São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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SEGURANÇA

Rosinha quer tropas federais em favelas, o que foi recusado; apoio ficará restrito a investigações do narcotráfico

Sem acordo, Exército não sai dos quartéis no Rio

SERGIO TORRES
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Os governos federal e do Estado do Rio não chegaram a acordo sobre o emprego de militares na repressão à criminalidade na região metropolitana do Rio de Janeiro. Após um mês de discussão, autoridades estaduais e federais anunciaram ontem que o apoio militar será apenas de inteligência e instrução. O Exército não ocupará nem ruas nem favelas.
Há duas versões para a falta de acerto. De acordo com o Palácio Guanabara, a recusa do Exército em ocupar favelas, como havia proposto a governadora Rosinha Matheus (PMDB), teria levado o Estado a rejeitar a oferta de presença ostensiva de tropas e tanques militares nas ruas e vias expressas da região metropolitana.
Já para o Palácio do Planalto, as tropas federais só não vão para as ruas do Rio porque Rosinha se recusou a assinar documento, exigido por lei, no qual reconheceria o "esgotamento da capacidade de ação" do Estado (leia ao lado).
Na quarta-feira passada, Rosinha e seu marido, o secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, ouviram dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na região Sudeste que as Forças Armadas não aceitariam combater narcotraficantes em favelas.
Essa era a reivindicação principal do governo do Estado. Rosinha e Garotinho queriam 4.000 militares destacados para atuar nos complexos de favelas do Alemão, da Maré e de São Carlos, nos morros do Borel e do Dendê e nas favelas do Jacarezinho, da Mangueira e Metral. São as oito áreas mais violentas da cidade, segundo a Secretaria de Segurança.
A represália à recusa militar foi anunciada ontem pelo governo estadual na reunião que discutiu, das 10h40 às 13h, a atuação do Exército no Rio. Estiveram com o casal Garotinho, no Palácio Guanabara (sede do governo estadual), os ministros José Viegas (Defesa), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) e o comandante do Exército, general Francisco Roberto de Albuquerque.
Viegas e Albuquerque expuseram o que o Exército planejava: ocupar as principais vias expressas (Linha Amarela, avenida Brasil e Linha Vermelha) e áreas mais perigosas com tropas e tanques. As ações em favelas seriam feitas pelas polícias Militar e Civil.
Acompanhada também de mais dois secretários (Jorge da Silva, de Direitos Humanos, e Astério Pereira dos Santos, de Administração Penitenciária), do comandante da PM (Renato Hottz) e do chefe de Polícia Civil (Álvaro Lins), Rosinha rejeitou a proposta.
A alegação dada foi a de que a ocupação ostensiva dos espaços públicos já acontecera outras vezes e não dera resultados. Além disso, para as autoridades estaduais, o Exército nas ruas daria à população a impressão de que o Estado estaria sob intervenção.
"Aqui no Rio não vai haver intervenção nem branca nem rosa. Aqui temos colaboração e entendimentos para que cada um cumpra o seu papel", disse Rosinha, em entrevista, após a reunião.
Ficou decidido que, ao Exército, caberá agir para recuperar armas militares em poder de criminosos, indo às favelas apenas em ações "pontuais" voltadas a esse fim. Anteontem, mais um quartel do Exército, o 8º Grupamento de Artilharia de Campanha Pára-Quedista, na Vila Militar (zona oeste), sofreu uma tentativa de invasão. Nenhuma arma foi roubada, segundo o CML (Comando Militar do Leste).
Em uma semana, foi a segunda invasão a uma unidade militar no Rio. Na madrugada do último dia 3, cinco homens roubaram do Depósito de Aeronáutica, na avenida Brasil (Bonsucesso, zona norte), 22 fuzis, uma pistola, quatro carregadores com 40 munições cada e uma Kombi.
Na reunião, ficou decidido ainda que a ação federal será de apoio e investigação, por meio de seu serviço de inteligência. O Exército instruirá tropas em formação pela PM. Também cederá ao Estado a lista de reservistas dispensados há pouco tempo. O Estado planeja contratar cerca de 2.000 deles para reforçar a PM.
Com o ministro da Justiça, ficou acertada a construção, ainda neste ano, de um presídio federal. O Rio também deverá ganhar uma delegacia da PF (Polícia Federal) em Volta Redonda (a 130 km do Rio) e 25 carros e 200 homens da Polícia Rodoviária Federal.


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