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Em silêncio, adolescentes fazem peregrinação
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles vão chegando quietos, cabisbaixos, alguns de gorro, outros
de moletom para se proteger da
tarde fria e cinzenta. Estão quase
uniformizados, com suas calças
jeans de boca larga arrastando no
chão meio molhado pela garoa.
Estão tristes, e sua tristeza se
manifesta em flores, bilhetinhos,
velas coloridas e nas muitas frases
pichadas nas árvores, pedras e
calçadas da praça onde tudo
aconteceu.
Os nomes dos amigos aparecem
em tinta branca, vermelha, amarela: Nana, Ro, Dru, Chico, Vivi,
Didi, Tatá, Juana, Bé, Gabi... Todos eles passaram por ali para homenagear o Gui, o Alemãozinho.
A grande faixa amarrada entre
dois postes diz tudo: "É fácil lembrar quando se tem memória, difícil esquecer quando se tem coração. Alemãozinho, saudade..."
Do outro lado da rua estão o
banco e a árvore junto aos quais
Guilherme Mendes de Almeida,
15, o Gui, o Alemãozinho, foi
morto com cinco tiros por quem,
supostamente, deveria dar segurança à área.
Ontem, aquele canto da praça
virou local de peregrinação de dezenas de adolescentes abalados
pela tragédia que levou embora
um jovem igual a eles.
Meio ao longe, dois rapazes que
moram por ali passeiam com seus
cachorros. Leonardo, 17, não era
amigo do Gui, mas conhecia o garoto. "É uma turma tranqüila, que
não incomodava ninguém. Não
havia motivo para o que aconteceu." Arthur, 18, caminha com
seus cães todos os dias na praça:
"Nunca vi confusão. Eles ficavam
aqui na boa. Um absurdo um cara
armado que deveria dar proteção
fazer o que fez."
Amigo de todos
Bia e Dea, 15, chegam de mansinho, com uma gérbera e um bilhetinho nas mãos. Sentam-se no
chão perto da árvore onde já há
outras manifestações de carinho,
e lêem em voz baixa um bilhete
para o Gui, enquanto depositam a
flor. Não querem conversa. Dizem apenas que o Gui era "tranqüilo, um menino super do bem,
amigo de todo mundo".
A mesma coisa afirma Paula, 16.
"Ele não devia nada a ninguém.
Como todo adolescente, era um
pouco irritado, mas nada demais", diz a garota, também integrante da turminha que se reunia
na praça para conversar, falar de
skate e rap e combinar baladas na
vizinha Vila Madalena.
Às 15h, enquanto os adolescentes continuam fazendo suas homenagens e curiosos param para
ver ou para rezar, o pai de Guilherme, João Eduardo Mendes,
46, chega ao local. Abatido e um
pouco agitado, olha bem as flores
e bilhetes e ajoelha e reza por cinco minutos. Antes de ir embora,
desabafa: "Eu não quero que meu
filho vire um ídolo, um mártir.
Mas será mais um nome pedindo
que se acabe com a impunidade
que existe hoje. Eu quero apenas
justiça, mais nada. É linda a homenagem que essa garotada está
prestando ao Guilherme. Ele deve
estar feliz. Com certeza está".
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