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SAÚDE
Pacientes que tentaram marcar consultas e os que realizariam procedimentos foram os principais prejudicados ontem
Greve reduz atendimentos em hospitais
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
DAS REGIONAIS
Sem acordo entre o governo e
os trabalhadores da saúde, prossegue hoje em São Paulo a greve
nos hospitais estaduais.
As pessoas que tentaram marcar consultas e aquelas que foram
aos hospitais para os atendimentos eletivos -os que não necessitam de pronto-socorro- foram
as principais prejudicadas.
"Faz mais de dois meses que venho aqui para tentar marcar consulta e não consigo. Sempre dizem que não tem ortopedista. Hoje é essa história de greve. Isso é
um desrespeito. Principalmente
com o idoso", disse Abília Correa
Bazolli, 77 anos.
Vítima de um problema vascular que afeta as pernas, a aposentada conta que teve de deixar em
casa o marido, de 85 anos e doente de câncer, para tentar, sem sucesso, marcar sua consulta.
Já Josefa Maria da Silva, 45, que
precisa fazer cirurgia na mão e
conseguiu marcar consulta para
ontem no hospital do Servidor
Público Estadual, também teve de
voltar para casa. "É um sufoco
marcar consulta. Agora não tem
ninguém para atender."
Adesão
Segundo nota divulgada pela
Secretaria de Estado da Saúde, oito dos 60 hospitais estaduais tiveram o atendimento parcialmente
suspenso ontem, a maioria deles
na capital paulista.
Os principais afetados foram os
hospitais da periferia da zona leste
(Guianazes e São Mateus) e, na
zona norte, o hospital de Vila Nova Cachoeirinha, todos com 40%
dos atendimentos do pronto-socorro e ambulatório prejudicados, segundo a secretaria.
No interior, 20% dos atendimentos no Hospital das Clínicas
de Ribeirão Preto foram suspensos. Enquanto esperava para ser
atendida em uma fila do lado de
fora do HC, a paciente Maria
Francisca Pocaia, 37, desmaiou.
Ela veio de São Sebastião da Grama para ser atendida e passou
duas horas na fila, sob o sol. Após
o desmaio, ela foi levada pela filha
para a sombra, onde continuou
aguardando atendimento.
O Sindsaúde (Sindicato dos
Trabalhadores Públicos da Saúde
no Estado de São Paulo), entidade
organizadora da greve, vinculado
à CUT, faz avaliação diferente da
do governo, que aponta um impacto muito maior da paralisação.
Segundo a entidade, 22 das 47
unidades administradas diretamente pelo Estado aderiram à
greve. A maior paralisação, informou, foi na capital.
"Claro que afeta a população.
Temos consciência disso", afirma
Célia Regina Costa, 46, presidente
do sindicato. Costa, que é oficial
administrativa do hospital do servidor, diz que sabe o que é a espera -afirma necessitar de uma
mamografia urgente, mas só conseguiu marcar o procedimento
para julho.
"É um sofrimento causado pela
irresponsabilidade do Estado",
disse a presidente sobre os adiamentos de consultas e marcações
ocorridos ontem. Segundo ela,
sucessivas tentativas de negociação fracassaram e os trabalhadores não têm outra maneira de
pressionar o governo.
O sindicato realiza uma assembléia na manhã de hoje, na frente
da Assembléia Legislativa, em São
Paulo, para debater os rumos da
paralisação.
Não há perspectiva de que as
reivindicações sejam acolhidas
pelo governo a curto prazo.
Sobre o pedido de aumento de
30% sobre os vencimentos (salário base com gratificações), a Secretaria de Estado da Saúde promete uma resposta só para 20 de
maio. Na data, deve ter uma nova
avaliação do limite de gastos imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal, informou.
O Sindicato dos Médicos, que
representa 15 mil profissionais,
também aderiu à greve. Segundo
seu presidente, José Erivalder Oliveira, os profissionais precisam
de um reajuste ainda maior. Querem que os vencimentos aumentem dos cerca de R$ 1.100,00
atuais para R$ 3.161,16, um incremento de 187,3%. "É uma reivindicação histórica nossa", diz Oliveira. Ele calcula, ainda, que seria
necessário aumentar em 20% o
número de profissionais do Estado para melhorar o atendimento.
Ribeirão Preto
No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (314 km de SP), um
dos locais mais afetados pela greve, segundo o movimento de greve, 50% dos 3.300 funcionários do
HC pararam ontem.
O superintendente do hospital,
Milton Roberto Laprega, 56, afirmou que nem funcionários nem
pacientes gostam de greve, mas
que o movimento é um direito
dos trabalhadores. "Por menos
que traga prejuízos, o paciente é
sempre o maior prejudicado",
afirmou Laprega.
(FABIANE LEITE, AURELIANO BIANCARELLI, MARCO DE CASTRO E ADRIANA MATIUZO)
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