São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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SAÚDE

Médicos dizem que ritmo do corpo não varia com estações e derrubam desculpa mais comum para os quilos que surgem com o frio

Metabolismo não causa "peso de inverno"

Jorge Araújo/Folha Imagem
Paulo Costa, 42, dono do restaurante La Gália, mostra prato com a carne de avestruz, que entrou no cardápio para agradar a clientela que busca alimentos leves


MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

O gerente de vendas Ricardo Daniel Francisco, 30, reserva pelo menos uma noite por semana para jogar futebol com os amigos. Nas outras, vai à academia.
Mas é só a temperatura baixar para essa rotina saudável ir por água abaixo. "Basta uma chuvinha para todos desistirem. O frio é a desculpa ideal. Ninguém argumenta", diz ele. Resultado: Francisco termina o inverno com pelo menos três quilos a mais.
Assim como ele, a grande maioria das pessoas ganha peso no inverno, segundo os médicos. "Nosso metabolismo fica mais lento, por isso precisamos comer mais", é a desculpa mais usada.
A endocrinologista Valéria Cunha Campos Guimarães, presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) se diverte. "Seria um boa desculpa se não fosse uma bela mentira", afirma. "Nosso organismo é igual o ano inteiro. O que mudam são os nossos hábitos."
O que ela quer dizer é que os quilos extras vêm dos dias a menos de futebol e das guloseimas a mais. Simples assim.
"É verdade. Além de ficar mais preguiçoso para fazer exercícios, costumo comer mais. Eu e minha mulher adoramos comida mineira. Vamos a restaurantes e comemos sem culpa nesta época", assume Francisco. "Além disso há o fondue, o chocolate, as sopas etc."
"O fato é que o frio aumenta o desejo por alimentos mais quentes e gordurosos", diz Andréa Esquivel, colaboradora do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo. "Não é preciso uma mudança radical nos hábitos. Por exemplo, 500 calorias consumidas a mais ou gastas a menos por dia equivalem a meio quilo de gordura em uma semana. No fim do mês já são dois quilos."
Além disso, segundo ela, a grande maioria dos brasileiros relaciona a atividade física à estética e não à saúde. Como no inverno o corpo fica mais coberto, a tendência é relaxar um pouco.
O caso da médica Perla Rosenblat, 49, prova que a culpa não é do organismo. Durante os dois últimos anos ela seguiu uma firme dieta de reeducação alimentar e exercícios físicos. "Diferentemente do que costumava acontecer, nos invernos de 2002 e 2003 eu emagreci", afirma.
E aquela teoria que diz que para manter a temperatura do corpo em 36C o organismo consome mais energia e, por isso, precisamos comer mais? "Não dá para comparar o aumento do gasto calórico para manter a temperatura do corpo no Brasil com o que ocorre no resto do mundo, porque aqui não temos um inverno tão rigoroso a ponto de haver essa alteração", diz Mário Carra, da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade).
Ele continua: "E mesmo em lugares como a Rússia ou o Alasca, onde o frio é realmente forte, o consumo de uma maçã a mais já seria o suficiente para manter o balanço e repor o que foi gasto a mais. O inverno influencia psicologicamente, não fisicamente".
Para quem quer evitar essa previsível oscilação de peso, a receita é simples, segundo Antônio Roberto Chacra, professor titular de endocrinologia da Unifesp. "O principal é prestar atenção à alimentação. Os carboidratos -que incluem os doces - são os vilões quando o assunto é peso", diz ele.
E para desespero do público feminino, ele faz mais um alerta: "Apesar de os quilinhos a mais no inverno não serem considerados prejudiciais à saúde, vale lembrar que o efeito sanfona não é bom. As mulheres sabem: dá estrias".


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