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PASQUALE CIPRO NETO
"Metade dos docentes que..."
Não é repeteco da semana passada, não, caro leitor.
Na última coluna, tratei da concordância do verbo com o sujeito
formado por expressões partitivas, como "a maioria dos/das",
"grande parte dos/das", "a maior
parte dos/das", "metade (ou "mais
da metade') dos/das" etc.
Como vimos, na língua padrão
predomina a concordância com o
núcleo da expressão ("metade",
"maioria", "parte" etc.), ou seja,
predomina a flexão do verbo no
singular, mas não faltam registros (sobretudo nos textos literários) em que o verbo concorda
com o especificador do núcleo.
Não custa relembrar: a opção
pelo verbo no singular ("Metade
dos eleitores não compareceria se
o voto não fosse obrigatório") enfatiza a noção de grupo, de conjunto. A concordância com "eleitores" ("Metade dos eleitores não
compareceriam se..."), possível,
mas não freqüente, gera ênfase
sobre os formadores do grupo,
que são justamente os eleitores.
Posto isso, vamos a outro ponto
da questão, que, durante a semana, foi objeto de muitas mensagens dos leitores: como fica o verbo quando surge um "que" depois
de uma das expressões citadas ("a
maioria dos/das... que")? Suponhamos um caso como este: "A
maioria das pessoas que vot...".
Como ficamos: "votou" ou "votaram"? Tanto faz? Ou depende?
Pois é, caro leitor, a presença da
expressão "a maioria das pessoas" pode fazer muita gente supor que seja possível flexionar o
verbo "votar" no singular (em
concordância com "maioria") ou
no plural (em sintonia com "pessoas"), mas agora a questão é um
pouco diferente, já que o relativo
"que" se refere especificamente a
"pessoas", ou seja, recupera esse
termo, o que significa que o verbo
"votar" só pode ser flexionado no
plural, uma vez que ele se refere
especificamente a "pessoas": "A
maioria das pessoas que votaram
no PT esperava/m um governo diferente dos anteriores".
O fato é que a proximidade de
duas formas verbais ("votaram" e
"esperava") diferentes quanto à
flexão de número (a primeira no
plural; a segunda no singular) faz
muita gente achar que a coisa
não vai bem. Esse desconforto talvez seja o que muitas vezes leva o
falante a igualar a flexão de número dessas formas verbais (as
duas no singular ou no plural).
Vejamos como fica isso. Se as
duas formas verbais são postas no
plural ("A maioria das pessoas
que votaram no PT esperavam
um governo diferente..."), não há
problema, porque, como já vimos,
se o sujeito é "a maioria das pessoas", o verbo ("esperar") concorda com "maioria" ("esperava")
ou com "pessoas" ("esperavam").
O problema ocorre quando se
opta pela igualdade da flexão no
singular ("A maioria das pessoas
que votou no PT esperava..."). O
verbo "votar" fica no plural, já
que se refere a "pessoas". No título
desta coluna, o verbo que viria
depois do "que" ficaria no plural:
"Metade dos docentes que trabalham na rede pública já foi xingada (ou "já foram xingados')".
O que vimos aqui se aplica em
relação ao verbo que vem depois
do "que" da expressão "o número
de" ("o número de empresas
que...", por exemplo). Só há um
detalhe: não há opção em relação
ao segundo verbo. Veja este caso:
"O número de empresas que se
inscreveram ficou acima...". O
verbo "ficar" só pode mesmo ficar
no singular, por uma razão muito
simples: foi o número que ficou
acima do esperado. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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