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CONTRABANDO DE ARMAS
Vias federais, por onde passa a maior parte do armamento ilegal, cresceram 5.000 km em 30 anos
Número de policiais em rodovias cai 32%
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Em 30 anos, a frota de veículos
no Brasil triplicou, a malha viária
federal ganhou cerca de 5.000 novos quilômetros, mas o efetivo da
PRF (Polícia Rodoviária Federal)
diminuiu 32%. Hoje, o país possui
6.172 patrulheiros trabalhando
nos 71.688 quilômetros de rodovias federais, por onde passam,
segundo especialistas, cerca de
60% das armas que entram ilegalmente no Brasil.
Em 1974, a corporação tinha
9.112 patrulheiros. Na época, o
contrabando de armas nas rodovias federais era muito pequeno,
segundo o coordenador de operações da PRF, inspetor José Altair
Benítez. Para ele, o efetivo deveria
ser hoje de 18.220 patrulheiros.
"Há 30 anos, nossa preocupação era quase exclusivamente
com o trânsito. Com a migração
da criminalidade para as rodovias
federais, passamos a atuar no
combate ao narcotráfico, ao contrabando de armas e ao roubo de
cargas, e o efetivo é menor."
Ele admite que a PRF não controla bem o contrabando de armas. Em 2003, a corporação
apreendeu 2.121 armas e 76.909
munições. No mesmo período, só
a Polícia Civil do Rio apreendeu
15.615 armas e 102.221 munições.
O especialista em armas Ronaldo Leão, do Iden (Instituto de Defesa Nacional), calcula que, para
cada arma apreendida, "outras 30
passam". Mas, diz ele, só aumentar o efetivo da PRF não adianta.
"O Brasil é um país com dimensões continentais e cheio de rotas
alternativas. Se a polícia apertar
na estrada, as armas vão entrar
pelo mar. Se apertar de novo, chegará por avião e, se continuar em
cima, voltará para a estrada."
Para Leão, a solução seria adotar punições mais rigorosas para
quem usa as armas para propósito criminoso. Atualmente, a pena
varia de dois a 12 anos de prisão.
Para o sociólogo Antônio Rangel Bandeira, da ONG Viva Rio, o
aumento do efetivo ajudaria a resolver o problema. Ele diz, porém,
que a corrupção entre os policiais
tem facilitado a entrada de armas.
"É preciso criar uma ouvidoria
para investigar a corporação."
Bandeira define o número de
apreensões feitas pela PRF em
2003 como "vergonhoso". Ele defende que algumas rodovias federais sejam estadualizadas, já que
as polícias locais, com efetivos
maiores, possam reprimir o crime
de modo mais competente.
Afirmou ainda que o contrabando de armas poderia ser reduzido se houvesse uma troca de informações entre as polícias e a
cooperação das Forças Armadas.
O contrabando de armas que
segue pelas rodovias federais vem
principalmente do Paraguai. Para
despistar a polícia, os traficantes
costumam seguir por vias estaduais até chegar aos mercados
consumidores do Rio e de São
Paulo. As armas são escondidas
em fundos falsos de caminhões e
carros ou em bagageiros de ônibus, o que dificulta a fiscalização.
Segundo o delegado Valdinho
Caetano, da Divisão de Combate
ao Crime Organizado da Polícia
Federal, o tráfico de armas em rodovias é chamado de "formiguinha". Segundo ele, os traficantes
levam uma pequena quantidade
por veículo para não chamar a
atenção da polícia. Ele afirmou
que grandes carregamentos chegam pelas vias aérea ou marítima.
Segundo a PRF e a PF, sete rodovias federais são as mais utilizadas pelos traficantes. As estradas
apresentam problemas de efetivo.
Uma delas é a Presidente Dutra
(Rio-SP). Com 402 km e 120 mil
veículos por dia, a Dutra é policiada diariamente por 97 patrulheiros. O ideal seria 175, diz o inspetor Sérgio Max, coordenador de
Recursos Humanos da PRF.
Max disse que a ausência de
uma investigação prévia sobre o
contrabando de armas -a PRF
não apura crimes- faz com que
o órgão dependa da "perspicácia"
de policiais experientes para descobrir veículos que trazem armas
e drogas. "Nosso trabalho seria facilitado se a Polícia Rodoviária
pudesse realizar investigações, ter
um efetivo maior e aparelhos de
raios X para observar as cargas."
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