São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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PASQUALE CIPRO NETO

"A todo-poderosa ministra..."


Os adjetivos pátrios compostos e os dias da semana ficaram como eram, ou seja, continuam com hífen


UMA DAS PERGUNTAS mais comuns dos leitores, depois da bendita reforma ortográfica, diz respeito ao hífen em palavras compostas formadas por dois elementos. Muita gente boa ficou perdida nessa história. Não é para menos. A lambança foi tanta, que... Bem, lambanças à parte, os leitores querem saber se, entre outros, os adjetivos pátrios e os compostos que nomeiam os dias da semana continuam com hífen. Nesses casos, caro leitor, não aconteceu nada de nada, ou seja, continua tudo como antes.
Adjetivos como "franco-argentino" e "luso-brasileiro" continuam obedecendo à velha regra, que determina que se liguem por hífen os adjetivos formadores desse tipo de composto, de que fazem parte um adjetivo pátrio ou um elemento de composição que dê ideia de procedência ("franco" e "luso", nos exemplos vistos) + um adjetivo pátrio ("argentino" e "brasileiro"). Cabem nesse preceito formas como "ítalo-americano", "greco-romano", "brasilo-argentino", "nipo-brasileiro", "sino-cubano", "teuto-chileno" etc.
Sim, já sei, alguns leitores querem saber o que significam alguns dos termos citados -sobretudo os dois últimos, creio. Vamos lá: "sino" (que vem do latim "Sina") se refere à China, portanto um tratado "sino-cubano" é um acordo firmado entre a China e Cuba; "teuto" (que também vem do latim) se refere aos teutões (ou teutônicos), ou seja, aos germânicos, alemães, portanto um tratado "teuto-chileno" é um acordo firmado entre a Alemanha e o Chile.
Convém lembrar que a flexão desses compostos obedece ao padrão, ou seja, só o segundo elemento sofre variação: tratado teuto-chileno, proposta teuto-chilena, tratados teuto-chilenos, propostas teuto-chilenas. Convém lembrar também que, nos casos em que elementos de composição como "sino-", "nipo-", "teuto-" ou "franco-" se juntam a outros elementos de composição, como "-fobia", "-filia" ou "-latria", não há hífen: "francofobia" (aversão à França ou aos franceses e a seus hábitos e cultura); "anglolatria" (veneração da Inglaterra etc.); "teutofilia" (predileção por ideias alemãs).
A última edição do "Vocabulário Ortográfico", da ABL (a edição pós-reforma, lançada em março), finalmente traz (ufa!) a palavra "afrodescendente", grafada sem hífen. O "Houaiss" (em sua edição única) e o "Aurélio" (em sua edição de 1999) não registram esse vocábulo, de uso mais do que comum. Não se trata de adjetivo pátrio composto, mas da soma do elemento de composição "afro-" com a palavra "descendente", caso em que, por analogia com o que se observa na formação de outros compostos ("lusofalante", por exemplo), não se emprega o hífen.
Antes que me esqueça, repassemos os dias da semana, que ficaram como eram: "terça-feira", "quarta-feira" etc. Também ficaram como eram palavras como "couve-flor", "decreto-lei", "tenente-coronel", "cirurgião-dentista", "azul-escuro", "ano-luz", "primeiro-ministro" etc.
Por fim, respondo de uma só vez a duas perguntas (de muitos leitores) sobre o hífen e a flexão de "todo-poderoso". A dúvida sobre o hífen acaba de ser eliminada (o composto continua com hífen). Em relação à flexão, basta aplicar a regra básica da flexão dos adjetivos compostos: não se flexiona o primeiro elemento. Moral da história: o todo-poderoso ministro, a todo-poderosa ministra, os todo-poderosos ministros, as todo-poderosas ministras. É isso.

inculta@uol.com.br


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