São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2001

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URBANISMO

Capitais buscam parcerias com iniciativa privada e com o governo para recuperar áreas centrais degradadas

Revitalização em sete cidades custa R$ 3,7 bi

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA

Abandonados, caóticos e violentos. A imagem negativa dos grandes centros urbanos -reflexo da falta de investimentos- começa a despertar a atenção da sociedade e dos governantes. Sete capitais brasileiras estimam que a revitalização das áreas centrais exija a aplicação de cerca de R$ 3,78 bilhões nos próximos anos.
O valor é quase seis vezes maior do que o montante que dez capitais declaram ter gasto em projetos de restauração nas regiões centrais na última década, segundo levantamento da Agência Folha feito em secretarias e fundações culturais das cidades.
As obras atendem a uma tendência mundial, são consideradas necessárias e até econômicas porque, na maioria dos casos, fica mais barato restaurar do que construir algo novo. Poucas prefeituras têm dinheiro para fazer os projetos e buscam parcerias com a iniciativa privada.
O Rio de Janeiro, por exemplo, tem a maior estimativa de gastos: R$ 3 bilhões em oito anos. Nos próximos quatro anos, a prefeitura prevê investir R$ 100 milhões. O restante terá que vir dos governos estadual e federal, de empréstimos bancários e de empresários.
Salvador tem planos de investir R$ 500 milhões na restauração de 3.000 casarões no centro histórico, mas também depende de verba federal e dos empresários. Em oito anos, gastou R$ 100 milhões e concluiu a recuperação de mais de 500 casarões no Pelourinho.
A reportagem levantou os projetos de revitalização ou requalificação -termo preferido pelos urbanistas- dos centros em dez capitais (veja quadro).
A revitalização dos centros tem como objetivos básicos recuperar os monumentos históricos e o charme dos bairros que deram origem às cidades que hoje, em sua maioria, concentram enorme fluxo durante o dia e se tornam "área de ninguém" à noite.
A idéia é atrair de volta moradores para a área central e manter ruas limpas, iluminadas e policiadas durante 24 horas, integrando áreas comerciais e residenciais e garantindo equipamentos culturais e transporte eficiente.
Nas últimas eleições, a recuperação das áreas urbanas centrais esteve na plataforma de vários candidatos ao Executivo, mas pouco foi feito. Especialistas em urbanismo admitem que a questão tem um apelo de marketing eleitoral, mas dizem que a revitalização dos centros, antes de ser um modismo, é uma necessidade.
"As áreas centrais são justamente as mais organizadas e de melhor infra-estrutura de uma cidade", diz Regina Meyer, arquiteta, urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
"Os centros estão sucateados, mas têm a estrutura pronta, tornando mais econômico restaurar o que já existe do que construir algo novo", afirma o arquiteto César Barros, de Recife.
Os modelos adotados para a revitalização de áreas centrais variam de acordo com as cidades. Em São Paulo, por exemplo, as iniciativas partiram, em sua maioria, do poder público.
No Rio de Janeiro, o caminho foi inverso. Segundo o secretário de Urbanismo, Alfredo Sirkis, o poder público falou muito nos últimos 20 anos sobre a necessidade de redescobrir o centro, principalmente a área portuária, mas pouco fez. Os investimentos mais significativos vieram da iniciativa privada.


Colaboraram LUIS INDRIÚNAS, FERNANDA KRAKOVICS, LUÍS FRANCISCO, KÁTIA BRASIL, LÉO GERCHMANN, RONALDO SOARES, EDUARDO SCOLESE, FÁBIO GUIBU E ANDREA DE LIMA, da Agência Folha



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