São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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CONTRABANDO DE ARMAS

Vias federais, por onde passa a maior parte do armamento ilegal, cresceram 5.000 km em 30 anos

Número de policiais em rodovias cai 32%

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Em 30 anos, a frota de veículos no Brasil triplicou, a malha viária federal ganhou cerca de 5.000 novos quilômetros, mas o efetivo da PRF (Polícia Rodoviária Federal) diminuiu 32%. Hoje, o país possui 6.172 patrulheiros trabalhando nos 71.688 quilômetros de rodovias federais, por onde passam, segundo especialistas, cerca de 60% das armas que entram ilegalmente no Brasil.
Em 1974, a corporação tinha 9.112 patrulheiros. Na época, o contrabando de armas nas rodovias federais era muito pequeno, segundo o coordenador de operações da PRF, inspetor José Altair Benítez. Para ele, o efetivo deveria ser hoje de 18.220 patrulheiros.
"Há 30 anos, nossa preocupação era quase exclusivamente com o trânsito. Com a migração da criminalidade para as rodovias federais, passamos a atuar no combate ao narcotráfico, ao contrabando de armas e ao roubo de cargas, e o efetivo é menor."
Ele admite que a PRF não controla bem o contrabando de armas. Em 2003, a corporação apreendeu 2.121 armas e 76.909 munições. No mesmo período, só a Polícia Civil do Rio apreendeu 15.615 armas e 102.221 munições.
O especialista em armas Ronaldo Leão, do Iden (Instituto de Defesa Nacional), calcula que, para cada arma apreendida, "outras 30 passam". Mas, diz ele, só aumentar o efetivo da PRF não adianta.
"O Brasil é um país com dimensões continentais e cheio de rotas alternativas. Se a polícia apertar na estrada, as armas vão entrar pelo mar. Se apertar de novo, chegará por avião e, se continuar em cima, voltará para a estrada."
Para Leão, a solução seria adotar punições mais rigorosas para quem usa as armas para propósito criminoso. Atualmente, a pena varia de dois a 12 anos de prisão.
Para o sociólogo Antônio Rangel Bandeira, da ONG Viva Rio, o aumento do efetivo ajudaria a resolver o problema. Ele diz, porém, que a corrupção entre os policiais tem facilitado a entrada de armas. "É preciso criar uma ouvidoria para investigar a corporação."
Bandeira define o número de apreensões feitas pela PRF em 2003 como "vergonhoso". Ele defende que algumas rodovias federais sejam estadualizadas, já que as polícias locais, com efetivos maiores, possam reprimir o crime de modo mais competente.
Afirmou ainda que o contrabando de armas poderia ser reduzido se houvesse uma troca de informações entre as polícias e a cooperação das Forças Armadas.
O contrabando de armas que segue pelas rodovias federais vem principalmente do Paraguai. Para despistar a polícia, os traficantes costumam seguir por vias estaduais até chegar aos mercados consumidores do Rio e de São Paulo. As armas são escondidas em fundos falsos de caminhões e carros ou em bagageiros de ônibus, o que dificulta a fiscalização.
Segundo o delegado Valdinho Caetano, da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, o tráfico de armas em rodovias é chamado de "formiguinha". Segundo ele, os traficantes levam uma pequena quantidade por veículo para não chamar a atenção da polícia. Ele afirmou que grandes carregamentos chegam pelas vias aérea ou marítima.
Segundo a PRF e a PF, sete rodovias federais são as mais utilizadas pelos traficantes. As estradas apresentam problemas de efetivo.
Uma delas é a Presidente Dutra (Rio-SP). Com 402 km e 120 mil veículos por dia, a Dutra é policiada diariamente por 97 patrulheiros. O ideal seria 175, diz o inspetor Sérgio Max, coordenador de Recursos Humanos da PRF.
Max disse que a ausência de uma investigação prévia sobre o contrabando de armas -a PRF não apura crimes- faz com que o órgão dependa da "perspicácia" de policiais experientes para descobrir veículos que trazem armas e drogas. "Nosso trabalho seria facilitado se a Polícia Rodoviária pudesse realizar investigações, ter um efetivo maior e aparelhos de raios X para observar as cargas."


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