São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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VIOLÊNCIA

Segundo policiais, quadrilhas disputam domínio de bocas-de-fumo na divisa com Guarulhos

Guerra do tráfico mata 35 na zona norte de SP

DO "AGORA"

Uma disputa pelo controle dos pontos-de-venda de droga na divisa da capital paulista com Guarulhos (Grande São Paulo) causou a morte de pelo menos 35 pessoas nos meses de maio e junho.
O dado foi obtido por intermédio de um levantamento feito pela reportagem em ocorrências registradas em três delegacias.
Principalmente no 73º DP, distrito que atende a maior parte dos bairros paulistanos que fazem divisa com Guarulhos, os policiais civis encarregados de investigar esses homicídios -todos eles proibidos de dar entrevistas pela Secretaria da Segurança Pública- afirmam haver uma guerra entre traficantes na região.
Nas palavras dos criminosos, as "pás" (quadrilhas) estão disputando as "biqueiras" (bocas-de-fumo). Com o controle de novos pontos, os traficantes também conquistariam prestígio dentro das facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), as duas maiores do Estado.
O front dessa guerra seria um trecho da rodovia Fernão Dias, que vai da via Dutra até a última rua do bairro do Jaçanã. Do lado da capital, prevalece o PCC. Em Guarulhos, o CRBC.
O combate teria ficado ainda mais intenso na semana retrasada, quando foram assassinados um ex-cabo da PM -morador de Guarulhos- e o homem apontado como o chefe do tráfico na zona norte de São Paulo, o ex-presidiário e membro do PCC Cleanto Ribeiro de Souza, 34.
Com dinheiro da facção, Souza teria comprado três meses antes de sua morte a boca-de-fumo do Jardim Bela Vista, apontada como uma das mais rentáveis da cidade, movimentando aproximadamente R$ 30 mil por semana.
Depois do assassinato do traficante, o ex- PM Hélcio Luiz de Souza Goulart, 38, foi seqüestrado, torturado e morto, no dia 30, por aliados de Souza.
Além do ponto-de-venda do Jardim Bela Vista, o tráfico do Vale dos Machados também renderia cerca de R$ 120 mil por mês.
Controlada por dois irmãos ligados ao PCC, a boca-de-fumo venderia cerca de 2 kg de cocaína por semana, segundo avaliação de policiais de Guarulhos.
A disputa na região teria feito o traficante Francisco Deostenes de Amorim Araújo, conhecido como Chiclete, deixar o país nos últimos meses para não ter de pagar o chamado "pedágio" ao PCC.
O "pedágio" é estipulado quando os chefes da facção concordam por algum motivo em não tomar um ponto-de-venda. O traficante local passa então a ter de depositar R$ 500 por mês em contas ligadas a presos do PCC recolhidos na "torre" -apelido dado pelos criminosos à Penitenciária Orlando Brando Filinto, em Iaras (282 km de SP). (ANDRÉ CARAMANTE)


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