro esportivo municipal no terreno. Conseguiu que São Paulo tirasse o entulho do córrego que divide os municípios e que fornecesse as telas para construir os muros de contenção.
Na semana passada, a administração do Embu, onde fica o campo, ainda não havia recolhido o entulho nem fornecido pedras e mão-de-obra. Segundo a Prefeitura do Embu, os trabalhos vão recomeçar nesta semana e o centro vai ser construído. Assim mesmo, Guarany olha para a sujeira na área com decepção. "Se para melhorar uma fronteira conhecida dá esse trabalho, imagine como é difícil para o resto...".
Levantamento inédito do CEM-Cebrap (Centro de Estudos da Metrópole do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) interpreta em números as áreas contínuas de pobreza da Grande SP. Nelas vivem 7,2 milhões de pessoas, ou seja, 41% da população.
Essas eixos abrigam 57,5% dos que vivem em regiões de privação social na região metropolitana, ou seja, naquelas em que os chefes de casa têm baixa renda e escolaridade e em que há forte presença de crianças e adolescentes.
Os grandes eixos de pobreza chamam a atenção sobretudo por serem o retrato do desenvolvimento metropolitano desordenado, que empurra os mais pobres para as regiões fronteiriças. Desde os anos 70, São Paulo expulsa os de menor renda de seu centro.
Em regra, as cidades dialogam com o Estado e com o governo federal, mas não entre si. Os problemas nas fronteiras são uma evidência de que, em tantos casos, prevalece o raciocínio do "por que vou fazer algo se o eleitor da outra cidade é que vai usufruir?".



Próximo Texto: Ministério quer diálogo entre as cidades
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.