São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006

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PASQUALE CIPRO NETO

"Metade dos docentes que..."

Não é repeteco da semana passada, não, caro leitor. Na última coluna, tratei da concordância do verbo com o sujeito formado por expressões partitivas, como "a maioria dos/das", "grande parte dos/das", "a maior parte dos/das", "metade (ou "mais da metade') dos/das" etc.
Como vimos, na língua padrão predomina a concordância com o núcleo da expressão ("metade", "maioria", "parte" etc.), ou seja, predomina a flexão do verbo no singular, mas não faltam registros (sobretudo nos textos literários) em que o verbo concorda com o especificador do núcleo.
Não custa relembrar: a opção pelo verbo no singular ("Metade dos eleitores não compareceria se o voto não fosse obrigatório") enfatiza a noção de grupo, de conjunto. A concordância com "eleitores" ("Metade dos eleitores não compareceriam se..."), possível, mas não freqüente, gera ênfase sobre os formadores do grupo, que são justamente os eleitores.
Posto isso, vamos a outro ponto da questão, que, durante a semana, foi objeto de muitas mensagens dos leitores: como fica o verbo quando surge um "que" depois de uma das expressões citadas ("a maioria dos/das... que")? Suponhamos um caso como este: "A maioria das pessoas que vot...". Como ficamos: "votou" ou "votaram"? Tanto faz? Ou depende?
Pois é, caro leitor, a presença da expressão "a maioria das pessoas" pode fazer muita gente supor que seja possível flexionar o verbo "votar" no singular (em concordância com "maioria") ou no plural (em sintonia com "pessoas"), mas agora a questão é um pouco diferente, já que o relativo "que" se refere especificamente a "pessoas", ou seja, recupera esse termo, o que significa que o verbo "votar" só pode ser flexionado no plural, uma vez que ele se refere especificamente a "pessoas": "A maioria das pessoas que votaram no PT esperava/m um governo diferente dos anteriores".
O fato é que a proximidade de duas formas verbais ("votaram" e "esperava") diferentes quanto à flexão de número (a primeira no plural; a segunda no singular) faz muita gente achar que a coisa não vai bem. Esse desconforto talvez seja o que muitas vezes leva o falante a igualar a flexão de número dessas formas verbais (as duas no singular ou no plural).
Vejamos como fica isso. Se as duas formas verbais são postas no plural ("A maioria das pessoas que votaram no PT esperavam um governo diferente..."), não há problema, porque, como já vimos, se o sujeito é "a maioria das pessoas", o verbo ("esperar") concorda com "maioria" ("esperava") ou com "pessoas" ("esperavam").
O problema ocorre quando se opta pela igualdade da flexão no singular ("A maioria das pessoas que votou no PT esperava..."). O verbo "votar" fica no plural, já que se refere a "pessoas". No título desta coluna, o verbo que viria depois do "que" ficaria no plural: "Metade dos docentes que trabalham na rede pública já foi xingada (ou "já foram xingados')".
O que vimos aqui se aplica em relação ao verbo que vem depois do "que" da expressão "o número de" ("o número de empresas que...", por exemplo). Só há um detalhe: não há opção em relação ao segundo verbo. Veja este caso: "O número de empresas que se inscreveram ficou acima...". O verbo "ficar" só pode mesmo ficar no singular, por uma razão muito simples: foi o número que ficou acima do esperado. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras

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