São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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SAÚDE

Pacientes que tentaram marcar consultas e os que realizariam procedimentos foram os principais prejudicados ontem

Greve reduz atendimentos em hospitais

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
DAS REGIONAIS

Sem acordo entre o governo e os trabalhadores da saúde, prossegue hoje em São Paulo a greve nos hospitais estaduais.
As pessoas que tentaram marcar consultas e aquelas que foram aos hospitais para os atendimentos eletivos -os que não necessitam de pronto-socorro- foram as principais prejudicadas.
"Faz mais de dois meses que venho aqui para tentar marcar consulta e não consigo. Sempre dizem que não tem ortopedista. Hoje é essa história de greve. Isso é um desrespeito. Principalmente com o idoso", disse Abília Correa Bazolli, 77 anos.
Vítima de um problema vascular que afeta as pernas, a aposentada conta que teve de deixar em casa o marido, de 85 anos e doente de câncer, para tentar, sem sucesso, marcar sua consulta.
Já Josefa Maria da Silva, 45, que precisa fazer cirurgia na mão e conseguiu marcar consulta para ontem no hospital do Servidor Público Estadual, também teve de voltar para casa. "É um sufoco marcar consulta. Agora não tem ninguém para atender."

Adesão
Segundo nota divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde, oito dos 60 hospitais estaduais tiveram o atendimento parcialmente suspenso ontem, a maioria deles na capital paulista.
Os principais afetados foram os hospitais da periferia da zona leste (Guianazes e São Mateus) e, na zona norte, o hospital de Vila Nova Cachoeirinha, todos com 40% dos atendimentos do pronto-socorro e ambulatório prejudicados, segundo a secretaria.
No interior, 20% dos atendimentos no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto foram suspensos. Enquanto esperava para ser atendida em uma fila do lado de fora do HC, a paciente Maria Francisca Pocaia, 37, desmaiou. Ela veio de São Sebastião da Grama para ser atendida e passou duas horas na fila, sob o sol. Após o desmaio, ela foi levada pela filha para a sombra, onde continuou aguardando atendimento.
O Sindsaúde (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo), entidade organizadora da greve, vinculado à CUT, faz avaliação diferente da do governo, que aponta um impacto muito maior da paralisação.
Segundo a entidade, 22 das 47 unidades administradas diretamente pelo Estado aderiram à greve. A maior paralisação, informou, foi na capital.
"Claro que afeta a população. Temos consciência disso", afirma Célia Regina Costa, 46, presidente do sindicato. Costa, que é oficial administrativa do hospital do servidor, diz que sabe o que é a espera -afirma necessitar de uma mamografia urgente, mas só conseguiu marcar o procedimento para julho.
"É um sofrimento causado pela irresponsabilidade do Estado", disse a presidente sobre os adiamentos de consultas e marcações ocorridos ontem. Segundo ela, sucessivas tentativas de negociação fracassaram e os trabalhadores não têm outra maneira de pressionar o governo.
O sindicato realiza uma assembléia na manhã de hoje, na frente da Assembléia Legislativa, em São Paulo, para debater os rumos da paralisação.
Não há perspectiva de que as reivindicações sejam acolhidas pelo governo a curto prazo.
Sobre o pedido de aumento de 30% sobre os vencimentos (salário base com gratificações), a Secretaria de Estado da Saúde promete uma resposta só para 20 de maio. Na data, deve ter uma nova avaliação do limite de gastos imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal, informou.
O Sindicato dos Médicos, que representa 15 mil profissionais, também aderiu à greve. Segundo seu presidente, José Erivalder Oliveira, os profissionais precisam de um reajuste ainda maior. Querem que os vencimentos aumentem dos cerca de R$ 1.100,00 atuais para R$ 3.161,16, um incremento de 187,3%. "É uma reivindicação histórica nossa", diz Oliveira. Ele calcula, ainda, que seria necessário aumentar em 20% o número de profissionais do Estado para melhorar o atendimento.

Ribeirão Preto
No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (314 km de SP), um dos locais mais afetados pela greve, segundo o movimento de greve, 50% dos 3.300 funcionários do HC pararam ontem.
O superintendente do hospital, Milton Roberto Laprega, 56, afirmou que nem funcionários nem pacientes gostam de greve, mas que o movimento é um direito dos trabalhadores. "Por menos que traga prejuízos, o paciente é sempre o maior prejudicado", afirmou Laprega. (FABIANE LEITE, AURELIANO BIANCARELLI, MARCO DE CASTRO E ADRIANA MATIUZO)


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